"Não existia na música brasileira nada parecido, no vasto cancioneiro brasileiro, não existia algo como Travessia. Não era bossa-nova, não era samba-canção, era uma canção super original, sem precedentes, de um cara chamado Milton Nascimento"
Norma Odara, Brasil de Fato
“Não existia na música brasileira nada parecido, no vasto cancioneiro brasileiro, não existia algo como Travessia. Não era bossa-nova, não era samba-canção, era uma canção super original, sem precedentes, de um cara chamado Milton Nascimento.”, relembra o compositor e músico Lô Borges sobre a canção que mudou a carreira de Bituca, como é conhecido Milton, e o cenário da música brasileira.
Em 2017, a canção completa 50 anos e o Brasil de Fato te convida para um passeio entre os caminhos de pedra de Milton, que resultaram na canção.
Era 1967, Maracanãzinho lotado no Rio de Janeiro, quando a música conquistou o segundo lugar no Festival Internacional da Canção, exibido pela TV Globo, com abertura do maestro Erlon Chaves, acompanhada por um coro de 25 mil espectadores.
Depois disso, Milton passou de um simples compositor a uma das grandes vozes da música popular brasileira. Lô Borges lembra a euforia de ver o amigo se apresentando nas emissoras:
“Pô olha lá o Bituca e não sei o que. Eu lembro dele na televisão, cantando travessia, a família inteira reunida, igual fosse um jogo de futebol“, recorda.
A letra da música foi composta pelo jornalista mineiro Fernando Brant, com melodia e voz do Bituca. Além do marco na carreira de Milton Nascimento, Travessia foi a primeira das mais de 150 canções que eles viriam fazer juntos.
Da parceria, outras relíquias como o álbum Clube da Esquina nasceram. Lô Borges conta como foi a criação da música que deu nome ao disco.
“Sempre que ele voltava pra Belo Horizonte, ele perguntava: “cadê o Lô?”. E minha mãe falava: “o Lô tá la na esquina, num lugar que eles chamam de Clube da Esquina. O Lô fica o dia inteiro tocando violão lá”. Então, ele chegou na esquina, me chamou e fomos pra dentro da casa da minha mãe, eu estava começando a compor a melodia, os acordes, a harmonia, de uma música que a gente batizou de Clube da Esquina, para homenagear aquela esquina, que eu ficava tocando violão ali, com meus amigos de bairro. Aí nós fomos pra dentro da casa da minha mãe, eu fiquei tocando a música, ele pegou o violão dele e aí ficamos dois violões e ele foi lindamente começando a fazer a melodia da música que se tornou o Clube da Esquina“, conta.
Com a música Travessia também foi assim, bastou Bituca pegar o violão para a melodia nascer. Inspiração divina, segundo Lô Borges.
“Várias canções geniais, o cara inspirado, iluminado por Deus, que pega um violão e começa a criar coisas geniais. É inspiração, pegar o violão e começar a harmonia, melodia, vem tudo junto. É uma inspiração divina, que ele traz com ele desde garoto, desde que ele começou a compor, até antes dele compor, ele já era um cara genial“, diz.
A música Travessia é parte do primeiro álbum de Bituca, lançado em 1967. Cinco décadas depois, a canção ainda carrega a mesma vivacidade que só Milton Nascimento poderia criar.
Confira a letra:
Quando você foi embora
Fez-se noite em meu viver
Forte eu sou mas não tem jeito
Hoje eu tenho que chorar
Minha casa não é minha
E nem é meu este lugar
Estou só e não resisto
Muito tenho pra falar
Solto a voz nas estradas
Já não quero parar
Meu caminho é de pedra
Como posso sonhar
Sonho feito de brisa
Vento vem terminar
Vou fechar o meu pranto
Vou querer me matar
Vou seguindo pela vida
Me esquecendo de você
Eu não quero mais a morte
Tenho muito que viver
Vou querer amar de novo
E se não der não vou sofrer
Já não sonho, hoje faço
Com meu braço o meu viver
Solto a voz nas estradas
Já não quero parar
Meu caminho é de pedra
Como posso sonhar
Sonho feito de brisa
Vento vem terminar
Vou fechar o meu pranto
Vou querer me matar
Vou seguindo pela vida
Me esquecendo de você
Eu não quero mais a morte
Tenho muito que viver
Vou querer amar de novo
E se não der não vou sofrer
Já não sonho, hoje faço
Com meu braço o meu viver
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