Relações perigosas: Ministério Público Federal vai investigar ligação entre neonazistas brasileiros e o deputado Jair Bolsonaro
O Ministério Público Federal de Minas Gerais recebeu, no fim de julho, material que foi apreendido junto aos homens condenados pelo Tribunal Regional Federal por crime de apologia ao nazismo e corrupção de menor.
Dentro desse material está uma carta enviada pelo deputado federal Jair Bolsonaro a um dos condenados.
O MPF deverá analisar pen drives contendo imagens e filmes de apologia ao nazismo, registros em redes sociais, livros, fichas de inscrição ao movimento Pátria Livre, de cunho fascista, e principalmente a carta de Bolsonaro.
Dependendo do conteúdo da missiva e a relação entre o parlamentar e o neonazista, poderá ser aberta ação contra o deputado. Mas o processo segue em segredo de Justiça.
O material foi despachado ao MPF no dia 20 de julho de 2017 pelo juiz federal titular da 9ª Vara, Murilo Fernandes de Almeida.
O caso começou em 2013. Um rapaz aparecia simulando o enforcamento de um mendigo com correntes de aço numas das principais avenidas de Belo Horizonte. A foto do ato ignóbil ganhou as redes sociais e causou muita revolta (relembre aqui).
Uma ação penal foi movida na Justiça mineira contra três rapazes. Uma ampla investigação constatou que os envolvidos, e hoje condenados, mantinham verdadeira apologia à supremacia branca e ao nazismo em suas páginas nas redes sociais.
No perfil do rapaz no Facebook, onde aparecia a foto em que ele enforcava o mendigo, havia muitas citações e mensagens que pregavam discriminação e preconceito. Ele divulgava ideais nazistas e veiculava mensagens com conteúdo racista, incitava a violência e o preconceito contra minorias.
O réu principal foi condenado a oito anos de prisão pela juíza Raquel Vasconcelos Alves de Lima, em 18 de abril de 2016. Anteriormente, já havia sido preso duas vezes também por agressões e preconceito de gênero. Uma em Belo Horizonte, quando esfaqueou um homossexual na Praça da Liberdade. E outra em São Paulo, após ter agredido skatistas na avenida Paulista. Em ambos os casos acabou liberado após a prisão.
Testemunhas ouvidas pela Justiça Federal de Minas na ação penal pelos crimes de apologia ao nazismo e corrupção de menor disseram que o rapaz flagrado enforcando o mendigo se autodenominava “skinhead whitepowwer”.
O processo completo pode ser consultado em www.jfmg.jus.br número: 26863-20.2013.4.01.3800.
Esta não é a primeira vez que fica explícita a ligação entre pessoas que defendem o nazismo, a supremacia branca e que são contra pobres, homossexuais, negros e o pré-candidato a presidente.
Desde 2011, pelo menos, Bolsonaro vem recebendo amplo apoio desses grupos.
Em abril de 2011, um grupo capitaneado pelo movimento neonazista White Pride World Wide convocou um “ato cívico” em prol de Bolsonaro no vão livre do Museus de Artes de São Paulo (Masp).
“Vamos dar o nosso apoio ao único deputado que bate de frente com esses libertinos e comunistas!!! Será um ato cívico, portanto, levem a família, esposas, filhos e amigos”, diziam mensagens dos integrantes do grupo na internet.
Em dezembro do ano passado, um homem travestido de Hitler provocou muita confusão durante audiência pública na Câmara Municipal do Rio de Janeiro sobre escola sem partido.
Conhecido como Professor Marco Antonio, esse homem trajava paletó com broches em referência ao nazismo, portava um bigode e cabelo com franja à la Hitler.
Antonio é membro do grupo extremista Nacional Democracia (DAP) e filiado ao PSC, ex-partido de Bolsonaro, com quem aparece em algumas fotografias posando como cosplay de Hitler.
A adesão à página do Nacional Democracia (DAP) nas redes sociais é quase zero. Foi criada em 2013 e prega o amor à pátria e a Deus. Tem 263 ferozes seguidores. As principais postagens mostram homenagens ao coronel Brilhante Ustra, um dos responsáveis pelas torturas no Doi-Codi em São Paulo, durante a ditadura.
Ustra foi homenageado em discursos por Bolsonaro várias vezes na Câmara Federal.
Em 2015, a página do DAP criticava as ações de marketing do governo federal que tinha objetivo divulgar o uso de preservativos durante o carnaval, para evitar doenças sexuais. O autor escreveu: “Este é o lixo moral, que travestido de campanha de conscientização, faz claramente apologia ao homossexualismo, com uma série de mensagens subliminares. Observe a propaganda: “O carnaval está aí! É hora de testar, de brincar, de experimentar…”, testar o que?, brincar de que? experimentar o que?, o personagem sugerido é sempre o mesmo, um travesti. É com este lixo que gastam nossos impostos, induzindo ao homossexualismo num período onde o uso abusivo do álcool é um problema grave, soma-se a este a receita do experimentar o homossexualismo institucionalizado como ‘normal’ para este período”.
