Morte, morte, morte que talvez seja o segredo dessa vida
Eu não sei lidar com a morte. Acho que talvez nem saiba lidar com a possibilidade da morte, veja só como eu escrevo: possibilidade, como se não fosse a única a soberana certeza que temos, todos nós, aqui nessa Terra. É, eu não sei e, durante este ano, tenho percebido que não apenas não sei mas também que desgosto
Matê da Luz, Jornal GGN
As músicas são válvulas de escape para as dores rotineiras – e para aquelas as quais não há dimensão, tanto que latejam. Enquanto coração e mente não se alinham na mesma sintonia, mesmo que esteja há tanto exercitando ambos para este encontro necessário e de paz, musicalizar a dor é algo que fortalece o caminhar.
Eu não sei lidar com a morte. Acho que talvez nem saiba lidar com a possibilidade da morte, veja só como eu escrevo: possibilidade, como se não fosse a única a soberana certeza que temos, todos nós, aqui nessa Terra. É, eu não sei e, durante este ano, tenho percebido que não apenas não sei mas também que desgosto.
Sabe aquelas pessoas que conseguem lidar internamente com a perda, ou melhor, aquelas pessoas que nem chamam a morte de perda porque já trabalharam tanto o condicionamento mental que chegaram num nível de amor e desapego tão grande que entendem que não é por termos convivido com aquela pessoa que ela é nossa. Ninguém é nosso, de fato. Mesmo que o pronome possessivo diga absolutamente o contrário, meu ente querido que morreu não é de minha posse e, racionalmente é tão simples entender, então não perdi aquela pessoa. Também não perdi os momentos que compartilhamos, os sentimentos que promovemos, as histórias que escrevemos. O que, talvez e só talvez, dê pra afirmar é que quando alguém morre, morre com ela tudo o que não aconteceu.
E, de repente, quando essa pessoa é jovem, pronto. Nossa certeza cultural de que devemos nascer, viver e morrer, sendo que viver compreende determinadas fases naturais (criança-adolescente-adulto-velho), pronto, nossa certeza entra em looping de questionamento. A sua não? A minha sim.
Briguei com Deus há algum tempo. Briguei sim, e foi uma briga tão feia que desde lá nossa conexão tem encontrado maneiras potentes de se manifestar, porque olha, se tem algo que posso falar da minha vida individual é que, se existe mesmo esse Deus, olha, ele me adora.
Talvez, e só talvez, por me adorar é que ele entenda que eu preciso e quero desenvolver minha cabeça pra que ela encontre espaço no coração pra que sigam juntos nessa de, de repente, e só de repente, sentir a morte como algo natural.
Porque pra mim ainda não é, por mais bonitas que sejam as histórias espíritas, umbandistas, candoblecistas e até as católicas – nenhum contexto destes foi suficiente, ainda, pra acalmar meu coração que, mesmo muitos anos depois, ainda sente o corte frio da notícia que dá conta de, vez ou outra, o que é natural é uma mãe perder um filho porque ele morreu e ponto. E eu sei que isso é um problema meu, só meu, e que caminhar-hey.
Mas se tiver, você aí que me lê, um conforto, uma lição ou uma palavra que possa servir como amparo nesse passo, por favor, você pode colocar aqui?
Obrigada. Mesmo e muito.
[…]
E, enquanto isso, sigo escutando músicas, as que reúnem mente e coração em um só ecoar, que hoje é de saudade.