Príncipe indiano abre palácio para homossexuais sem moradia
Príncipe da Índia emociona ao abrir palácio para LGBTs sem moradia e perseguidos por sua orientação sexual
Hoje em dia, a sociedade tem começado a aceitar melhor o conceito de liberdade, apoiando que as pessoas sejam felizes do jeito delas. No entanto, quando muitos LGBTs (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros) cansam de levar uma vida dupla e revelam quem são de verdade para a família, acabam sendo expulsos de casa. Foi pensando neles que o príncipe da Índia, Manvendra Singh Gohil, 52 anos, decidiu abrir o palácio dele, construído em uma área de 61 mil m², para abrigar quem fosse expulso de casa.
Gohil também passou por isso. Ele chegou a casar-se com a princesa Chandrika Kumari em 1991, mas divorciou-se no ano seguinte. O príncipe anunciou que era gay ao público em 2006 e, por fazer parte da família real do antigo estado principesco Rajpipla, foi duramente criticado.
Várias pessoas chegaram a queimar fotos do príncipe nas ruas e a família decidiu deserdá-lo, mas sem sucesso. Mesmo depois de ter sido rejeitado pelos próprios pais, Gohil criou forças para transformar o palácio de Hanumanteshwar, localizado a 15 km de Rajpipla, em um centro de apoio para desabrigados.
Ser LGBT é crime na Índia
Na Índia, o Código Penal define como crime as relações homoafetivas. O artigo 377 define o sexo entre homens ou entre mulheres como “contra a ordem natural”. Essa definição está no Código desde quando o Reino Unido controlava a Índia. Desde 1947 que o território indiano é autônomo e essa lei nunca foi sequer revista. “Essa proibição não existe mais nem no próprio Reino Unido. No entanto, ela continua valendo aqui”, lamenta Gohil.
O príncipe classifica a falta de informação como a culpada de tudo. “Nem mesmo pessoas com bom nível educacional, como meus pais, ambos com ensino superior, haviam sido educadas com relação à homossexualidade”. Apesar de ser ilegal no país, “temos sorte de ter muitos espaços amigáveis para LGBT em cidades como Mumbai e Delhi. Mas em cidades menores, não há tantos lugares, e é aí que eles são mais necessários”, explica.
Além de abrigo, os necessitados receberão informações de prevenção ao HIV/Aids, cuidados médicos, aprenderão inglês e serão capacitadas para facilitar a conquista de um emprego. A ideia é que essas pessoas consigam ser financeiramente independentes. A Lakshya Trust, organização de luta para alcançar a tolerância sexual, também está apoiando o projeto.
Príncipe já esteve no Brasil
O príncipe Gohil já esteve no Brasil em 2009, quando desfilou na Parada LGBT de São Paulo. Em entrevista concedida ao jornal Folha de S. Paulo naquele ano, ele revelou uma curiosidade: “Não tenho namorado. Fiz um compromisso de não sair com ninguém por aqui até que o meu país descriminalize o a homossexualidade”.
Durante a passagem na Parada, Gohil acenou para a multidão do alto de um carro de som. “As pessoas pediam para segurar e beijar as minhas mãos, de uma forma muito respeitosa”, contou pouco antes de voltar ao país.
Ele tem um ideal: “Minha missão é percorrer o globo, ir aonde quer que eu seja chamado, tornando a causa algo central para a sociedade. Como diz um ditado em sânscrito: vasudhaiv kutumbakam, ‘o mundo inteiro é uma família só’”.
Jornal do Comércio