FGV: Mesmo condenado, Lula venceu o debateu sobre o tema nas redes
Nova pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) revela que, mesmo condenado no TRF-4, ex-presidente Lula saiu vitorioso no debate sobre o tema nas redes sociais
Sylvio Costa, Congresso em Foco
Pode não servir de consolo, mas, se Lula saiu condenado na última quarta-feira (24) do julgamento no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), saiu vitorioso no debate sobre o assunto no Twitter. O tema gerou, apenas naquela data, 1,21 milhões de menções e 44,1% delas foram favoráveis ao ex-presidente. O grupo de oposição ao principal líder do PT respondeu por 35,4% das interações (os demais não se posicionaram contra ou a favor de Lula).
Os números são do Departamento de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (Daap/FGV), que funciona no Rio de Janeiro. Cerca de um terço dos 35 profissionais do Daap se dedicam ao monitoramento de dados disponíveis nas redes sociais. O trabalho fica a cargo de uma equipe interdisciplinar, que inclui profissionais das áreas de Estatística, Linguística, Jornalismo, Ciência de Dados, Ciência Política e Sociologia.
Essa qualificada equipe concluiu que “o julgamento do ex-presidente Lula foi o evento político de maior magnitude nas redes” desde a abertura do processo de impeachment da então presidente Dilma Rousseff, em abril de 2016. Naquela oportunidade, o debate no Twitter deu origem a mais de 1,5 milhão de menções em 24 horas.
A análise mostrou ainda que 5,5% das interações no campo de oposição e 5,1% no grupo de apoio ao petista foram movimentadas por robôs, isto é, por perfis falsos manipulados por pessoas ou entidades interessadas em amplificar artificialmente sua voz na grande rede. Em relatório, o Dapp alerta que “a presença detectada de robôs aponta para uma forte utilização dos mesmos durante as eleições, com potencial para controvérsias e questionamentos, a exemplo do ocorrido em outros países”.
Veja outros achados relevantes do monitoramento feito pelo Dapp:
– Nomes que aspiram ocupar o espaço eleitoral de Lula, uma vez confirmada pela Justiça a impossibilidade de ele disputar a Presidência da República, tiveram visível proeminência no debate via Twitter. O monitoramento verificou que se destacaram, entre esses nomes, Ciro Gomes (PDT), Fernando Haddad (PT), Guilherme Boulos e Manuela D’Ávila (PCdoB).
– O otimismo causado no mercado financeiro pelo resultado do julgamento levou “ao maior pico de menções à bolsa de valores brasileira desde o primeiro semestre do ano passado”: 12.304 menções.
– Na guerra das hashtags, os adversários de Lula levaram a melhor. Foram 206 mil menções a #MoluscoNaCadeia e 126 mil para #LulaNaCadeia. Os apoiadores de Lula garantiram 116 mil menções para a hashtag #CadêAProva.
– Cerca de 20% das menções registradas (254 mil, em números absolutos) vieram do exterior.
– Tuítes de tom preponderantemente humorístico responderam por 15,3% das menções registradas.
– O apelo por “justiça” respondeu pelas mensagens mais compartilhadas pelo grupo favorável à condenação de Lula. Entre os que defendiam a absolvição, as postagens mais populares ressaltavam a incoerência de um país que salva Michel Temer e Aécio Neves de investigações criminais ao mesmo tempo em que condena o candidato favorito nas pesquisas presidenciais.
– São Paulo (26%), Rio de Janeiro (16%) e Rio Grande do Sul (9%) foram os estados com maior número de menções ao julgamento.
– No Facebook, onde o deputado Jair Bolsonaro tem sido campeão em volume de interações, o julgamento no TRF-4 assegurou a Lula a liderança nos engajamentos. Somente a página do ex-presidente da República gerou mais de 2 milhões de interações.
– Conforme o Dapp, “sem contar Lula e Bolsonaro, os dois atores de maior eficácia no engajamento via Facebook são Alvaro Dias (Pode) (normalmente o mais participativo na rede social) e Manuela D’Ávila”, seguidos pelo prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB).
– O estudo demonstrou ainda que “o ministro Henrique Meirelles, recém-chegado ao Facebook, por enquanto permanece um ator muito discreto, e Ciro Gomes, Fernando Collor e Haddad praticamente não conseguem modular engajamentos na rede social, se comparados aos demais”.
O trabalho do DAPP foi coordenado por Marco Aurelio Ruediger e contou com a participação dos seguintes pesquisadores: Amaro Grassi, Ana Freitas, Danilo Carvalho, Humberto Ferreira, Lucas Calil, Luís Gomes, Polyana Barboza, Tatiana Ruediger e Thomas Traumann.