Delmar Bertuol*, Pragmatismo Político
Todos os fumantes são relaxados egoístas que acham que o mundo é um imenso cinzeiro. E sim, generalizo. Nunca conheci um fumante que tenha guardado sua bituca numa sacolinha no bolso até achar uma lixeira, se nenhuma por perto. Sim, fumantes deveriam andar com uma sacolinha no bolso pra recolher a sua bituca, na falta de apropriado lugar pra rejeitá-la.
E quando falo de fumantes, me refiro aos consumidores de cigarros. É que vejo muito mais bitucas de cigarro do que resto de maconha enrolada, no que pode ser usado até mesmo como mais um argumento pró-legalização. Os maconheiros, ao que me parece, têm mais consciência ambiental e de coletividade do que os nojentos cigarreiros.
E minha birra, vejam bem, não é contra o cigarro. Apesar de me acusarem de comunista- socialista- petista, sou um liberal ortodoxo. Defendo o direito que as pessoas têm de se drogarem, seja com cigarro, bebida, maconha ou outra. Critico apenas o uso exagerado de Ritalina, pois as crianças não escolhem usá-la.
As bitucas estão por toda a parte. Nos grandes centros, os mendigos as catam pra dar a última fumada. E como a julgar pelo corte dos programas sociais do Governo(?) Federal a miséria em nosso País tende a aumentar, as bitucas até têm lá seu papel social nas capitais. Mas em outros locais, elas são um problema de saúde pública e ambiental. Na orla das praias gaúchas há mais bitucas do que biquínis, o que me deixa duplamente irritado, já que sou um apreciador da moda-verão-feminina.
Mas o que me deixa mais fulo é a presença das bitucas nas pracinhas. Minha filha, que ainda não tem dois anos, a cada pouco pega uma na mão, numa tentativa de iniciar precocemente no vício do pito. Tudo errado. Além de ela entrar em contato com tão nojento lixo – sei lá eu qual boca tragou aquilo -, o paspalho aqui ainda tem que levar bituca alheia até o lixo. Isso que nem fumo. Cigarro. Nem maconha. Só de vez em quando charuto de dois pilas, que eu finjo pra mim mesmo ser cubano. E planejo em pensamento la revolución (agora novamente ganha força a acusação de que sou comunista- socialista- petista).
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Pois quando eu me filiar ao não-partido PMDB e ascender à Presidência por um golpe – esse é o caminho mais curto e fácil de se chegar lá, pois não precisa passar pelo transtorno democrático da eleição, da escolha do povo -, vou instituir que passa a ser crime hediondo jogar bitucas no chão. E a lei será facilmente aprovada, pois não vou economizar em emendas parlamentares pra convencer os deputados a aprová-la em regime de urgência.
Apoiarei a operação Lava-Bituca, cujos juristas, procuradores e policiais envolvidos serão rigorosos no cumprimento da lei e aplicação das penas. As delações premiadas darão maços de cigarros aos colaboracionistas.
E como, confesso, minha briga é ideologicamente contra os fumantes, nem vai precisar de provas pra condená-los.
Presunção de culpa: se há uma bituca aqui no chão e um fumante por perto, é razoável ter convicção de que foi ele o relaxado-criminoso. Cadeia! E se reclamar na segunda instância, que se aumente a pena.
*Delmar Bertuol é escritor, professor de história da rede municipal e estadual e colaborou para Pragmatismo Político
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