Redação Pragmatismo
Ditadura Militar 05/Set/2017 às 14:45 COMENTÁRIOS
Ditadura Militar

O suicídio do tenente “Chico Dólar”, matador orgulhoso dos “comunistas do Araguaia”

Publicado em 05 Set, 2017 às 14h45

Matador orgulhoso dos “comunistas do Araguaia”, tenente “Chico Dólar” tirou a própria vida com dois tiros no peito. Torturador, ele confessou vários crimes, mas morre sem nunca ter sido julgado pelas arbitrariedades cometidas

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Eduardo Reina, DCM

O tenente da reserva José Vargas Jimenez, de 68 anos, conhecido como Chico Dólar, alcunha adotada durante os combates na guerrilha do Araguaia, se matou com dois tiros no peito.

O suicídio foi cometido dentro de sua casa, no bairro Nossa Senhora das Graças, na cidade de Campo Grande, Mato Grosso do Sul.

Jimenez, ou Chico Dólar, era chefe de um grupo de combate durante a Operação Marajoara, desencadeada pelas Forças Armadas na guerrilha do Araguaia, em meados da década de 1970. Ele participou da ofensiva final contra os militantes políticos no Araguaia.

Escreveu dois livros com narrativas sobre a caçada aos militantes do PCdoB que formavam o grupo de guerrilheiros de resistência ao governo militar.

O primeiro foi “Bacaba – Memórias de um guerreiro da selva da guerrilha do Araguaia”. O outro foi “Bacaba II – Toda a verdade sobre a guerrilha do Araguaia e a revolução de 1964”.

Há cerca de dois meses entrei em contato com o militar e comprei diretamente dele os dois livros, que foram enviados pelo Correio. O texto do primeiro é bastante contundente e duro. Narra como os militares dizimaram os militantes do PCdoB.

Entre as várias revelações feitas por Chico Dólar no texto, uma é escrita de próprio punho, numa dedicatória assim feita: “Chico Dólar: era o meu nome na guerrilha do Araguaia, em Xambioá e Marabá. Matamos todos os comunistas do PCdoB – Selva!!”. O militar pertencia ao batalhão de selva do Exército.

Tentei por várias vezes entrevistá-lo. Mesmo que fosse por escrito. Mas não obtive sucesso. O tenente da reserva se recusou a conversar comigo.

Alguns trechos do primeiro livro me chamaram a atenção. “Existia uma rivalidade ‘simbólica’ entre os Guerreiro de Selva que ficaram na Base de Operações de Combate em Bacaba e os paraquedistas, cuja base era em Xambioá, de qual deles capturava ou matava mais guerrilheiros”, escreveu na página 70.

Sobre a falta de documentação referente às atividades dos militares do sul do Pará no combate à guerrilha do Araguaia, o tenente Jimenez foi explícito, conforme descreveu na página 76.

Em 1985, o Comandante Militar da Amazônia que é constituído pela 8ª RM e 12ª RM, recebeu e repassou a estas duas Regiões Militares as ordens que havia recebido do Ministério do Exército, com sede em Brasília-DF, para destruir toda documentação referente à Guerrilha do Araguaia, o que foi cumprido por todas as Organizações Militares subordinadas às respectivas Regiões Militares”.

Há uma passagem bem tétrica e perversa na qual Jimenez narra episódio sobre o encontro de cadáveres de guerrilheiros na selva.

Passamos pela região de ‘Caçador’, onde uns de nossos GC haviam matado os guerrilheiros ‘Zé Carlos’, ‘Zebão’ e ‘Alfredo’, e os tinham deixado ali expostos no meio da selva. Estavam cheirando mal. Um dos meus soldados foi até um dos cadáveres e com sua faca cortou um dos seus dedos, retirou o resto da carne que estava em decomposição, ficando somente com os ossos que pendurou no seu pescoço, dizendo: ‘Este amuleto é meu troféu de guerra!’ Eu encontrei um gorro feito do couro de quati, estava na cabeça do cadáver do guerrilheiro ‘Zé Carlos’, era do tipo de ‘Daniel Boone’. Peguei-o para mim e passei a usá-lo”.

Os últimos tiros de Jimenez foram dados contra o próprio peito na manhã da última quinta-feira. Sua esposa encontrou o corpo do militar caído dentro de casa.

Ele chegou a ser levado para a Santa Casa de Campo Grande. Foi submetido a cirurgia de emergência. Teve três paradas cardíacas e acabou morrendo. Foi sepultado no cemitério Memorial Park.

O tenente Chico Dólar deixou a região do Araguaia no dia 27 de fevereiro de 1974, onde passou quase seis meses em missões. Nesse período, segundo os seus relatos, 32 guerrilheiros forma mortos, além de três militares terem perdido a vida também. Prestou serviço no DOI-Codi, onde participou de torturas de presos políticos.

José Vargas Jimenez, que confessou vários crimes, morre sem nunca ter sido julgado pelas arbitrariedades cometidas no Araguaia durante a ditadura.

Ao contrário, recebeu a medalha de Pacificador com Palma de Ouro por ter se distinguido, com risco de vida, por atos pessoais de abnegação, coragem e bravura. Especialmente por ter participado ativamente da guerrilha do Araguaia.

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