Educação

UERJ caminha para e extinção e preocupa comunidade acadêmica

Share

Comunidade acadêmica da Uerj teme o desmonte definitivo da universidade. Com início das aulas cancelado, e sem previsão para pagamento de professores, servidores e bolsas de estudantes, universidade caminha para extinção

Maurício Thuswohl, RBA

Com a sociedade civil e seus representantes impotentes frente à falência financeira do Rio de Janeiro, um ícone nacional da educação e da pesquisa agoniza em praça pública. Principal vítima da dificuldade enfrentada pelo governo de Luiz Fernando Pezão em honrar os compromissos orçamentários com o setor de ciência e tecnologia, a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), que tem quase 70 anos, está a um passo de fechar suas portas, segundo representantes da comunidade acadêmica.

A crise fez com que o início do ano letivo de 2017, inicialmente previsto para 1º de agosto, tenha sido cancelado. Na opinião da reitoria, dos professores e dos servidores da universidade, não existe a menor condição para a retomada das aulas, que agora não têm mais data para acontecer.

Professores e servidores da Uerj não recebem salários desde o pagamento da folha de abril, sem falar no 13º que também não foi pago. Bolsas de estudo e financiamentos para projetos de pesquisa também estão em atraso há vários meses. Tal situação levou os docentes, em assembleia realizada ainda em julho, a decidir pela greve se os pagamentos não fossem normalizados até o início de agosto.

Estamos recebendo em atraso há mais de um ano, desde fevereiro de 2016, quando o governo deixou de pagar os salários no segundo dia útil como sempre foi feito. Além disso, desde outubro do ano passado o governo começou a parcelar o pagamento dos salários em até cinco vezes. Agora chegamos ao cúmulo de três meses em atraso e nenhuma previsão para o próximo pagamento”, diz Lia Rocha, que é presidente da Associação de Docentes da Uerj (Asduerj).

Em nota pública, o reitor da Uerj, Ruy Garcia Marques, tratou comoinevitável” o adiamento indefinido do início do ano letivo, pois a universidade “não tem recursos nem condições no momento para manter sua estrutura de funcionamento”. Segundo a reitoria, serviços fundamentais como segurança e vigilância, manutenção elétrica, limpeza e coleta de lixo não poderiam ser executados de maneira a atender satisfatoriamente as necessidades da Uerj

A nota da reitoria cita também a situação de abandono do Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe), outrora considerado uma unidade de excelência em diversos setores da medicina: “Nosso hospital funciona com limitações quase impeditivas, diminuindo amplamente o atendimento à população”, diz Marques.

“Falta de visão”

No início do ano, uma carta aberta em tom de pedido de socorro – com o título “A Uerj e o Futuro do Rio de Janeiro” e assinada por Garcia Marques e por seis ex-reitores da universidade – acusa o governo estadual de “sucatear a Uerj por absoluta falta de visão estratégica”. O documento aponta um déficit nos repasses (a estimativa é que no meio de 2017 este déficit ultrapasse meio bilhão de reais) e afirma que o governo está “forçando o fechamento da Uerj”.

Reunindo ex-reitores de diversas matizes políticas, do PMDB ao PSTU, a carta traz as assinaturas de Ivo Barbieri, Hésio Cordeiro, Antonio Celso, Nilcéa Freire, Ricardo Vieiralves e Nival de Almeida.

Décima primeira colocada em qualidade de ensino entre as universidades brasileiras, segundo o ranking de 2016 da Times Higher Education, a Uerj não é subordinada à Secretaria Estadual de Educação, mas sim à Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia, pasta que enfrenta forte redução orçamentária desde o início da derrocada financeira do estado, hoje simbolizada por um déficit total de cerca de R$ 20 bilhões. No caso específico da Uerj, o orçamento em 2017 deveria ser de cerca de R$ 1 bilhão, mas não deve atingir nem metade disso até o final do ano, segundo as previsões da reitoria.

Um dia após a Uerj anunciar o cancelamento do ano letivo, o deputado estadual Gustavo Tutuca (PMDB) assumiu a Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia e afirmou ter a universidade como “prioridade”. O novo secretário, cuja nomeação para a pasta fez parte de um acerto do governador Pezão com a bancada peemedebista para aprovar projetos na Assembleia Legislativa (Alerj), afirmou ontem (7) que conta com a chegada de recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) para quitar parte do atraso salarial de professores e servidores da Uerj ainda este mês.

Cai o interesse

Um reflexo inequívoco do desmonte da Uerj é a drástica redução do número de alunos interessados em ingressar na universidade. Este ano, inscreveram-se no vestibular da instituição 37.393 estudantes, o que representa uma redução de 55% em relação a 2016, quando o vestibular teve 80.243 inscritos. A evasão de estudantes também dobrou este ano, segundo a reitoria da Uerj.

A Asduerj cita ainda outros problemas vividos atualmente pela universidade, como o congelamento do Plano de Carreira dos professores, o aumento da contribuição previdenciária dos servidores, o fechamento do bandejão e a falta de pagamento de funcionários terceirizados, entre outros: “Além da existência de todos esses problemas, é preciso ressaltar que, com a continuidade da falta de repasse do orçamento, as condições de trabalho na Uerj têm se deteriorado progressivamente, com enormes prejuízos para as atividades de ensino, pesquisa e extensão. Não podemos e não aceitamos trabalhar nestas condições”, diz Lia Rocha.

Leia também:
Universidades federais fecham laboratórios e cursos após corte de verbas
Sem receber salário, professora da UERJ compartilha extrato bancário zerado
MBL apaga post em que chamava professores universitários de vagabundos
Multidão lota anfiteatro da Uerj para ver e ouvir Mujica

Acompanhe Pragmatismo Político no Twitter e no Facebook