Completamente fora de si, apresentador do Roda Viva inventa Fake News e ataca DataFolha. Augusto Nunes não aceita resultado da pesquisa e cria factoide sobre agenda de Lula na Etiópia
O resultado do Datafolha divulgado nesta quarta-feira (21) que traz Lula, apesar de condenado, disparado em primeiro lugar em todos os cenários, acertou em cheio na testa de setores da grande imprensa.
Neste vídeo, o apresentador do programa Roda Viva, Augusto Nunes, aparece no programa da Jovem Pan, “Os Pingos nos Is”, ao lado de Felipe Moura Brasil e José Maria Trindade, esperneando contra artigo dos diretores do Datafolha, Mauro Paulino e Alessandro Janoni, publicado na Folha desta quarta-feira (31): “Inelegibilidade de ex-presidente Lula aprofunda crise democrática”.
No artigo, os diretores do instituto de pesquisa afirmam que “a possível inelegibilidade do ex-presidente aprofunda a crise de representação no cenário político e lança ainda mais incertezas sobre o pleito deste ano e seus desdobramentos”.
O comentário é feito sobre argumento irrefutável: “Em nenhum outro levantamento de intenção de voto para presidente já feito pelo instituto em ano eleitoral observou-se uma taxa tão elevada de brasileiros com a pretensão de votar em branco ou anular o voto. É o que acontece quando se exclui o nome de Lula da disputa”.
De acordo com Nunes e seus pares, o Datafolha “é sempre suspeito”. Ao invés de descer no assunto, o jornalista preferiu comparar Lula ao candidato Eymael e a “sua musiquinha”. Veja no vídeo.
A viagem à Etiópia
O ódio de Augusto Nunes contra Lula e o PT, além de antigo, parece turvar a sua capacidade profissional. O propalado “experiente jornalista” embarcou em uma Fake News sobre a viagem do ex-presidente. Lula iria, de acordo com Nunes, para uma reunião sobre a fome na Etiópia, país que não tem tratado de extradição com o Brasil. Uma prova definitiva de que o ex-presidente, já antevendo a condenação pelo TRF-4, planejou a fuga.
O caso pode ser lido em detalhes em nota do DCM:
Desde a semana passada, circula na internet a imagem de uma página da FAO, órgão da ONU, com as conferências regionais de 2018. A da África está prevista para se realizar entre 19 e 23 de fevereiro em Cartum, no Sudão.
A imagem é usada para sustentar a farsa de que Lula inventou que haveria uma reunião sobre a fome na Etiópia, nos dias 28 e 29 de janeiro, com o objetivo de viajar para lá e escapar da prisão.
Nos posts, o autor (ou autores) lembra que a Etiópia não tem tratado de extradição com o Brasil. Para a malta anti-Lula, era a prova definitiva de que o ex-presidente, já antevendo a condenação pelo TRF-4, planejou a fuga.
O jornalista Carlos Brickmann embarcou na onda e assumiu como verdadeira a informação, numa nota publicada em seu blog. Hoje, Augusto Nunes repercutiu a notícia no site da revista Veja, com a elegância que lhe é peculiar:
“Entre outras demonstrações de que mente mais do que respira, o ex-presidente fantasiou-se de perseguido político e lamentou a perda da oportunidade de mostrar como fez para que acabasse no Brasil a fome que continua.”
Algumas horas mais tarde, o veterano José Nêumanne Pinto entrou na ciranda e deu a notícia na TV Estadão, chamando a atenção para a experiência de Augusto e Brickmann. Ele chamou o episódio de “ A farsa etíope”
“Os experientes jornalistas Carlinhos Brickmann, em seu site Chumbo Gordo, e Augusto Nunes, na Rádio Jovem Pan e no site da Veja, deram a espantosa notícia, revelada no site da FAO, de que não havia, não há nem haverá reunião em Adis Abeba para a qual Lula teria sido convidado para falar, viajando oportunamente um dia após sua condenação pela segunda instância, ou seja, fato consumado, para a Etiópia, país com o qual o Brasil não tem acordo de extradição. A oportunosa ensancha consagra a vocação de mentiroso de Lula.”
Augusto, Brickmann e Nêumanne chefiaram grandes redações no Brasil e sabem que deveriam ter tido mais cuidado antes de divulgar uma meia verdade – meia verdade é sempre mentira completa. O site Poder 360 já havia desmontado a farsa com uma nota na segunda-feira. “São eventos diferentes”, anotou. E são mesmo.
Para se constatar, basta pesquisar, coisa que o veterano trio não fez: a notícia está em outra página da FAO – ir até ela daria um pouco mais de trabalho do que reproduzir post do facebook.
O que aconteceu na Etiópia foi um evento até mais importante do que a conferência regional. Foi a Cúpula da União Africana, a 30ª, no qual a FAO participaria para debater um dos maiores problemas do continente: a fome e a desnutrição.
Outra forma de evitar a barriga (jargão jornalístico que significa notícia falsa) era ficar atento ao que publicam os jornais. O El País divulgou domingo, em sua edição em espanhol, artigo do diretor de comunicação da FAO, Enrique Yeves, em que ele lamentou a ausência de Lula da Cúpula da União Africana.
Augusto, Brickmann e Nêumanne deram curso a um fake news – e, a essa altura, seus leitores devem estar espumando e gritando coisas como Luladrão ia fugir –, mas a chance de que recebam alguma punição por parte das empresas em que trabalham é zero. Experientes, eles sabem que, em redação da velha imprensa, o erro é permitido, desde que se erre contra o lado certo.
E, para atacar Lula, a Geni do jornalismo de guerra, vale qualquer coisa. Mas, para quem ama a verdade, fica registro: a notícia que Augusto, Brickmann e Nêumanne deram não vale um pingo de tinta ou, na linguagem moderna, um dígito da internet.
E, para finalizar: Quem é mesmo o mentiroso?
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