Educação

A escola do egoísmo

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Attilio Giuseppe*, Pragmatismo Político

Eu não sou da época da palmatória, nem das humilhações públicas. A escola que frequentei estava mais flexível, mais compreensiva, bem menos autoritária, do que a frequentada por meu avô, até mesmo meus pais. Ainda enfrentei algumas situações constrangedoras, posturas tiranas, ou até mesmo aquelas imposições hipócritas, do tipo cantar o hino nacional toda sexta-feira. Apesar das críticas, a escola que frequentei sempre teve regras claras. Independente do interlocutor prezava-se pelo discurso único, homogêneo, institucional. “Aqui, funciona desta forma!”.

Isto não é autoritarismo, mas sim, filosofia. Significa que a instituição tem uma linha clara metodológica e, ao mesmo tempo, uma visão de educação ideal. Todos os alunos sabiam o que podia e o que não podia. Sabíamos também as consequências para os equívocos, assim como, o que se esperava de nós. A imposição de limites ajuda a consolidar autonomia, responsabilidade, mas acima de tudo, a lógica da escola era a da coletividade. Apesar de representar a manutenção de status quo, visto que apenas nas escolas particulares era possível formar melhores alunos, a lógica escolar estabelecia como horizonte manter o funcionamento coletivo. E hoje?

Hoje, não temos mais a escola do grupo, mas sim, a dos indivíduos. O aprofundamento das relações capitalistas, assim como dos conceitos liberais na sociedade contribuíram decisivamente para a exacerbação do individualismo. Era bem claro, que o aluno precisava se adaptar às peculiaridades dos professores e seus componentes curriculares, hoje, cada aluno e seu respectivo responsável coloca na escola e nos funcionários, a obrigação de atender as especificidades do seu filho. Numa sala com cerca de 30 jovens, como um professor consegue atender às demandas específicas de cada estudante? Alguém dirá: “as salas deveriam ter menos alunos!” Isto é óbvio, no entanto, necessitamos também trabalhar de acordo com uma realidade.

Principalmente nas instituições “de ponta”, as salas de aula são bem cheias, ainda assim, apresentam os melhores resultados. Voltando ao início, são as instituições de regras claras, projetos educacionais definidos, metodologias transparentes, ou seja, a instituição se sobrepõe ao indivíduo, como deveria ser em qualquer outro aspecto social. Relativamente a atrasos, prazos, ou mesmo conduta, existe um referencial e cabe à família entender e se adaptar. É o coletivo se sobrepondo aos caprichos individuais. Reparem que não me refiro às necessidades patológicas, pois estas sim estão em caráter de urgência para serem atendidas, mas quem está em sala de aula sabe que, um grande número de laudos apresentados, não corresponde, nem aos transtornos sérios, nem a necessidades específicas do aluno.

Portanto, como professor, me sinto extremamente angustiado em relação ao que teremos pela frente. A escola cede à família, mas muitas famílias não cultivam compromissos éticos. Um número cada vez maior de pais está cansado do trabalho e depositam seus filhos em espaços. Não querem dor de cabeça, logo, o que preciso for, farão para “aprovar” e “passar a mão na cabeça” de suas crias. A escola cede de novo e o resultado é um bando de pessoas alimentando atitudes individualistas e antiéticas, muitas vezes “contaminando” o grupo, que se sente prejudicado de alguma forma.

Tem ou não a ver com o sistema que vivemos?

*Attilio Giuseppe é historiador, professor e colaborou para Pragmatismo Político.

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