Antônio Palocci fez o que Moro esperava dele, assim como Delcídio do Amaral, que acaba de ter sua delação invalidada pelo Ministério Público por falta de provas
Renato Rovai, Revista Fórum
Quem acompanhou a trajetória do ex-ministro Antônio Palocci não deve estar surpreso com as acusações que seu advogado afirma que ele fez em relação à Lula.
Palocci é um daqueles casos de alguém que sobe no muro para olhar o outro lado, acha interessante e pula. Há tempos que ele não tem nada de esquerda e sequer de PT. Há tempos que as pessoas mais sérias do petismo não nutrem qualquer admiração por ele.
Mas ele foi útil ao partido e a Lula em ao menos duas questões. Como tinha pulado de lado, Palocci se tornou pessoa de confiança de banqueiros, em especial, mas também do grande empresariado. Tinha o contato de todos e com isso se tornou tanto o garantidor de que não haveria cavalo de pau na economia, ao menos no primeiro governo de Lula, e por outro lado, como tinha contato com quem faz doações eleitorais, ajudava nessa tarefa.
Mas Palocci não era assim, como alguns imaginam, homem de confiança de Lula. Ele tinha perdido esse insígnia quando no meio do mensalão sugeriu que o presidente renunciasse ou admitisse que não disputaria a reeleição. E tomou um toco de Marcio Thomaz Bastos que o fez pedir desculpas a Lula.
E depois caiu por se meter num enrosco que até hoje cheira mal, a quebra do sigilo do caseiro.
Mas não é esse seu histórico que intriga na tal delação que seu advogado diz que fez sobre a participação de Lula no caso Odebrecht.
Palocci, que era o cara do esquema financeiro, não tomou cuidado algum e deixou a grana que recebeu de supostas consultorias na sua conta corrente. Fez contratos fajutos e deixou rastros. Mas Lula não. O peão tomou todos os cuidados, comprou apartamento e sítio com laranjas e pagou aluguel do apê.
Além disso, não deixou que transferissem os recursos pra sua conta. E as provas que Palocci diz ter são as planilhas da Odebrecht. Que era tudo o que Moro desejava que ele confirmasse.
Palocci fez o que Moro esperava dele, como Delcídio. Que agora teve sua delação enterrada pelo MP, por falta de provas.
Moro precisava de algo mais para o depoimento que Lula vai lhe dar no dia 13. O alerta roxo está ligado. Há tempos Palocci negociava sua delação. Há tempos Moro já sabia que ele diria isso. Não por acaso a bomba foi estourada agora.
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