Delmar Bertuol*, Pragmatismo Político
Reportagem do jornal El País do último dia vinte e cinco de setembro informa que seis brasileiros detêm o equivalente à riqueza de metade dos brasileiros. Um pouco abaixo da pirâmide, cinco porcento dos brasileiros somam a mesma quantidade de dinheiro do que os demais noventa e cinco porcento.
Este ano, comemora-se o centenário da Revolução Russa. Os sovietes tomaram o poder do gigantesco país e estabeleceram um regime socialista na Rússia e em alguns outros países circundantes. Era o início da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Como os revolucionários não conseguiram pleno êxito na mudança do regime – segundo os ensinamentos de Karl Marx e Friederich Engels -, pois vários problemas sociais persistiram, denomina-se o vivido na URSS, da Revolução à Queda do Muro de Berlim, de Socialismo Real, que se difere do Socialismo Científico, proposto pelos citados filósofos n’O Manifesto do Partido Comunista. O mesmo Socialismo Real – com problemas semelhantes – foi experimentado por outros países. E as ideias dos alemães são hoje, além de utópicas, parâmetros teóricos.
De fato, o Socialismo não deu certo em lugar algum, pois utópico, como disse. O Comunismo, então, sequer existiu, já que é uma etapa posterior ao Socialismo e pressupõe ausência de estado, situação inexistente em qualquer local. Ao contrário, países pretensamente comunistas têm governos (aqui inequivocadamente confundido com estados) fortíssimos e interventores não só na sociedade como, não raro, nas individualidades.
Contudo, o Capitalismo, igualmente utópico, também não alcançou plena satisfação. Alguns países, nórdicos europeus sobretudo, têm elevada qualidade de vida, auferida pelo índice de acesso ao consumo e aos serviços básicos e não-básicos, por assim dizer. Entretanto, se verifica nesses locais uma prática própria do Socialismo, os estados têm destacada participação em todos os setores da sociedade, direta ou indiretamente.
Ao refletir sobre os dados divulgados pelo jornal espanhol, é compulsória a óbvia conclusão de que o capitalismo também não deu certo, especialmente no Brasil, que despencou dezenove posições na tabela de desigualdade social no Mundo. E há que se levar em conta a importância que nosso País tem na lógica do capitalismo-global.
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Particularmente, sou simpático ao Socialismo Científico. Parece-me um sistema justo. Sei, porém, que ele está fadado ao fracasso em qualquer lugar e tempo em que for implementado. Da mesma forma, a smithiana “mão invisível do mercado” parece ser não só invisível como ineficaz até mesmo pra suprir necessidades básicas da população.
O Capitalismo, que está amplamente em voga desde o fim da Guerra Fria – isso não é sinônimo de sucesso – precisa se reinventar. E sim, aceitar premissas socialistas, assim como economias ditas socialistas aceitaram, modernamente, ideias liberais.
Ironia, essa troca intersistemas poderia ser interpretada como uma síntese marxista.
*Delmar Bertuol é escritor, professor de história, membro da Academia Montenegrina de Letras e colaborou para Pragmatismo Político
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