Saúde

A incrível experiência de um pediatra com crianças em estado terminal

Share

Pediatra reflete sobre o significado da vida a partir de conversas com crianças em estado terminal. "Dei uma tarefa para alguns de meus pacientes em estado terminal: perguntei o que tinham gostado de fazer na vida e o que havia dado a ela um significado. As crianças podem ser muito sábias. Aqui estão algumas das respostas..."

Crianças têm muita sabedoria a oferecer sobre as pequenas coisas da vida – como aproveitar bem uma tempestade de neve, por exemplo, ou como transformar uma pilha de blocos de madeira numa metrópole movimentada.

Assim, por que elas não teriam também boas ideias sobre os grandes problemas do cotidiano, sobre as perguntas que todos nós fazemos sobre o propósito e o significado da nossa existência?

Alastair McAlpine, pediatra especialista em cuidados paliativos da Cidade do Cabo, na África do Sul, decidiu apresentar algumas dessas grandes questões filosóficas aos seus pacientes.

Ele perguntou o que as crianças haviam desfrutado da vida e das pessoas, bem como os lugares e as coisas que tinham preenchido sua vida.

McAlpine então descobriu que as crianças, com idades entre 4 e 9 anos, tinham diversos bons conselhos para dar.

No final de janeiro, ele publicou o resultado de sua pesquisa numa sequência no Twitter que viralizou.

Dei uma tarefa para alguns de meus pacientes em estado terminal do setor de cuidados paliativos: perguntei o que tinham gostado de fazer na vida e o que havia dado a ela um significado. As crianças podem ser muito sábias, você sabe. Aqui estão algumas das respostas (sequência).

Nenhuma das crianças disse que gostaria de ter passado mais tempo vendo TV ou navegando no Facebook, escreveu McAlpine. Não haviam gostado de brigar com outras pessoas nem de estar no hospital.

Mas muitos falaram da alegria que sentiram ao brincar com seus animais de estimação. O médico ouviu frases como “Amo o Rufus, o latido engraçado dele me faz rir” e “Adoro quando Ginny se aconchega em mim à noite e ronrona.”

As crianças se lembravam com carinho de quando haviam nadado na praia e construído castelos de areia. Todas adoravam sorvete, brinquedos e ouvir histórias.

TODAS ELAS adoravam livros e ouvir histórias, especialmente as de seus pais: ‘Harry Potter me fez sentir corajoso.’ ‘Adoro histórias do espaço!’ ‘Quando melhorar, quero ser um grande detetive, como Sherlock Holmes!’ Amigos, leiam para seus filhos! Eles adoram. /5

Quase todas as crianças valorizavam a bondade mais do que qualquer outra virtude, segundo o médico. E adoravam as pessoas que os faziam rir.

O riso alivia a dor“, escreveu McAlpine.

Quase TODOS eles valorizavam a bondade mais do que qualquer outra virtude: ‘Minha avó é muito boa comigo. Ela sempre me faz rir.’ ‘Jonny me deu metade do sanduíche dele quando eu ainda nem tinha comido o meu. Aquilo foi legal.’ ‘Gosto quando aquela enfermeira bacana está aqui. Ela é gentil. E isso dói menos’/8

As crianças também refletiram sobre alguns pontos mais dolorosos. Muitas expressaram preocupação sobre como seus pais lidariam com a morte delas.

MUITOS mencionaram seus pais, com frequência expressando preocupação: ‘Espero que mamãe fique bem. Ela parece triste.’ ‘Papai não precisa se preocupar. Ele vai me ver de novo em breve.’ ‘Deus vai cuidar da mamãe e do papai quando eu for embora’

Outras crianças gostariam de ter passado menos tempo se preocupando com o que as pessoas pensavam delas. Apreciavam as que as tratavam “normalmente“, lembrando-se de amigos que as visitavam no hospital e não ligavam para o cabelo que tinha caído nem para as cicatrizes da cirurgia.

Finalmente, McAlpine disse que todas as crianças apreciavam o tempo que passavam com suas famílias. Nada era mais importante para elas.

No final de sua sequência, McAlpine resumiu assim:

Mensagem principal: Seja generoso. Leia mais livros. Passe tempo com sua família. Seja mais brincalhão. Vá à praia. Acaricie seu cachorro. Diga àquela pessoa especial que você a ama. Essas são as coisas que essas crianças gostariam de ter feito mais. O resto não é tão importante. Ah… e tome sorvete.

Na noite seguinte ao post, a sequência de McAlpine já havia tido mais de 70.000 retuítes. Muitos usuários da rede social lhe agradeceram por assumir a difícil tarefa de cuidar de crianças que estão morrendo. Outros se perguntaram como ele consegue manter a “sanidade” enquanto trabalha com crianças que enfrentam o fim da vida.

Em resposta, McAlpine escreveu: “Os tratamentos paliativos me escolheram, não o contrário.”

As respostas das crianças fazem lembrar as reflexões que os adultos muitas vezes têm ao se verem diante da morte. Em 2009, Bronnie Ware, uma enfermeira especializada em cuidados paliativos, escreveu um blog muito popular sobre cinco arrependimentos comuns que seus pacientes tinham ao enfrentar o fim da vida. Assim como as crianças do experimento de McAlpine, os pacientes de Ware lhe disseram que valorizavam muito suas amizades. Alguns gostariam de ter a coragem de deixar de ligar para o que as pessoas esperavam deles.

Os pacientes mais velhos também gostariam de ter se permitido ser mais felizes – muitos queriam muito poder “rir mais e levar a vida com mais leveza“.

A julgar pelas boas recordações que os pacientes de McAlpine tinham dos livros, bichos de estimação, natação e sorvete, parece que já haviam compreendido muito sobre a vida.

Leia também:
Sociedade Brasileira de Pediatria aciona MP para proibir funks
O método ‘mágico’ para que crianças não sintam medo no tratamento de câncer
Como é ser mãe de uma menina transgênero
A fórmula dinamarquesa para combater a obesidade infantil
Hospital psiquiátrico para crianças esconde cenário de terror

Carol Kuruvilla, Huffpost

Acompanhe Pragmatismo Político no Twitter e no Facebook