Renato Navarro e Jonas Santana, J. Press
O atual cenário no qual se encontra a sociedade brasileira é preocupante: a desconfiança predomina no que toca à classe política, a economia do país vive momento delicado e a taxa de desemprego alcançou 13,3% da população, ou 13,8 milhões de pessoas, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgados em 30 de junho de 2017. Em meio a essa instabilidade, uma parcela da população passa por seu primeiro momento de crise: trata-se da Geração Z.
Formada por pessoas nascidas entre os anos de 1988 e 2010, os membros desse grupo cresceram junto à onda tecnológica e aos avanços socioeconômicos pelos quais o Brasil passou nas três últimas décadas. Pode-se afirmar que eles foram contemporâneos a um país muito mais seguro e sólido, diferentemente daqueles que viveram sob o jugo do regime militar (entre 1964 e 1984) e posteriormente passaram pela fragilidade econômica que assolou o país na época da redemocratização. Acostumados com os longos períodos estáveis, com governos que cumpriram seus mandatos na íntegra e relativo desenvolvimento do país, a Geração Z tem presenciado uma série de transformações. Essas mudanças se dão especialmente devido à insatisfação com a política tradicional, em um processo que teve seu primeiro estopim em junho de 2013 e hoje vive seu momento mais crítico, em que a sucessão de governantes e as relações conturbadas e corrompidas entre os três poderes e o setor privado minam cada vez mais a confiança na classe política.
Em relação às juventudes anteriores, a da Geração Z é mais instruída. Segundo a PNAD 2016 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, promovida pelo IBGE), apenas 8% da população com 15 anos ou mais não é alfabetizada, o que representa uma redução de 4,4 pontos percentuais desde 2001. Seguindo esta linha, de acordo com dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o número de jovens no ensino médio e superior também aumentou nos últimos 15 anos: em 2002, apenas 14,6% de todos os eleitores haviam completado o ensino médio e, desses, apenas 3,2% se formaram no ensino superior. Hoje, 30,4% dos eleitores brasileiros já concluíram o ensino médio e, desses, 7,5% se graduaram.
Outro aspecto interessante é a conectividade e facilidade no acesso à informação que esse grupo dispõe: segundo o PNAD 2015, 30,4% dos donos de celulares tinham entre 15 e 29 anos, o que equivale a 49 milhões de pessoas. Além disso, também segundo o PNAD, 57,8% das residências do país tinham acesso à internet via computador ou celular, totalizando mais de 68 milhões de casas. No mesmo ano, uma pesquisa da TIC Domicílios observou que cerca de 102,1 milhões de brasileiros acima dos 10 anos acessam a internet, equivalente a 57,5% da população.
Em 2016, o TSE divulgou que jovens de 16 a 29 anos correspondem a 27% do eleitorado nacional, cerca de 38 milhões de brasileiros, deixando explícita a grande importância que existe no posicionamento desta geração para a definição dos rumos do país. Com boa formação acadêmica e sempre conectados com o que acontece ao redor do mundo, este grupo conta com informações às quais muita gente não tem acesso. Desta forma, surge a pergunta: como eles, vindos de um contexto mais favorável e teoricamente melhor preparados que as gerações anteriores, se posicionarão neste momento de crise das instituições? Para descobrir, a J.Press conversou com jovens de diferentes posicionamentos para ouvir o que eles esperam das eleições presidenciais de 2018.
Fugindo da tendência
Elaine Mara, de 24 anos, é heterossexual, cristã católica e estudante de jornalismo. Ela é de Cuiabá – MT. Já participou da UJS (União da Juventude Socialista, braço juvenil do PCdoB) na época da adolescência, mas não chegou a se filiar à organização. Mais tarde se filiou ao PSDB, participando da juventude do partido, mas hoje se identifica como independente. Eliane, mesmo sendo cristã, não votará em Jair Bolsonaro (PSC-RJ), candidato conservador que pretende usar o cristianismo como base em seu governo, caso ele se candidate à Presidência da República.
“Não sei ainda em quem eu vou votar, porque até em 2018 tem muita coisa que vai acontecer ainda. Não voto em Bolsonaro porque não concordo como ele se posiciona. Apesar de eu ser cristã, noto muita hipocrisia nas falas dele e, por esse motivo, ele é um candidato que não me agrada. Acho o Bolsonaro um candidato muito extremo e nesse momento qualquer extremo é ruim. A gente precisa de um presidente que seja capaz de dialogar e governar para grande maioria possível tendo o apoio do congresso principalmente. Antes de pensar em um presidente, penso em uma renovação do nosso congresso. Os nossos senadores precisam ser renovados por aqueles que lutam pela gente. Acho que as pessoas se preocupam muito com as eleições presidenciais sendo que aqui o presidente não tem tanto peso assim de decisão quanto deveria talvez. As pessoas deveriam se preocupar mais com isso.”
