Delmar Bertuol*, Pragmatismo Político
Há diversas interpretações para a decisão do Governo(?) Federal de colocar o Exército nas ruas do Rio de Janeiro. As hipóteses passam por desviar o foco da suposta antecipada derrota da destruição da previdência, passando pela melhora do patético índice de aprovação presidencial até, numa situação derradeira, um sobregolpe, dessa vez com a ajuda dos militares.
Por consciente ingenuidade, vou partir da premissa de que, realmente preocupado com a segurança pública, o Michel Fora Temer determinou a intervenção apenas para isso mesmo, lutar contra a bandidagem carioca.
Sem entrar no mérito das opiniões de especialistas contrários à ideia das Forças Armadas fazer policiamento ostensivo, pois não estariam preparadas, fato é que é relativamente corriqueiro que o Exército seja acionado não só para missões explicitamente pacíficas – como ajudar em obras de infraestrutura ou em ações sociais, em casos de cataclismas -, como para contribuir com o uso de sua força bélica e armamentista, sobretudo em localidades em que a violência atingiu índices alarmantes, como no Rio de Janeiro (ainda que haja controvérsias nos números, cuja determinada interpretação aponta pra uma diminuição com relação ao ano passado).
Essa situação reflete mais uma ruim consequência de estarmos sendo governados(?) por alguém ilegítimo. Se o Fora Temer tivesse a credencial das urnas pra governar, as críticas à intervenção ficariam no campo de sua real eficácia e de que a segurança pública no Brasil não é tratada estruturalmente e de que não veremos índices de melhoras enquanto não diminuirmos consideravelmente as injustiças e desigualdades sociais. Mas como o Fora Temer e seus circundantes conspiraram pra tomar o poder, com a subjetiva ajuda do venerado Pato da Fiesp e dos paneleiros marionetes, toda e qualquer ação será corretamente questionada e alvo de suspeitas de escusos interesses por detrás.
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Ligar um governo golpista ao Exército é receita ideal dum perverso resultado. Se não a instituição Exército, pelo menos os seus então comandantes legaram ao Brasil, a partir da década de 60 (já em 61 com a primeira e frustrada pelo Brizola tentativa de golpe no Jango) até início da década de 80, apesar dos em voga nostálgicos equivocados ou saudosos do não-vivido, um período traumático econômica e socialmente pro País. O temor dalguns de que estamos na iminência dum golpe militar é compreensível, pra ficar no mínimo.
Propago o senso comum – mas correto, neste caso – de que segurança pública deve ser tratada não só com repressão, que os presídios devam ser melhorados e que os índices de violência estão diretamente ligados à desigualdade social. Não vou além. Não me atrevo a aprovar ou reprovar o uso do Exército no Rio ou em qualquer outro local. Apenas torço para que, já que lá estão, consigam de fato melhorar os índices de violência e que isso reflita, pelo menos em parte, no resto do País.
Fica, contudo, a lição. É muito caro ao País comportar um governante que não foi avalizado pelas urnas. As difíceis e importantes decisões não contam com o respaldo popular.
Em prol da segurança e de todas as outras demandas, urge no Brasil a legitimidade de eleições diretas. Já!
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*Delmar Bertuol é professor de história da rede municipal e estadual, escritor, autor de Transbordo, Reminiscências da tua gestação, filha e colaborou para Pragmatismo Político
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