Cinema

Direitistas ameaçam set do filme “Marighella” e antifascistas respondem

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Diretor do filme “Marighella”, Wagner Moura conta como foi "bonita a reação" da frente antifascista para proteger o local das filmagens que estava sob ameaça de invasão por extremistas de direita

Wagner Moura é diretor do filme ‘Marighella’

Poucos dias atrás, conta Wagner Moura, a equipe de produção do filme “Marighella” recebeu um alerta. Pelas redes sociais, um grupo ameaçava invadir o set do longa que ele dirige sobre o mais famoso guerrilheiro que lutou contra a ditadura militar.

“Mas o que aconteceu foi bonito”, diz o diretor estreante. “Vieram 15 jovens da frente antifascista para proteger a gente. Esse é o pior e o melhor momento para fazer um filme sobre Marighella.”

Sob o calor de polarização tão aguda, uma preocupação indisfarçável ronda a produção. E Wagner Moura não esconde que esse é um filme “que tem lado”. “Queria lançar antes das eleições, mas não vai ficar pronto a tempo.”

Na última semana, as gravações do filme ocorreram numa rua interditada nas adjacências da 25 de Março, na capital paulista.

Preenchido por kombis e fuscas, o trecho é cenário de uma fuga ensaiada repetidas vezes noite adentro. Dois militantes abandonam uma célula desbaratada e trocam tiros com a polícia.

O som dos disparos é alto. O operador de câmera corre atrás deles, com o equipamento na mão, numa cena que remete ao cambaleio de “Tropa de Elite”.

Sob a pele de Seu Jorge, Marighella surge e aponta o revólver para um motorista desavisado. O diretor dá ao ator as instruções. “Tem que botar pressão no carro”. Moura sobe a voz para mostrar o tom do que deseja: “Para o carro e aí vira, bang, bang, bang, e atira nos policiais”.

A cena entrega que se tratará de uma obra de ação. “É porque quero um filme que popularize a história dele e traga um exemplo de resistência, sobretudo para jovens negros”, afirma o realizador.

Até por isso, Moura diz ter escolhido um ator “mais preto” do que de fato foi o personagem-título. O da vida real era filho de uma baiana descendente de escravos e de um ferreiro italiano. “Mas para mim, ele é um herói negro.”

Críticas e inspiração

“Estou preparado para ser odiado pela direita e criticado pela esquerda.” O diretor diz achar inspiração em José Padilha, com quem trabalhou em “Tropa de Elite”, para fazer um “cinema popular, mas potente e com linguagem.”

Situado em algum lugar entre a hagiografia da esquerda e a demonização da direita, o guerrilheiro baiano Carlos Marighella teve uma vida que renderia vários filmes.

Ele comandou greve, foi detido por escrever poemas políticos, viveu as sucessivas proscrições do Partido Comunista Brasileiro, levou tiro da polícia num cinema cheio de crianças e criou o grupo (Ação Libertadora Nacional), que pegou em armas para lutar contra a ditadura militar.

Também enviou cartas a Fidel, escreveu manual de guerrilha que inspirou o grupo Panteras Negras nos Estados Unidos (EUA) e virou letra de música de Caetano Veloso.

A sua morte, em 1969, numa operação comandada pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury, é um dos marcos do fim da guerrilha urbana.

No local em que foi alvejado, na alameda Casa Branca, em São Paulo, hoje existe um marco de pedra na calçada, cercado por prédios de alto padrão.

as informações são da Folhapress

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