Mulheres violadas

Editora do Correio Braziliense pede desculpas por texto machista e desrespeitoso

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“A desculpa de que fomos criados assim não deve mais ser usada”. Editora do Correio Braziliense assume responsabilidade por crônica machista e pede desculpas. O texto trata de maneira desrespeitosa e ofensiva a passagem de uma estagiária de 19 anos pela redação do jornal

Portal dos Jornalistas

Teve ampla repercussão e muitas críticas nas redes sociais a crônica O primeiro dia de trabalho de Melissinha (versão digital) /A estagiária (impressa) que o Correio Braziliense publicou nessa segunda-feira (11/9).

O texto, assinado por Guilherme Goulart, trata de forma desrespeitosa, machista e ofensiva a passagem de uma estagiária de 19 anos pela redação do jornal brasiliense. Abusa de termos de baixo calão ao referir-se também a outras estagiárias que passam pelo Correio, e como elas são vistas pelo que ele chama de “machalhada” na redação.

Em nota de repúdio, disse o Sindicato dos Jornalistas do DF:

(…) A maneira como trata o assédio de forma corriqueira escancara o machismo e o sexismo ainda tão presentes nas redações, além de potencializar a ideia, incrustada no imaginário da nossa sociedade patriarcal, da mulher como objeto e de disputa entre colegas no ambiente de trabalho. (…) O Correio Braziliense errou feio ao publicar um texto que naturaliza o desrespeito contra a mulher em seu ambiente de trabalho. (…) É inacreditável, conforme escreveram diversos leitores e jornalistas, que o texto, sem qualquer relevância e interesse público, conforme preconizam as teorias do jornalismo, tenha passado pela chefia do setor em que fora publicado (…).”

Na manhã desta terça-feira (12), o CB publicou nota de capa, no qual diz: “O Correio errou ao publicar, em sua edição impressa e no site, a crônica A estagiária… O texto foi retirado do ar poucas horas após sua publicação na internet porque não reflete os valores nem a opinião do jornal. Pedimos desculpas às leitoras, aos leitores e aos nossos seguidores.”

O autor também se desculpou pelo texto por meio da coluna Crônica da Cidade: Um erro sem perdão, no qual escreveu: “Poucos conhecem tanto o poder da palavra quanto um jornalista. E, mesmo assim, até ele, muitas vezes, esquece o tamanho dessa força. E eu, como tal, esqueci. A reação provocada pelos seis parágrafos que publiquei aconteceu de uma forma que eu jamais poderia prever. E, se a crônica repercutiu assim, é porque falhei. Por isso, entendo, percebo, admito e reconheço a minha falta. Aceito a revolta e a indignação de todas as mensagens que recebi ontem por e-mail, por WhatsApp, pelo Facebook etc. Fiz questão de ler todas, do início ao fim. E peço as mais sinceras desculpas. Pois acredito que esse seja o melhor caminho da transformação necessária para que as minhas filhas cresçam em um mundo em que não haja espaço para situações como a narrada por mim, nem textos equivocados como o meu”.

Goulart também disse que o intuito da crônica era alertar para uma situação de abuso que ocorre dentro das redações, mas que não conseguiu passar essa mensagem.

Nesta quarta-feira (13), foi a vez da editora-chefe Ana Dubeux se pronunciar sobre o caso. No editorial Hora de mudar, ela destacou momentos em que o jornal se posicionou pelo empoderamento feminino, e avaliou que a aprovação do texto, mesmo após revisão por dois profissionais do jornal (um homem e uma mulher), demonstra uma “naturalização do machismo no nosso cotidiano”. “São situações, comentários, frases soltas que consideramos normais, naturais, mas que crescem no terreno do preconceito… do machismo”, concluiu.

Ela também destacou que, como editora-chefe, assume a responsabilidade no processo de mudança no jornal: “Promoveremos políticas de conduta, rodas de discussões e, principalmente, investiremos na criação de um ambiente de aprendizado coletivo. É coexistindo que aprendemos o respeito ao próximo e às suas escolhas. Sim, isso se aprende. Peço desculpas a todas as mulheres, leitoras, funcionárias, ex-funcionárias e também aos homens que se sentiram incomodados durante a leitura. Esse inaceitável acontecimento será um marco para uma mudança mais profunda”.

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