Avaliação escolar de uma das mentes mais brilhantes do século XX revela um aluno mediano ou até mesmo ruim
Literatura inglesa: regular. Francês: escrita muito fraca, com erros básicos fruto de trabalho apressado. Redação: muito grandiloquente para suas habilidades. Matemática: promissor, mas precisa colocar suas repostas no papel de forma inteligível e legível.
Essa poderia ser a avaliação escolar de qualquer adolescente, de qualquer país, que não gosta muito de estudar e cujo talento – se é que há algum – reside em uma área distante da ciência e da cultura. Mas não é.
O boletim, de 1929, é de Alan Turing, uma das mentes mais brilhantes do século 20, o cientista britânico considerado o pai da computação e visionário da inteligência artificial que conseguiu decifrar a linguagem secreta usada pelos nazistas, contribuindo assim para encurtar a Segunda Guerra Mundial.
O boletim da Escola Sherborne, na qual Turing estudou quando tinha 13 anos, é um dos vários objetos pessoais que estão sendo exibidos pela primeira vez em público, no Museu Fitzwilliam, no Reino Unido.
Seus professores enfatizam que, se o jovem quisesse continuar seus estudos na renomada Universidade de Cambridge, ele deveria se esforçar mais e aprimorar suas ideias que eram “vagas“.
“Alguns deveres feitos por ele são bons, mas de uma maneira geral são mal escritos“, queixou-se seu professor de Física no relatório de 1929, que não dá qualquer indicação que aquele adolescente tinha inteligência acima da média.
Seu professor de Matemática menciona, por exemplo, sua incapacidade de apresentar uma “solução de forma clara“. “Isso é fundamental para um matemático de primeira linha“, disse o mestre no boletim.
Anos mais tarde, Turing se formaria com honras nesta disciplina na universidade King’s College, em Londres, onde estudou entre 1931 e 1934.
Colher de chá
Entre os outros objetos do arquivo pessoal do matemático, há um livro de Ciência – com um capítulo dedicado a decifrar códigos – que ele optou por receber como prêmio em um concurso para homenagear seu amigo Christopher Morcom, um aluno brilhante que morreu de tuberculose aos 18 anos de idade. Acredita-se que Morcom tenha sido o primeiro grande amor de Turing.
Em 1952, o cientista foi condenado a 61 anos de prisão por práticas homossexuais, consideradas crime no Reino Unido até 1967, e aceitou receber injeções de estrogênio para anular sua libido e evitar seu encarceramento.
Outro item da mostra que chama atenção é uma colher de chá que sua mãe pegou em seu quarto após sua morte em 1954 por envenenamento por cianeto de potássio aos 41 anos de idade.
Ainda que médicos forenses tenham concluído que Turing cometeu suicídio, sua família diz que sua morte foi acidental. Segundo sua mãe, ele se intoxicou mortalmente por acidente enquanto banhava talheres em ouro.
BBC
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