Glória Maria causa polêmica com postagem sobre o Dia da Consciência Negra. A jornalista da Globo rebateu os comentários que recebeu em suas redes sociais: 'Apagar o post??? Nunca!!!'
A jornalista Glória Maria resolveu se pronunciar sobre a polêmica envolvendo uma publicação em seu perfil oficial no Instagram.
Durante quatro dias, a apresentadora virou alvo de críticas após expressar sua opinião contrária ao Dia da Consciência Negra, celebrado nesta segunda-feira, 20 de novembro, e decidiu rebater os usuários.
”Apagar este post???? Nunca!!!! Quem não concorda com ele ok! Acho triste, mas entendam”, escreveu a jornalista.
Ela estava falando sobre uma publicação de 15 de novembro, em que compartilhou uma imagem do ator Morgan Freeman ao lado da frase: ”O dia em que pararmos de nos preocupar com Consciência Negra, Amarela ou Branca e nos preocuparmos com Consciência Humana, o racismo desaparece.”
Para justificar a sua opinião, a jornalista ainda emendou: ”O preconceito racial é marca nas nossas vidas! Mas não tenho que mudar minhas ideias por imposição de quem quer que seja!”
“Consciência Humana”
Não é a primeira vez que a expressão ‘Consciência Humana’ aparece como pauta no Dia da Consciência Negra.
Em 2013, o cantor Ivan Lins publicou, no Facebook, a seguinte frase: “Por 365 dias de consciência humana”.
Como resposta, um texto de autoria de Rafael Patto viralizou nas redes sociais. O conteúdo é atemporal e se encaixa neste momento em que Glória Maria invoca a mesma expressão. Leia a íntegra abaixo ou clique aqui:
CONSCIÊNCIA NEGRA OU HUMANA?
A página do cantor e compositor Ivan Lins publicou hoje, 20/11, uma foto com a seguinte mensagem: “Por 365 dias de consciência humana”.
Lindo isso, se não estivéssemos no Brasil. Esse tipo de “grito” por “consciência humana” exatamente no dia em que celebramos o Dia da Consciência Negra me soa como um reforço àquele discurso extremamente conservador – do qual Ali Kamel e Demétrio Magnoli são adeptos – segundo o qual “não existe racismo no Brasil”.
Logo, não seriam necessárias essas manifestações por afirmação identitária, como as que são promovidas pelo Movimento Negro e que, aos poucos, vão sendo incorporadas como parte dos esforços do poder público em reparar os erros e crimes que foram e são cometidos contra a parcela negra da nossa população.
Quase QUATRO QUINTOS da nossa História (é pouco isso?) foram vividos sob o regime escravocrata. A escravidão não foi praticada indiscriminadamente contra todos os seres humanos que aqui viviam até 1888. Não é possível que hoje queiramos fingir para nós mesmos que as consequências da escravidão sejam ainda sentidas, sem qualquer distinção, por brancos e negros.
Falar que o Dia da Consciência Negra deveria ser substituído por um dia da “consciência humana” no nosso país seria como sugerir que todo esse passado de violência atroz contra os negros seja esquecido. Combinamos assim: “faz de conta que ninguém foi tratado diferentemente em razão da cor de sua pele e, por isso, hoje somos todos iguais. Humanos, com as mesmas oportunidades. Né?” Isso é o cúmulo da falta de consciência histórica!
Se os seres humanos não tivessem inventado um sistema de dominação que submete outros seres humanos a um poder instituído com base na marginalização da maioria em razão de traços como origem geográfica e cor da pele, aí sim, seria lindo celebrar a humanidade como uma coisa harmônica.
Mas, enquanto persistirem os efeitos dessas experiências de subjugação, exploração e aculturação que se abatem sobre aqueles a quem foi negado até o direito de serem reconhecidos e respeitados como seres humanos, temos a obrigação moral de reconhecer que infelizmente, no estágio evolutivo em que nos encontramos hoje, muito pouco há para se celebrar em razão do fato de sermos “todos seres humanos”, mas há muito o que se lembrar a respeito de tudo o que já se fez neste país contra seres humanos que, por causa da cor de sua pele, foram subcategorizados como uma raça inferior não pertencente à espécie humana.
Não entendo por que ainda há pessoas que preferem, depois de tudo o que passou, fingir agora que sempre fomos todos bons amigos.
Quer dizer, até entendo sim…
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