Diretor-geral da Polícia Federal não sequer 4 meses no cargo. Fernando Segovia foi pego de surpresa com o anúncio de sua queda e disse que só soube da decisão através do noticiário
O delegado da PF Fernando Segovia foi pego de surpresa com o anúncio de sua destituição do cargo de diretor-geral da Polícia Federal, anunciada nesta terça-feira (27) pelo novo ministro extraordinário de Segurança Pública, Raul Jungmann.
Segovia será substituído pelo delegado da PF Rogério Augusto Viana Galloro, que desde novembro ocupava cargo de secretário nacional de Justiça no Ministério da Justiça.
Segovia disse a interlocutores que só soube da notícia de sua queda por meio do noticiário. Ele afirmou que havia participado de uma longa reunião, de quase três horas, com Jungmann nesta tarde em uma sala no quarto andar do Ministério da Justiça, mas que sua saída da direção não havia sido cogitada pelo ministro.
A reunião, no entender de Segovia, era somente um panorama administrativo sobre as diversas funções que a PF desempenha. Ele também disse aos interlocutores que a conversa foi normal e não houve divergência com Jungmann.
Segundo a Folha de S.Paulo, a saída de Segovia foi acertada na última segunda (26) em conversa entre o presidente Michel Temer e Raul Jungmann, que havia sido anunciado naquele dia para o cargo de ministro extraordinário.
Temer planejava mudar o comando da PF desde o início do mês, após Segovia ter comentado, em entrevista à agência Reuters, sobre inquérito em andamento que investiga o presidente, mas buscava um outro motivo para não causar constrangimento ao agora ex-diretor-geral.
Com a transferência da corporação policial para o novo ministério, o argumento do Planalto é de que é natural que Jungmann queira montar a sua própria equipe e fazer as trocas que julgar necessárias para a nova gestão.
“Jungmann tem a liberdade absoluta para montar a sua equipe e escolheu um substituto por conhecer melhor o trabalho dele”, disse o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun.
A avaliação do presidente foi de que Segovia acabou criando divisões internas na PF e causou uma saia-justa inclusive junto ao STF (Supremo Tribunal Federal), que pediu a ele que se abstivesse de comentar o inquérito dos portos.
A escolha de Galloro teve como objetivo prestigiar o ministro da Justiça, Torquato Jardim, defensor de seu nome, e evitar passar a mensagem de que Jungmann o atravessou, retirando um delegado-geral que foi nomeado pelo ministro.
Número dois da gestão do ex-diretor Leandro Daiello, Galloro era o nome apoiado pelo atual ministro da Justiça, Torquato Jardim, por Daiello e pelo Gabinete de Segurança Institucional, Sérgio Etchegoyen.
Segundo o currículo do delegado distribuído à imprensa nesta terça-feira pelo novo ministério da Segurança Pública, Galloro é bacharel em direito desde 1992 e entrou na PF como delegado em 1995.
Atuou nas áreas de repressão a drogas, crimes fazendários e inteligência policial. Foi chefe da delegacia da PF em Presidente Prudente (SP), superintendente regional do órgão em Goiás, diretor de administração e logística policial e diretor executivo da PF, em Brasília, funcionando como diretor geral substituto.
Em setembro passado foi eleito membro do comitê executivo da Interpol como representante das Américas.
“Outros têm falado demais”
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), se disse surpreso com a troca do comando da Polícia Federal.
“Me surpreendeu. Vamos esperar que o novo diretor tenha a mesma liberdade e independência para exercer o seu trabalho”, disse Maia ao ser informado da queda por jornalistas.
Questionado sobre se Segovia havia sido trocado pelas declarações que deu sobre o inquérito que investiga o presidente Michel Temer, Maia discordou.
“Não acredito nisso. Se ele falou algo e falou demais, muitos outros têm falado demais também no Poder Judiciário, no Ministério Público. Não é uma prática dele falar demais. Falou uma vez. Talvez esteja pagando o preço por isso”, disse Maia.
Conflito
Em manifestação ao STF (Supremo Tribunal Federal) na segunda-feira (26), a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, censurou as declarações de Segovia sobre o inquérito que investiga o presidente Michel Temer.
Ela havia pedido ao relator, ministro Luís Roberto Barroso, que expedisse uma ordem para que Segovia se abstenha de “qualquer ato de ingerência sobre a persecução penal em curso”, inclusive de manifestações públicas a respeito das investigações, sob pena de afastamento do cargo.
A medida foi uma reação a uma entrevista de Segovia, no início de fevereiro, à agência Reuters em que disse que não há provas contra Temer no inquérito.
A declaração causou queixas de delegados da PF e de entidades sindicais, e o diretor-geral afirmou ter sido mal interpretado.
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