Redação Pragmatismo
Cinema 29/Nov/2017 às 20:19 COMENTÁRIOS
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Soldados do Araguaia vivem pesadelo sem fim e contam como foram manipulados

Publicado em 29 Nov, 2017 às 20h19

"Aquilo tudo doía a gente por dentro. É coisa que a gente tem medo até de contar. Já faz 40 anos, mas não consigo apagar da mente". Soldados do Exército Brasileiro que combateram a controversa Guerrilha do Araguaia encontram oportunidade inédita de falar

soldados do araguaia vivem pesadelo manipulados

Não foram somente os militantes de esquerda que sofreram nas mãos de torturadores durante a ditadura no Brasil. Soldados do Exército que participaram da caça aos guerrilheiros também se tornaram vítimas dessa brutalidade, como revela o documentário “Soldados do Araguaia”, dirigido por Belisario Franca e apresentado na 41ª edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

Os casos de tortura no Exército só vieram à tona recentemente, após ex-combatentes na Guerrilha do Araguaia, (1967-1975) na região amazônica, vencerem o medo e procurarem ajuda psicológica para superar traumas vividos há cerca de 50 anos. Oito deles, retirados de casa à força para engrossar as fileiras dos militares no conflito, aceitaram se reunir para falar abertamente sobre o que acontecia nos treinamentos e nas operações.

Quando esta história chegou a mim, a partir da investigação do jornalista Ismael Machado, logo vi que tinha um filme ali. A grande dificuldade nossa era a de que falassem para a câmera, superando o silêncio de tantos anos. Então criamos um ambiente para que essas oito pessoas chegassem e pudessem dividir suas histórias conosco, desabafando aquilo que estava guardado e não podiam falar, pois estavam do lado errado da História”, observa Franca.

Todos os depoentes eram jovens quando, na época, foram recrutados para participar do combate no Araguaia devido ao conhecimento que tinham do território. A preparação deles foi rápida e brusca, deixando marcas profundas no campo emocional. “Nosso papel é trazer esses temas para superfície. A desculpa para não falar disso é que temos que olhar para frente, mas como pensar no futuro sem saber o passado?”, indaga o cineasta.

Justiça

Soldados do Araguaia” vem na esteira de filmes que buscam retratar episódios traumáticos na história do Brasil, assim como de “Menino 23”, que também retrata a questão do silenciamento, envolvendo crianças negras que foram escravizadas na década de 40, para um proprietário de fazendo eugenista.

Para Franca, é muito difícil ter uma noção real de justiça se tentamos apagar da memória o sentido de injustiça. Neste sentido, ele observa, países como Argentina e Chile estão mais adiantados, com as ações ocorridas durante a ditadura sendo discutidas pela sociedade civil, que querem respostas e investigações. “As histórias estão aí, mas nós fizemos a opção pelo silêncio e sofremos as consequências disso, como o excesso de violência usado pelos policiais”.

Com essa legitimação da violência, o que está sendo criado, de acordo com o cineasta, é um estado de exceção dentro da democracia, o que explica, em parte, a vontade de alguns no retorno dos militares ao poder.

Assista ao trailer:

Paulo Henrique Silva, Hoje em Dia

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