Imagem que mostra a professora Marinela Chauí como jurada do Carnaval do Rio de Janeiro despertou o ódio de alguns internautas, sobretudo dos que se opunham à escola vice-campeã, 'Paraíso do Tuiuti', que realizou um desfile histórico
Durante a apuração do Carnaval do Rio de Janeiro na última quarta-feira (14), vários perfis no Twitter e no Facebook espalharam uma imagem que indicava que a professora Marilena Chauí, da USP, era uma das julgadoras das escolas de samba que desfilaram em 2018.
Segundo a imagem, Chauí estava dando notas altas para a escola Paraíso do Tuiuti, que acabou na 2ª colocação na classificação geral, atrás apenas da campeã Beija-Flor.
Na montagem divulgada nas redes, uma foto de Chauí foi acoplada junto ao nome da jurada Marinela de Souza, do quesito Fantasia.
Revoltado, um internauta que costuma pedir a prisão de Lula no Facebook ajudou a espalhar a Fake News. “Olha quem era jurada com nome disfarçado. A mesma imunda do PT. Reparem nas notas que ela deu pra Tuiuti…”, escreveu Pedro Sérgio, para delírio de seus seguidores e amigos.
“Eu tava desconfiando que tinha uma marmeladinha para a Tuiuti ganhar. Que nojo. O objetivo dela era detonar os outros e instrumentalizar o carnaval ideologicamente”, reforçou outro internauta.
Paraíso do Tuiuti
Vice-campeã do Carnaval 2018, a escola Paraíso do Tuiuti ousou criticar o governo Michel Temer e a corrupção em geral.
Fundada em 1954, a agremiação entrou na avenida “com o pé na porta”, como se diz no popular, ao retratar Temer como um “vampiro neoliberalista” – no alto de um carro, destacou um homem de terno e cabelos grisalhos portando a faixa presidencial.
A escola adentrou a avenida no domingo (11) e levou ao grande público um forte discurso contra mazelas políticas e sociais.
Com o samba “Meu Deus, Meu Deus, Está Extinta a Escravidão?”, a agremiação soltou o grito contra o racismo renitente na sociedade brasileira, com suas variadas formas de “escravidão” social – entre elas, as relações trabalhistas recentemente modificadas pelo governo Temer, com o auxílio providencial do Congresso.
Em um um carro onde viam “paneleiros” com camisas da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), a crítica foi mais longe: a ala intitulada “Manifestoches” exibiu passistas fantasiados de patos amarelos, numa analogia aos protestos de rua que ganharam corpo em 2016 e, simbolizados com o pato amarelo gigante concebido pela Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), contribuíram para o impeachment de Dilma Rousseff.
Alguns dos “fantoches manipulados” foram ligados a mãos gigantes instaladas em um carro alegórico, na clara ideia de que eleitores, segundo a Tuiuti, foram manipulados por grupos poderosos, ativistas de internet e alguns veículos de imprensa.
A conjunção dos elementos constrangeu apresentadores da TV Globo, associada ao que defensores da petista chamam de “golpe parlamentar” para tirá-la do poder.
Longos períodos de silêncio e diálogos desconcertados se seguiram ao final do desfile, principalmente quando surgiu em telas e telões a figura de Temer como vampiro de direitos sociais.
O desfile da Tuiti na íntegra:
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