Governo

Os notáveis do governo Temer

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Delmar Bertuol*, Pragmatismo Político

Tão logo consolidou-se o golpe que ele ajudou a conspirar, o Michel Fora Temer, entre outras, avisou duas medidas do seu governo: uma era justamente que não aceitaria a pecha de golpista; a outra é que faria uma administração assessorado somente por pessoas notáveis.

O desejo, que, na verdade, foi em tom de ameaça, não durou muito. Logo vieram a público escutas telefônicas que confirmaram o que todos sabiam – embora alguns negassem -, que a queda da Presidenta Dilma foi um golpe, cujo subterfúgio fora o combate à corrupção e o motivo encontrado foi as tais pedaladas fiscais, que ninguém nunca soube o que era, e que agora mesmo é que não interessa mais.

Já na parte ministerial, de fato as pastas foram ocupadas por notáveis. É notável o quanto de escusos interesses estão envolvidos nas nomeações.

Primeiro o Ministro da Cultura – ministério esse que, de primeiro, havia sido extinto – notou que o o notável Geddel Vieira estava tentando interferir nos assuntos de tombamentos de áreas históricas em prol de interesses próprios. Marcelo Calero, o titular da Cultura, denunciou a pressão sofrida ao chefe. Mas, como na escala de notabilidade o Geddel ocupava grau mais alto, o Fora Temer fez pouco caso e o Calero se demitiu.

Moreira Franco, Secretário-Geral da Presidência do Governo, foi denunciado por corrupção. Para ter o privilégio de ser julgado pelo STF, que procrastina tanto que, não raro, acaba não julgando, o Fora Temer o transformou em Ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República. O cargo de extenso nome lhe estende as possibilidades de se safar. E todos notaram isso. Menos o próprio Supremo, que considerou legítima a manobra.

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Eliseu Padilha é outro Ministro denunciado em esquemas de corrupção. Mas é um dos notáveis do Governo.

Depois de receber críticas pelo seus notáveis serem somente homens brancos velhos e ricos, o Presidente(?) indicou uma mulher negra pra ocupar o Ministério dos Direitos Humanos. Foi notável, no entanto, o exagero cometido por Luislinda Valois, que comparou a sua condição, de receber apenas trinta e dois mil reais, à escravidão.

O citado Geddel Vieira, um dos principais notáveis, está na cadeia. É que a Polícia Federal notou que ele guardava mais de cinquenta milhões de reais oriundos de propina num apartamento seu.

O PTB, partido que, nota-se, trocou o trabalhismo pelo pragmatismo, é responsável pelo Ministério do Trabalho. No Governo(?) Fora Temer, essa pasta é a responsável por tirar os direitos dos trabalhadores e arquivar de vez a CLT, criada por Getúlio Vargas, político que equivocadamente a sigla diz ser seu fundador.

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Pois bem. Com a saída de Ronaldo Nogueira, Fora Temer indicou Pedro Fernandes ao cargo. Mas eis que ressurge – havia sumido? – a figura de José Sarney, um notável coronel da política, e veta o nome. É que o deputado maranhense é adversário do clã Sarney nesse estado.

Com a recusa do Sarney, o notável Presidente do PTB, Roberto Jefferson, réu-confesso no Mensalão, indicou a própria filha, Cristiane Brasil. Coerente. A parlamentar, além de ter votado sempre a favor do Governo e contra os trabalhadores, ainda foi condenada pela Justiça do Trabalho a pagar uma dívida a seu ex-funcionário, o que ainda não fez. Pode ser que agora e com ela, a Justiça do Trabalho seja extinta de vez.

Nota-se, realmente, que o Governo(?) tem notáveis nomes em sua composição.

*Delmar Bertuol é escritor, professor de história da rede municipal e estadual e colaborou para Pragmatismo Político

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