Em Santa Catarina, advogado negro é alvo de ataques racistas com símbolo da Ku Klux Klan. Perplexo, Marco Antonio André resolveu publicar um desabafo nas redes sociais
Ao sair de casa para colocar o lixo na rua no último domingo, o advogado Marco Antonio André, 40, residente de Blumenau (SC), foi surpreendido com um cartaz que lhe causou perplexidade.
“Negro, comunista, antifascista e macumbeiro. Estamos de olho em você.” A imagem continha ainda o símbolo da Ku Klux Klan e uma ilustração de um membro da seita racista norte-americana apontando para o leitor.
Negro, militante da causa negra e praticante de religiões de matrizes africanas, André é, claramente, o alvo das ofensas. Para não deixar dúvidas das intenções, os agressores colaram os cartazes apenas no poste e na porta da casa dele.
Marco, que diz ser “mais adepto” de Martin Luther King do que de Malcolm X, afirma já ter sido alvo de ataques racistas diversas vezes.
“Todo ano eu desfilo [no Oktoberfest] com os trajes típicos alemães e em todo desfile há problemas, gente que me ofende. Já jogaram copo de chopp na minha cabeça”, relatou o advogado em entrevista ao portal UOL.
A princípio, Marco disse que não publicizaria o caso, mas depois resolveu divulgar o cartaz em suas redes sociais em forma de desabafo. “É uma oportunidade de trazer este assunto à tona e agregar cada vez mais pessoas à discussão”, disse, em entrevista à CartaCapital.
Marco acredita também ser importante realizar um boletim de ocorrência, apesar de não acreditar que de fato alguém será punido. “Eu até tenho alguma esperança de penalização, mas é muito mais para registro criminal e monitoramento do que para identificar o autor em si”.
Extremismo
“Há um discurso de ódio no Brasil e no mundo hoje, um discurso vigorando tanto da extrema esquerda quanto da extrema direita. Um dos meus amigos escreveu que a Caixa de Pandora foi aberta e eu acho que é isso”, diz o advogado.
Neto de uma escrava, Marco conta que no momento do nascimento de seu pai sua avó ainda não havia conquistado a alforria. Apesar da forte ancestralidade, foi somente quando se mudou para Blumenau teve seu encontro com as religiões de matriz africana.
Amor
Apesar das agressões, Marco pretende mais uma vez se vestir de alemão para desfilar na tradicional parada da Oktoberfest. Perguntado recomendaria que comunistas, negros e praticantes de religiões afro visitassem a cidade durante o festival, o advogado ficou em silêncio, riu, pensou, e disse:
“Não vou jogar contra minha cidade. É uma festa importante para a economia da cidade. Talvez o coletivo diga que devêssemos boicotar. Mas sou contra. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Venham para a festa sim. Venham de peito aberto, para se divertir. Tragam amor. Minha religião prega o amor ao próximo, não posso ir na contramão.”
Desabafo
Abaixo, a íntegra do desabafo de Marco nas redes:
Hoje pela manhã os postes da minha rua e a porta da minha casa amanheceram com este aviso.
Todos que me conhecem, sabem o quanto luto para que diferenças sejam respeitadas.
Ser do Candomblé, além de ser um ato de fé, é cultuar meus ancestrais Africanos.
Quando me coloco a favor dos menos favorecidos e luto pelos direitos e igualdade de TODOS, não quero excluir, quero agregar.
Se minha luta contra o fascismo é incômoda para alguns, o problema não está em mim.
Continuarei na minha luta, por uma sociedade justa e igualitária.
Continuarei firme na batalha junto ao NEAB, pois é através da EDUCAÇÃO que mudaremos muita coisa.
Farei, agora mais do que nunca, parte da Comissão da Verdade sobre a Escravidão Negra no Brasil da OAB, pois inclusive em Blumenau, há muitas histórias que não foram contadas.
Obrigado a todos pelas mensagens de apoio, isso só mostra que o autor da faceta é minoria.
informações de CartaCapital e UOL
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