Assassino confesso de Mayara Amaral diz que foi "movido pelo ódio"
Baterista que matou a musicista Mayara Amaral a marteladas diz que foi movido pelo ódio. Assassino, que tem uma namorada, mantinha um relacionamento escondido com a vítima. Investigação aponta que desentendimento ocorreu por causa de uma discussão envolvendo suposta contaminação por DST
A Polícia Civil do Mato Grosso do Sul indiciou o baterista e técnico em informática Luís Alberto Bastos Barbosa, de 29 anos, por latrocínio.
O inquérito, que chegou na segunda-feira ao Ministério Público, conclui que ele deu três marteladas na cabeça da musicista Mayara Amaral, de 27 anos, dentro de um motel na cidade de Campo Grande na madrugada do dia 25 de julho (relembre o caso aqui).
Especialistas afirmam que, mesmo que o crime cometido por Luís seja qualificado como homicídio ou feminicídio, há tantos agravantes (método cruel, sem chance de defesa à vítima e ocultação de cadáver), que, se for submetido a um júri popular, Luís terá poucas chances de se livrar da pena máxima de 30 anos, ainda mais sendo réu confesso.
Mesmo estando provado que Luís Alberto e Mayara tinham um relacionamento, e apesar de haver fortes indícios de que ele a matou em meio a uma discussão dentro do motel, a delegada Daniela Stainle resolveu indiciá-lo por latrocínio porque ele ficou com o carro e os equipamentos musicais da vítima. Outro indício de latrocínio apontado pela delegada: após atear fogo ao corpo em um terreno baldio, Luís Alberto procurou por Ronaldo Olmedo, o Cachorrão, um traficante com passagem pela polícia, para vender o carro de Mayara por 1 000 reais.
O crime
Luís Alberto confessou que matou a jovem por causa de uma briga entre ele e Mayara, com quem mantinha um relacionamento às escondidas, já que tem uma namorada.
A investigação aponta que o desentendimento ocorreu por causa de uma discussão envolvendo suposta contaminação por DST (doença sexualmente transmissível). A suspeita foi possível a partir da interceptação de e-mails trocados entre Mayara e Luís Alberto e entre ela e Fábio Benevides Gonzales, um tatuador conhecido como Loco Love, com quem a musicista se relacionava simultaneamente.
Fábio admitiu à delegada Gabriela Stainle, que presidiu o inquérito, que teve a doença e que poderia ter contaminado Mayara. A discussão no motel chegou ao ápice quando Luís Alberto disse à musicista que tinha receio de transmitir a doença para a namorada, e ela teria tido uma reação debochada. “Foi nesse rompante que peguei o martelo e desferi os golpes”, sustentou o baterista.
Entrevista
Em entrevista publicada na última edição da revista Veja, Luís Alberto contou detalhes sobre o crime. Confira trechos abaixo.
Conheci Mayara num bar chamado Drama, há três meses. Tocamos juntos e, primeiro, rolou uma amizade. Só depois de duas semanas nos beijamos. Tenho namorada, mas sentimos uma atração e não resistimos.
[…]
Pus a culpa no Cachorrão para me livrar. Achava que se envolvesse outras pessoas, minha pena seria menor. Como ele já tinha passagem pela polícia, menti que ele fez tudo. Mas, se olharem as digitais no cabo do martelo, vão ver que são minhas. Resolvi contar toda a verdade e enfrentar o que vem pela frente. Cometi um erro grave e quero pagar por ele.
[…]
Fui movido pelo ódio porque tínhamos discutido e ela debochou da minha namorada. Chamei-a de vagabunda e ela me bateu. Tive um ataque de fúria, tinha bebido e cheirado. Depois que tudo aconteceu, chorei por mais de duas horas seguidas.
[…]
Fiz tudo sozinho. Só procurei o Ronaldo (Cachorrão) e o Anderson para me livrar do carro. Eles compraram por 1 000 reais. Essa foi a única participação que tiveram no crime.
[…]
Desde que me dei conta de que matei a Mayara, sempre soube que seria pego. Estou arrependido. Queria pedir desculpas à família da Mayara e à minha. Por mais que ninguém vá acreditar, eu gostava dela. Minha vida está destruída. Eu ia me casar, estava procurando casa, dei entrada para sacar o FGTS. Agora, não sei o que será de mim. Quando fecho os olhos, vem a imagem da Mayara e o momento do crime. Não tenho religião, mas, à noite, na cela, eu grito por Deus.