A divulgação do crescimento de 0,2% do PIB no segundo trimestre em relação ao trimestre anterior levou Michel Temer a afirmar que o "Brasil está se recuperando" e a festejos dos apoiadores do governo no Congresso e na mídia. Podemos concordar com eles?
Emilio Chernavsky, Jornal GGN
A divulgação no último dia 01/09 do crescimento de 0,2% do PIB no segundo trimestre em relação ao trimestre anterior levou o presidente Temer a afirmar que o “Brasil está crescendo, está se recuperando“[1], e a festejos e autocongratulações dos apoiadores do governo no Congresso e nos meios de comunicação. Podemos concordar com ele e com, por exemplo, a revista Exame, que anuncia que o “Brasil começa a consumar virada histórica na economia“[2]?
Após a inédita queda acumulada de quase 7,3% entre 2015 e 2016, o PIB em 2017 parece efetivamente ter parado de cair. Essa parada era, todavia, esperada, e não indica o início de um ciclo de crescimento. Isso porque, em primeiro lugar, o crescimento recente é muito pequeno em vista da queda acentuada nos trimestres anteriores, o que faz com que o PIB do último trimestre ainda seja menor que aquele registrado no primeiro trimestre de 2016, último do governo Dilma.
Em segundo, o crescimento não é generalizado, mas ocorreu graças a dois fatores pontuais que não devem se repetir: no primeiro trimestre, ao aumento da produção agropecuária resultante de uma safra recorde canalizada para as exportações e, no segundo, ao aumento do consumo das famílias propiciado pela liberação dos saldos das contas inativas do FGTS. O investimento, por seu lado, continuou caindo nos dois trimestres.
Além do próprio PIB, outros indicadores, apesar de largamente comemorados pelo governo, mostram apenas uma recuperação muito tênue: a produção da indústria de transformação cresceu 0,2% no ano (até julho), embora em 12 meses tenha caído 1,4%, e as vendas no comércio varejista, apesar de terem crescido em junho depois de muito tempo, ainda registram queda de 0,1% no ano e, em 12 meses, 3,0%. A alegada recuperação do emprego, por sua vez, se apoia principalmente na substituição de trabalhadores com registro em carteira por aqueles na condição de informalidade, tanto que apesar da tão festejada criação de empregos formais nos últimos meses, seu número ainda é quase 1,2 milhões menor que o registrado em abril de 2016, último mês do governo Dilma. Já o rendimento médio do trabalho, após o aumento resultante da desaceleração da inflação em 2016, passou recentemente a cair.
A estagnação do emprego e a estagnação ou mesmo queda dos salários reais deve manter o consumo das famílias deprimido, não obstante eventuais espasmos provocados por medidas pontuais.
Com a regra do teto dos gastos adotada em 2016, os investimentos públicos devem continuar em queda.
Com o fim do período principal de safra agrícola e com a manutenção da taxa de câmbio valorizada, as exportações líquidas não devem mais crescer.
Sem a indução do crescimento da demanda oriunda das famílias, do governo nem do exterior, o investimento privado deve continuar em queda.
Se a incipiente recuperação de alguns indicadores indica que a economia parou de retroceder, a estagnação da demanda e a ausência de motores para fazê-la crescer não permite falar em retomada. Sem a retomada, com a queda da renda familiar e o aumento do desemprego de longa duração, e com o corte das transferências de renda do governo e a deterioração dos serviços públicos, a violência nas cidades deve continuar a crescer. Longe da esperança propagada pelo governo, a vida da população nos próximos meses deve continuar a piorar, e as perspectivas de melhora seguirão turvas.
Referências:
[2] http://exame.abril.com.br/