Comunidade que viveu toda a vida no mar não é reconhecida por governo algum. Eles não têm cidadania e, por isso, não possuem direitos. Fotógrafo que começou a documentá-los em 2014 afirma que o conhecimento do povo sobre o oceano era tão profundo que eles eram capazes de sentir o tsunami antes de ele acontecer
Para alguns de nós, uma casa perto do mar é um sonho de consumo a ser alcançado. Mas para a comunidade Bajau Laut isso simplesmente faz parte de quem eles são. O povo ocupa a ilha de Bornéu, dividida entre a Indonésia, a Malásia e Brunéi.
Os nômades marinhos viveram praticamente toda a sua vida no oceano, com casas construídas em meio ao mar e tendo como principal sustento a pesca.
Eles só deixam suas embarcações e retornam à terra firme para trocar ou vender seus produtos.
Anteriormente, eles já viveram em muitas ilhas do arquipélago de Sulu nas Filipinas, mas muitos migraram para a área vizinha de Sabah, em Bornéu, devido ao conflito entre grupos muçulmanos e o governo das Filipinas.
Eles não têm cidadania e, por isso, não possuem direitos. Não são reconhecidos oficialmente pelo governo da Malásia. As famílias não têm acesso à políticas públicas, como o serviço de saúde, nem as crianças têm acesso à educação local.
Os Bajau tradicionalmente vivem em barcos artesanais, os “lepa-lepa“, trazendo tudo o que eles precisam para o mar, incluindo utensílios de cozinha, lâmpadas de querosene, comida, água e até plantas.
Durante muito tempo, pensou-se que a comunidade poderia estar desaparecendo, devido à diminuição do comércio e dos estoques de alimentos.
Nos últimos anos, um número cada vez maior de Bajau Laut está voltando para o continente em busca de trabalho — um movimento que pode decretar o fim desse modo de vida.
O fotógrafo britânico James Morgan começou a documentar a vida da comunidade Bajau em uma visita em 2014.
Em entrevista ao Business Insider, publicada neste mês, Morgan afirmou que o conhecimento do povo sobre o oceano era tão profundo que eles eram capazes de sentir o tsunami antes de ele acontecer e, assim, se preparar melhor para os impactos.
Os Bajau são caçadores-coletores e vivem basicamente da pesca submarina. Eles são mergulhadores profissionais e conseguem nadar profundidades de até 100 pés (cerca de 30 metros) em busca de peixes e pérolas.
Porém, as práticas de pescas destrutivas por parte de grandes pesqueiros são cada vez mais comuns na região. O uso de bombas de fertilizantes e cianeto de potássio destroem não só os recifes, mas também impactam inúmeras vidas.
Para Morgan, os Bajau revelam uma relação complexa com o oceano, considerado por eles uma entidade multifacetada e viva.
“Existem espíritos em correntes e marés, em recifes de corais e manguezais. O meu ponto de interesse é o potencial para encaixar a compreensão única do Bajau sobre o oceano com estratégias mais amplas de conservação marinha, de modo a facilitar a conservação, ao invés de destruir, a sua cultura e os espetaculares ambientes marinhos que eles chamaram de lar durante séculos“, defende o fotógrafo em depoimento em seu site.
Veja algumas imagens do povo Bajau:
Para alguns jovens Bajau que nascem e vivem em barcos, o oceano ainda é o seu quintal favorito. E enquanto estão absorvendo mensagens conflitantes de suas comunidades, que, ao mesmo tempo, se abstêm de mergulhar no oceano e continuam a destruir seus recifes, eu ainda acredito que eles podem desempenhar um papel crucial no desenvolvimento de boas práticas de conservação marinhas nos mares ocidentais. Aqui, Enal brinca com seu tubarão de estimação.
Para evitar uma mordida dolorosa, Imran vai pegar este peixe colocando o polegar e o indicador nas suas sobrancelhas e, uma vez que ele estiver com os olhos vendados, ele o levará até o barco.
Jatmin volta com um polvo. As ferramentas utilizadas pelos Bajau são úteis para fisgar os animais em qualquer buraco em que elas se escondam.
Leia também:
A selva mais perigosa da América Latina: uma travessia quase impossível
Neve ao redor de Paris leva 1500 motoristas a dormir no carro
Ana Beatriz Rosa, Huffpost
Acompanhe Pragmatismo Político no Twitter e no Facebook