Nova moda no Vale do Silício é beber "água crua". Garrafas chegam a ser vendidas por R$ 118,8. Mesmo com o preço aparentemente absurdo, elas fazem tanto sucesso que chegam a ser esgotadas das prateleiras
Em alguns supermercados da costa oeste dos Estados Unidos, marcas de água que chegam a custar US$ 36,99 (R$ 118,8) por garrafa de 2,5 litros estão se tornando populares a ponto de frequentemente esgotarem das prateleiras.
Essa água é diferente por não receber nenhum tipo de tratamento ou filtragem. É vendida como “água crua“.
Coletada diretamente de mananciais, ela é propagandeada como “pura” e cheia de propriedades que beneficiariam a saúde. Uma das marcas, a Live Water, afirma que a “água crua” “hidrata a pele“, “reduz as rugas” e “aumenta a flexibilidade e a força das articulações“.
A própria página da marca na internet reconhece que nenhuma dessas alegações foi comprovada pelo FDA (Food and Drug Administration), o órgão americano que regula os setores de alimentos e remédios.
Os perigos da água crua
Essa nova febre, no entanto pode ser perigosa: mesmo que a água pareça pura e cristalina, por não passar por nenhum tratamento, ela pode estar contaminada com bactérias, vírus e outros parasitas.
“Muitas doenças podem ser transmitidas pela água se ela não receber nenhum tratamento e contiver micróbios ou outros contaminantes“, alertou o médico Andrew Pavia, infectologista da Universidade de Utah, no EUA, em um artigo sobre a “água crua“. “Se ela não é filtrada, há um risco“, escreveu.
Vicent Hill, chefe do departamento de doenças transmitidas pela água do CDC (Center for Disease Control), a entidade americana de controle de doenças, também advertiu para os perigos da nova moda.
“Beber água contaminada pode levar a doenças causadas por micro-organismos como o Cryptosporidium,a Giardia, a Shigella“, disse Hill à BBC.
Marcas
Apesar dos riscos, a moda parece estar pegando no Vale do Silício e em outros lugares conhecidos por terem uma população jovem e rica.
A marca Live Water coleta água da fonte Opal Spring, no Estado do Oregon, no noroeste do país. Conhecidos empreendedores do Vale do Silício estão entre seus clientes.
Um dos grandes entusiastas da tendência é o empreendedor Doug Evans, famoso depois da falência da sua start-up Juicero, que vendia máquinas de suco. Em seu Instagram, ele relatou sua “caçada” por fontes naturais de água limpa.
E participar da nova moda não é barato. Mesmo ao comprar a água pela internet é preciso encomendar pelo menos quatro galões de 9 litros, a U$ 16 (R$ 51) cada.
A Live Water diz em sua página que a água é colocada em “recipientes reutilizáveis de vidro sem chumbo” e “transportada rapidamente em contêiners refrigerados” para ser distribuída.
Outra marca de “água crua” é a Tourmaline Spring, do Maine. Bryan Pullen, criador da empresa, diz que toda a água distribuída é testada para verificar se ela é saudável e se atende aos requerimentos do FDA.
A agência de controle exige que os produtores protejam as fontes de água de bactérias e outros contaminantes, que processem, envasem e transportem a água em condições sanitárias adequadas e que apliquem processos de controle de qualidade e análise.
Cloro e flúor
Para Pullen, “a água de mananciais é muito melhor que a água da torneira, que contém cloro e flúor“. As substâncias são adicionadas em pequenas quantidades justamente para eliminar bactérias. O flúor ajuda a fortalecer os dentes.
A água engarrafada normal também costuma vir de mananciais – a diferença é que passa por tratamentos e filtragens, o que não acontece com o produto das novas empresas.
“A água da torneira é coquetel químico, carregada de substâncias como cloro e flúor, e muitas são cancerígenas“, diz Pullen.
No entanto, o empresário não apresenta estudos que corroborem essas afirmações, que Hill, do CDC, considera errôneas.
“Pesquisas científicas mostram que tomar água com pequenas quantidades de cloro não tem efeito nocivo para a saúde“, afirmou o cientista. “Isso ainda garante proteção contra as doenças transmitidas pela água.”
BBC
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