Educação

“Linchamento doeu mais que o soco”, diz professora agredida por aluno

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“Alguém dá uma medalha pra esse aluno que meteu a porrada nessa professora canalha”. Esse foi apenas um dos comentários direcionados a Marcia Friggi após o espancamento. Estudante que a agrediu já foi denunciado por lesão corporal contra a própria mãe

A professora Marcia Friggi, 51 anos, virou manchete em todo o Brasil após publicar uma foto na qual aparecia com o olho roxo e ensaguentado causado por um soco de um aluno de 15 anos, em Santa Catarina.

Marcia tem recebido mensagens de solidariedade e, ao mesmo tempo, ameaças e mensagens de ódio.

Como se declara ativista cultural e divulgadora de livros feitos por mulheres, além de se posicionar contrária à redução da maioridade penal, Márcia recebeu centenas de mensagens contra seus posicionamentos políticos, publicados anteriormente em seu perfil pessoal.

Marcia diz que os ataques começaram após uma entrevista dada a uma rádio gaúcha. Segundo ela, os apresentadores do programa se concentraram em repercutir não só o caso da agressão em sala de aula, mas também os ataques feitos nas redes sociais em relação a seu posicionamento político. Houve bate-boca. O áudio foi parar na Internet e a professora passou a receber inúmeros xingamentos.

Em um das centenas de comentários recebidos, um usuário disse “alguém dá uma medalha pra esse aluno que meteu a porrada nessa canalha”. Outros a repudiaram por ter elogiado ovadas dadas contra o deputado Jair Bolsonaro.

A professora fez exame de corpo de delito na segunda e passa por tratamento psicológico. Ela apagou a foto na qual aparece com o olho roxo e fechou os comentários em sua página pessoal do Facebook. A imagem já passava dos 320 mil compartilhamentos quando foi retirada do ar. ”É o segundo soco, talvez o mais violento, que levei”.

Carreira

Professora há doze anos, Márcia conta ter nascido em uma família humilde no Rio Grande do Sul. Tentou se formar em pedagogia no início dos anos 1990, mas teve que abandonar o curso para poder pagar as contas como bancária.

Só pôde se formar no ensino superior em 2007, quando concluiu o curso de Letras e se especializou em linguística. “Eu m tornei professora pelo amor à literatura, pelos livros e pela educação”, conta.

Agressão contra a mãe

O aluno de 15 anos que agrediu Marcia conviveu durante a infância com um histórico de violência familiar. Em 2016, o mesmo jovem já havia sido denunciado por lesão corporal contra a própria mãe.

Quando era mais novo, o adolescente assistiu a mãe ser espancada pelo pai diversas vezes. Ele também apanhava do pai, que era alcoólatra, e chegou a ficar dois dias internado após levar uma surra.

Segundo a mãe, o jovem assistiu a uma entrevista da professora à TV e afirmou que está arrependido da agressão, que aconteceu quando ela pediu que mantivesse os livros em cima da mesa.

“Ele disse que, quando percebeu, já estava em cima da professora. Falou que não conseguiu se segurar”, diz. “Tenho medo de me culparem. Estou lendo as notícias no celular, uma pessoa disse que meu filho não merecia nem estar vivo. Eu não apoio o que ele fez, não sou mãe sem vergonha. Ele vai pagar por isso, mas não quero que nada de pior aconteça a ele.”

O garoto cumpriu trabalhos comunitários no ano passado por ter agredido um colega de sala. Como o jovem é reincidente, a promotora da Infância e Juventude de Indaial, Patrícia Dagostin Tramontin, disse que pedirá à Justiça a internação de até seis meses num Centro de Atendimento Socioeducativo Provisório (Casep), órgão destinado ao cumprimento de medidas socioeducativas por menores infratores.

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