Erick Ribeiro, de 19 anos, é homossexual, ateu e estudante de publicidade. Ele é de Castanhal – PA. Em 2018 será a primeira vez às urnas, já que nas últimas eleições ele não possuía o título de eleitor. Ele nunca se filiou a um partido e não pretende. Erick é gay, porém, mesmo pertencendo à comunidade LGBT, não apoia a esquerda, cujos setores tendem a defender a causa publicamente.
“A esquerda usa a minoria para chegar ao poder, não liga de verdade para as minorias que defendem, só ligam para seus próprios interesses. São contra a liberdade, mesmo levantando a bandeira delas, você não pode ser a favor da liberdade atacando a liberdade alheia para legitimar a sua. Não votei em 2014, pois não tinha título naquela época. Eu não entendia política naquela época, então se votasse eu ia votar nos candidatos que o grupo social que eu estava ia votar. Eu ainda não saberia em qual candidato votar. A gente estava fudido aquela época igual como estamos agora.”
Insatisfeitos
Vinicius Marciano, de 22 anos, é heterossexual, ateu e estudante de editoração. Ele é de São Paulo – SP. Militante no Território Livre, juventude do partido comunista Movimento da Negação da Negação, Vinicius se considerava social-democrata, até que junho de 2013 o decepcionou. Votaria em um candidato da esquerda que representasse os trabalhadores, o que não ocorre, por isso vota nulo.
“Eu passei pela experiência de junho de 2013, vi toda a multidão na rua, etc. Passei também por esse movimento de que realmente não era só pelos 20 centavos, que tinha algo de errado com a política, vi o Haddad e o Alckmin reprimindo juntos — e isso foi bem chocante pra mim — e bem, já entrei na universidade achando que o PT não é uma saída”, diz. “A gente [Território Livre] vota em candidatos que estejam lá nas eleições para criticar os outros candidatos, como são todos parecidos, e estejam lá para ser a voz dos trabalhadores, tanto que eu votei em Altino [candidato a prefeito pelo PSTU] nas últimas eleições. […] O próprio Bolsonaro e Doria não são flores que se cheirem, mas o Lula tem algo a mais: o controle de movimentos sociais, a CUT (Central Única dos Trabalhadores — que já é conhecida pelo gangsterismo — e o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), que assim como na Venezuela podem ser como tropas dentro dos movimentos sociais para barrar a organização dos trabalhadores. Se a esquerda realmente saísse com um candidato unificado e forte, que fizesse uma oposição real à figura do Lula, eu votaria. Porém, o que tem se desenhado na verdade é mais desesperador, por exemplo o Vamos, que junta setores do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), PSOL, MAIS (Movimento por uma Alternativa Independente e Socialista), PCB: eles tendem muito pro lado do PT, e eu não votaria numa candidatura que fortaleça ou seja sombra do governo petista, uma linha auxiliar.”
Thiago de Oliveira, de 22 anos, é heterossexual, não possui religião e é estudante de jornalismo. Ele é de Cajamar – SP. Não votará em ninguém pois está desiludido com a política, mas concorda com a importância de pautas abordadas por setores da esquerda.
“Não possuo filiação partidária e não milito por nenhum movimento ou ideologia. Acredito, porém, na necessidade de se reivindicar direitos e entendo o furor por trás de alguns movimentos de esquerda, mas prefiro manter a distância. Ao longo dos anos, a política brasileira se provou falida em todos os setores e os possíveis candidatos à presidência de 2018 são basicamente alguns representantes dos erros cometidos no país – nada menos que os velhos expoentes da imobilidade. Votar em algum deles, a meu ver, seria persistir nos erros. […] Já simpatizei com Lula e o PT, mas alguns conluios com partidos, políticos e empresários de caráter duvidoso botaram em cheque a pouca simpatia que me restava num período em que eu já passava por um processo de desencanto com a política em geral. Aguardo [para 2018] o mesmo circo de sempre, os mesmos candidatos e partidos, os mesmos discursos retrógrados ou pretensamente progressistas.”