O crime de apologia ao nazismo está previsto na Lei Federal nº 9459, que estabelece pena de um a três anos de reclusão para quem “praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”.
Em 2016, uma jovem chamada Kelly Cristina, autodenominada Kelly Bolsonaro, realizou várias ações racistas. Nas redes sociais, publicou mensagem que foi considerada racista. “Em vez de cotas, deveriam dar passagens de volta pra África para aqueles que choram pelo passado que nem viveram”.
Violência. “O esquadrão da morte precisa caminhar novamente pelo Brasil” é o que está inscrito na principal foto de capa da página Eduardo Dias, que se diz um militarista assumido. Ele gerencia as páginas de Partido Militar Jundiaí e Partido Militar Jarinu, cidades da Região Metropolitana de São Paulo. Ele pede intervenção militar já ou Bolsonaro presidente da República.
O grupo skinhead Carecas do Brasil seção Pernambuco apoia Bolsonaro desde 2015. No mês de novembro daquele ano um rapaz com cabelos raspados, tatuagens e jaqueta de couro com o logotipo CBPE, com a figura de uma cabeça de leão transpassado por duas adagas em forma de xis, foi à recepção do deputado no aeroporto de Recife.
Embora não pregue o nazismo, a página do CBPE no Facebook apresenta post com mensagem tipicamente nazista: “Resistir pelo futuro de nossas crianças, skinhead Pernambuco, Carecas Pernambuco”.
O skinhead que aparece ao lado do filho de Bolsonaro no aeroporto de Recife exibindo a jaqueta do movimento, chegou a dizer para os repórteres no local que defendia a ditadura militar. Um outro amigo seu deu pistas sobre a linha que seguem no apoio a Bolsonaro: “Por que pode ser comunista e não pode ser nazista?”. Os dois defenderam também a censura.
Pelo Facebbok pipocam muitos perfis e páginas de apoio a Bolsonaro. A grande maioria faz apologia ao racismo, nazismo, preconceito de gênero. O “Direita Reacionária”, por exemplo, tem 3,4 mil seguidos e 3,2 likes. Essa página está compartilhando um evento do Prona, aquele partido político de Enéas Carneiro, que será realizado dia 19 em Copacabana, no Rio de Janeiro.
Esse evento visa captar assinaturas para que o Prona possa voltar à ativa. Enéas, o barbudo que falava em 30 segundos sua plataforma de governo, defendia a construção da bomba atômica e a exploração econômica do nióbio, um mineral que, segundo Enéas e também Bolsonaro, poderá salvar a economia brasileira.
A página “Direita Reacionária” foi criada em agosto de 2016. Seu criador afirma que ela existe para “desmascarar a Esquerda Socialista/Comunista que a anos (sic) nos enganou. Agora iremos virar o jogo e pôr (sic) a Direita no comando do país”.
Já a página “Bolsonaro Didático” apresenta 181 mil seguidores e vem recebendo 177 mil curtidas até o dia 17 de agosto. Um dos principais posts é sobre o ataque terrorista ocorrido em Barcelona, Espanha, neste dia 17 de agosto. “Ataque terrorista em Barcelona confirmado. Esperando a mídia culpar Donald Trump, Jair Bolsonaro, algum caminhão, carro, bicicleta e etc”.
Mas o cunho homofóbico da “Bolsonaro Didático” fica claro num ouro post nesta quinta-feira, dia 17. Há a foto de uma pessoa magra, com a seguinte legenda: “Se uma pessoa magra que acha que é gorda é considerada doente”. E sobre uma foto de um homem fazendo a barba e no espelho à sua frente aparece a face de uma mulher, com a legenda: “Por que um homem que acha que é mulher deve ser considerado normal?”
Rap de direita. No ano de 2014, um rapper denominado Mr. Gângster lançou uma música em homenagem a Bolsonaro. O rapper diz ter uma posição conservadora de extrema-direita. “Nem ele imaginaria / E agora pode vê / Que nem difamações / Da esquerda e da TV / Vai ofuscar a verdade… / Jair, o deputado, / O capitão Bolsonaro / Messias predestinado / É o início do seu legado / O líder nato / Inspiração da juventude, diz a letra de Gângster.
Esse jovem aparece na Internet também como “Luiz, o Visitante”. Com essa identificação, a música revela quase que a mesma letra. Somente com algumas modificações, sempre exaltando Bolsonaro como líder e como presidente.
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