Em cartas antigas, Obama questiona seu lugar no mundo e sua identidade racial
Cartas antigas de Obama para namorada revelam xaveco, angústias e incertezas sobre grana. O jovem Obama questiona ainda seu lugar no mundo e sua identidade racial. O material, que se tornou público para pesquisadores, agora será arquivado na Universidade Emory, em Atlanta
Um jovem Barack Obama questiona seu lugar no mundo e sua identidade racial, fica angustiado quando pensa se ganharia dinheiro suficiente com trabalhos para a comunidade e lamenta sua incompatibilidade com a ex-namorada em 30 páginas de cartas que ele escreveu para ela. O material agora será arquivado na Universidade Emory, em Atlanta, EUA.
As nove cartas completas enviadas por Obama a sua namorada na universidade, Alexandra McNear, se tornaram públicas para pesquisadores. A universidade tem as cartas desde 2014, mas apenas agora puderam torná-las públicas, disseram as autoridades.
Escritas nos anos 1980, as cartas dão uma pista da psique de Obama enquanto ele buscava seu caminho que eventualmente o levaria à Casa Branca como o primeiro presidente negro dos EUA, disseram estudiosos da Universidade Emory na quarta-feira (18).
“Minhas ideias não estão tão cristalizadas quanto estavam quando eu estava na escola, mas eles têm um imediatismo e um peso que podem ser mais úteis se e quando eu for menos um observador e mais um participante”
Obama escreveu em 1984 para McNear, que era uma estudante em uma faculdade da Califórnia frequentada por Obama antes de ele se mudar para a Columbia.
As cartas “mais líricas e mais poéticas” serão úteis aos pesquisadores que pretendem vislumbrar a imagem de Obama como estudante de faculdade e recém-formado, disseram autoridades da Emory. Partes das cartas de Obama já apareceram em livros sobre o democrata nos últimos anos.
“Eles contam a jornada de um jovem que está buscando significado e propósito na vida e uma direção“, diz Rosemary Magee, diretora da Rose Library. Obama está “tentando encontrar qual seria seu lugar naquele tempo e seguir adiante“.
As cartas foram enviadas entre 1982 e 1984. Naquela época, Obama esteve na Universidade Columbia, em Nova York, na Indonésia e finalmente trabalhando na Business International Corporation, “com todos batendo minhas costas“, em um trabalho que ele não tinha paixão, como o próprio Obama escreveu para a newsletter da Business International Money Report.
“Salários em organizações comunitárias são muito baixos para sobreviver agora, então espero trabalhar em algo que exija uma capacidade mais convencional por um ano, permitindo que eu poupe algum dinheiro para perseguir aqueles interesses depois“, escreveu Obama em 1983.
As cartas do futuro presidente foram escritas em letra cursiva cuidadosa e com “Dear Alex” [Querida Alex] destacado no topo da página. Ele escreveu as cartas em material de papelaria, folha de caderno e papéis amarelo ou branco. Pelo menos uma carta foi enviada em envelope da Business International Money Report, com endereço da empresa e “Barack Obama” escrito no topo.
A professora da Universidade Emory, Andra Gillispie, diretora do Instituto James Weldon Johnson para o Estudo da Raça e Diferenças, está usando as cartas para um futuro livro sobre Obama. Ela disse que as cartas não são muito românticas pois Obama e NcNear estavam chegando ao final do relacionamento.
“Eu penso em você com frequência, embora eu fique confuso em relação aos meus sentimentos“, escreveu Obama para McNear em 1983. “Parece que nós sempre queremos o que não podemos ter; é isso que nos une; é isso que nos separa“.
As cartas não são todas de angústia, diz Gillisie. Obama é “claramente uma pessoa cerebral“, disse. Certa vez, Obama rasgou uma crítica de livro do New York Times sobre o livro “Becoming a Heroine” [“Tornando-se uma heroína”], de Rachel M. Brownstein, e a enviou a McNear. Esse fato divertiu Gillispie.
“Isso era parte de sua estratégia de namoro. Ok… Quem rasga as críticas de livros para enviar para sua namorada?“, diz Gillispie. “Eu acho que é um sinal de seu proto-feminismo, mas também sinal de um relacionamento cerebral“. Segundo ela, provavelmente o nerd em Barack Obama teria achado muito legal fazer isso.
Leia outros trechos das cartas de Obama:
“Devo admitir grandes porções de inveja de ambos os grupos: meus amigos americanos em suas vidas com padrão confortável, os amigos estrangeiros no mundo dos negócios internacionais. Sem uma classe, uma estrutura ou uma tradição para me apoiar, em certo sentido a escolha de seguir um caminho diferente é feita por mim” – Setembro de 1982, Nova York
“Eu não consigo falar bem o idioma de novo. Eu sou tratado com uma mistura de perplexidade, deferência e desprezo porque sou americano, meu dinheiro e minha passagem de avião voltam para os EUA, superando minha escuridão. Eu vejo velhas estradas escuras, casas raquíticas voltadas para os campos, minhas rotas antigas, rotas para as quais eu não tenho mais acesso” – Junho de 1983, Indonésia
Jesse J. Holland, Associated Press