Como a condenação de Lula pelo juiz da Lava-Jato pode mudar completamente as eleições de 2018.
Cristóvão Borba Soares*
Faltando pouco mais de um ano para as eleições presidenciais de 2018, as peças do xadrez político começam a se mover e os nomes mais fortes para a disputa começam a pensar em estratégias para alcançar o Planalto. Prometendo ser a eleição mais turbulenta desde 1989, quando vinte e dois candidatos pleitearam a vaga de Presidente da República, a eleição de 2018 pode não ter tantos presidenciáveis, mas nem por isso será menos polêmica. A pré-campanha e as articulações já dão uma prévia do que está por vir.
De Jair Bolsonaro representando a direita à Marcelo Freixo disputando pelo PSOL; passando por Álvaro Dias como pré-candidato do recém-reformulado Podemos à Marina Silva (lentamente mostrando seu desejo de concorrer novamente, agora pelo seu próprio partido, a Rede Sustentabilidade); chegando a Ciro Gomes pelo PDT e Lula pelo Partido dos Trabalhadores, não faltam nomes para pleitear o 3º andar do Palácio do Planalto. Se terão apoio (e estômago) para enfrentar uma campanha, já é outra história.
Como em política nada é certo, nos últimos dias a disputa pela Presidência sofreu seu mais recente revés: a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo juiz da 13ª Vara Criminal Federal de Curitiba, Sérgio Moro. Condenado a nove anos e meio no processo do triplex no Guarujá, o ex-presidente Lula recorre em liberdade no TRF-4, onde é provável que os desembargadores mantenham a decisão de Moro, tornando Lula impossibilitado de concorrer à presidência em 2018. Isso é um epílogo trágico para os planos do PT, que até então se estruturavam na recuperação do partido através da candidatura de Lula.
Alas do PT que já percebem o enfraquecimento de seu mais forte líder se movimentam a favor de uma possível não candidatura do partido nas presidenciáveis do ano que vem. O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) chegou a afirmar que na falta de Lula, o PT não deveria pensar em lançar candidato a presidente. Sabendo que a articulação nunca pára, a condenação (e consequente impugnação da candidatura do ex-presidente) pode criar um ambiente favorável para outro pré-candidato: Ciro Gomes.
Ex-governador do Ceará e ministro dos governos Itamar Franco e Lula, a candidatura de Ciro até então enfrentava um grande problema: ele e Lula, juntos, na mesma eleição, iriam dividir suas forças, em um momento em que a esquerda brasileira precisa mais do que nunca de união. Agora, com a provável saída do ex-presidente do jogo, Ciro pode finalmente conseguir tornar realidade uma de suas maiores ambições: uma coligação de centro-esquerda para o apoiar no pleito, tornando-o um dos mais fortes nomes caso o PT (e consequentemente Lula) decida, ao invés de lançar candidato próprio, ajudar um nome forte (Ciro, talvez?) a se eleger.
A possibilidade de uma chapa PDT-PT não surge do nada. Diversos membros de ambos os partidos, como o governador do Ceará, Camilo Santana (PT), já disseram que uma união entre Ciro e o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad seria um projeto a ser apoiado. A condenação de Lula só tornou essa possibilidade mais palpável. Resta saber se o Partido dos Trabalhadores, sempre protagonista, vai aceitar ficar em segundo plano.
Sérgio Moro, em sua ânsia para condenar Lula, fez o improvável: criou um ambiente favorável para a mais forte frente de centro-esquerda que o Brasil já viu.
*Cristóvão Borba Soares é aluno do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Viçosa e colaborou para Pragmatismo Político
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