Donos da Globo partem para último ataque contra Lula e forçam até votos antecipados de ministros publicamente. O que eles não percebem (ou fingem não perceber) é que, em outubro, podem recorrer ao ex-presidente como única solução
Joaquim de Carvalho, DCM
O jornal O Globo foi para o confronto aberto na campanha de guerra para impedir Lula, líder disparado nas pesquisas, de ser candidato a presidente. Entrevistou o ministro Luiz Fux, presidente do TSE, e obteve dele a declaração de que o ex-presidente é “irregistrável”.
Abre parênteses: quem trabalhou na velha imprensa sabe como é fácil conseguir declarações convenientes de autoridades sedentas de holofotes, como é nitidamente o caso de Fux. Fecha parênteses.
O jornal reforça a posição do ministro com um editorial:
Fux, ministro do Supremo, recorreu a um neologismo para qualificar a situação eleitoral do ex-presidente: “irregistrável”. No entendimento do presidente do TSE, sequer há a possibilidade de o aspirante a candidato, enquadrado de maneira clara na Ficha Limpa — caso de Lula —, recorrer para obter uma candidatura sub judice. Para o ministro, é uma forma de burlar a lei.
Seria um presente dos céus para Lula e PT: com um registro capenga no bolso, o candidato teria reforçado o seu proselitismo e, talvez, realizado o sonho de, mesmo de forma precária, ter a foto nas urnas. O plano óbvio é obter alta votação e assim constranger a Justiça a aceitar talvez a vitória de um ficha suja. Desmoralizaria a lei, fruto da vitória de uma mobilização popular, e o próprio Judiciário.
Seja como for, Fux diz que convocará o colegiado do TSE para o tribunal como um todo firmar uma posição. Que, pela lógica, não poderá ser diferente da defendida pelo ministro na entrevista.
O Globo já antecipa como devem votar os demais membros da corte. Se é para prevalecer o entendimento do presidente do TSE (ou da linha editorial de O Globo), para que tribunal?
Enquanto a família Marinho, através dos seus (muitos) veículos de comunicação, empareda autoridades, Lula anuncia que vai para as ruas.
No final do mês, inicia uma nova etapa da caravana pelo Brasil. Começa pelo Rio Grande do Sul e termina em Curitiba.
Não é campanha eleitoral. É muito mais do que isso: é um movimento pela democracia.
Enquanto O Globo manipula tribunais, Lula se aproxima das massas.
Este é o cenário que está posto e, do ponto de vista histórico, é muito interessante.
De um lado, o povo.
De outro, a elite e sua tropa de choque — aí incluídos setores do Judiciário e, claro, da classe média cheias de ódio e preconceito.
O jornal está preocupado se Lula terá a foto nas urnas, mas o ex-presidente parece estar com a atenção voltada para outros objetivos.
“Já fui presidente”, diz ele. “O que quero é provar minha inocência”, acrescenta.
Provar a inocência, nesse caso, não é apenas um ato de satisfação individual.
É mostrar como se moveu o aparelho de Estado para sufocar uma candidatura popular.
O que aconteceu, todos já sabem — Lula foi condenado em segunda instância.
O importante agora é deixar claro por que isso aconteceu.
Provas? Cadê as provas?
E são duas as arenas onde essa farsa pode ser demonstrada. Nos tribunais superiores, onde Sepúlveda Pertence, o reforço da defesa de Lula, atuará.
E nas ruas, onde Lula martelará, como sabe fazer, que é possível um Brasil diferente do que o que começou a ser desenhado em abril de 2016, com o golpe.
O que os adversários de Lula não percebem (ou fingem não perceber) é que, em outubro, Lula poderá ser a solução para eles.
A versão século XXI do sapo barbudo.
Como assim?
Se Lula não for candidato, será o principal eleitor. Colocará no segundo turno quem quiser. Ou quem, no campo progressista, tiver mais chance.
Lula já é conhecido do grande capital e, com ele, não haverá grandes surpresas. Ou incertezas.
Mas se pode dizer o mesmo de Guilherme Boulos, por exemplo?
Lula poderia apoiá-lo.
Ou mesmo Ciro Gomes, de comportamento imprevisível?
Lula também poderia apoiá-lo.
Lula fez um governo com erros e acertos.
Mas, na média, foi positivo para todos (ou quase todos).
Não foi o governo dos sonhos da esquerda.
E talvez por isso agradou a direita.
O grande capital trocaria essa segurança por uma aposta?
O homem que anda com o espírito do seu tempo — o zeitgest, como dizia o pai da Ciência Política Max Weber — é indestrutível.
Lula parece alinhado ao espírito do tempo e, por isso, se tornou um problema enorme para quem está com o coração e a mente cheias de ódio, como é o caso do público alimentado pelo jornalismo de guerra.
Amanhã, os irmãos Marinho poderão acordar e descobrir que estão sem alternativa. E que o melhor a fazer será telefonar para um dos seus redatores e mandar escrever:
“Eleição sem Lula é fraude”.
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