Somos consumidores ou somos mercadoria?
Wesley Martins Santos*, Pragmatismo Político
“Vivemos tempos líquidos. Nada é para durar”. Zygmunt Bauman
A felicidade pode ser definida de várias formas, pode ser um estado de plena satisfação, bem estar ou uma qualidade de estar feliz. Sabe –se que a felicidade plena é algo impossível, ninguém está satisfeito a todo momento, mesmo quando nos satisfazemos com algo não demora muito tempo para procurar outra forma de satisfação.
Mesmo não conseguindo a satisfação plena, as pessoas procuram uma válvula de escape para tentar driblar as coisas ruins do cotidiano. A arte de consumir trás de certa forma uma felicidade momentânea, ou melhor, uma pseudo felicidade, pois o ato de consumir não se acaba é preciso estar em constante consumo.
Vamos dar um exemplo fácil que você pode ver ou até mesmo fazer isso sem saber, os celulares hoje em dia são algo quase que obrigatório de se ter, mas o fato de ser uma necessidade constante não significa que temos que ter diferentes celulares em curtos prazos de tempo, ou seja, quando alguém compra o último Iphone lançado se satisfaz porque é considerado o melhor, mas em pouco tempo é lançado uma outra modalidade de Iphone que é superior ao que você comprou, logo sua satisfação não será a mesma, pois seu Iphone é inferior. Dessa forma, você procura comprar esse novo modelo de celular, mas como é notório será lançado uma nova modalidade superior e isso vira um ciclo, ou seja, você nunca estará satisfeito plenamente com seu celular por mais novo que ele seja.
O exemplo acima pode ser feito com outros tipos de mercadorias, vivemos em uma sociedade de consumo onde tudo e todos podem ser descartáveis, nos tornamos a própria mercadoria e também nos tornamos algo descartável, temos que nos modificar a todo momento regido por um padrão imposto pela sociedade.
A felicidade em uma sociedade doentia por consumo não pode ser plena, a felicidade será sempre algo temporário, pois as novidades de consumo não se esgotam, estaremos em eterna insatisfação.
O problema de consumir bens materiais em excesso chega a um ponto crucial, quando esse consumo é alimentado para tudo e para todos, o indivíduo se torna a própria mercadoria e começa a ver o outro também como um bem de consumo.
Basta pensar o quanto vendemos nossa própria aparência nas redes sociais, sempre postando momentos felizes, as melhores fotos e os melhores lugares, selecionamos aquilo que é o melhor, imposto pela sociedade na tentativa de ser “comprado” pelo outro. Vendemos uma falsa imagem, pois dificilmente estamos felizes, nos melhores lugares e fotogênicos.
Passamos de consumidor para virar produto, quem decide se somos um produto bom ou não são as quantidades de likes que recebemos nas redes sociais, uma falsa impressão que de certa forma nos trás auto estima.
As relações humanas se confundiram com o consumismo, vemos o outro como mercadoria, algo que pode ser descartável a qualquer momento, percebem-se que os vínculos afetivos podem ser cortados com um simples bloqueio de perfil ou whatsapp, percebemos que as relações não são estáveis, qualquer defeito que o outro apresente pode ser facilmente trocado por outra relação, pois novas relações nos passam a ideia de novas identidades, uma frágil esperança de que o novo possa trazer a felicidade, mas como já sabemos o novo já nasce velho.
*Wesley Martins Santos é mestre em História Social pela PUC-SP, professor de História da rede pública e privada de São Paulo e colaborou para Pragmatismo Político