Mais cinco universidades anunciam disciplina sobre o golpe de 2016
Depois da UnB, outras cinco universidades brasileiras, incluindo a USP, anunciam que vão ofertar a disciplina sobre o golpe de 2016
Após um chamado do professor Pedro Puntoni, professores do Departamento de História decidiram demonstrar apoio à proposta do professor Luis Felipe Miguel, da Universidade de Brasília, e vão oferecer em conjunto a disciplina Tópicos Especiais em Ciência Política 4: O golpe de 2016 e o futuro da democracia no Brasil.
A oferta da disciplina, em caráter optativo, pela UnB levou o ministro da Educação do governo Temer, Mendonça Filho, a pedir a dizer, em sua conta oficial, que pediria uma investigação por “improbidade administrativa” da conduta do professor. Em declaração oficial, o ministro acusou o professor Luis Felipe Miguel de fazer “proselitismo político” e de promover “ataque claro às instituições brasileiras“.
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As falas do ministro resultaram em respostas de diversos acadêmicos e instituições de pesquisa, inclusive de outras áreas além da ciência política, como a Abralic (Associação Brasileira de Literatura Comparada) e Abralin (Associação Brasileira de Linguística), posicionando-se contra as ameaças à autonomia universitária e às liberdades de ensino e aprendizagem, garantidas pela Constituição.
Além da USP, as universidades federais da Bahia (UFBA) e do Amazonas (UFAM), a Unicamp, a Universidade Estadual da Paraíba, declararam que vão ofertar a disciplina para os alunos do curso de Ciência Política, abrindo espaço também para o público em geral como ouvinte.
Na UFBA, a disciplina conta com a participação de 22 professores dos Departamentos de História, Sociologia, Economia, Psicologia, Educação, Estudos de Gênero, Ciência Política e Direito. A ementa e a bibliografia são as mesmas do curso de Luis Felipe Miguel na UnB.
Luis Felipe Miguel, professor-doutor do Departamento de História da UnB e organizador do livro Aborto e Democracia, respondeu em nota que seu curso é “uma disciplina corriqueira, de interpelação da realidade à luz do conhecimento produzido nas ciências sociais, que não merece o estardalhaço artificialmente criado sobre ela“. O professor afirmou ainda que “a única coisa que não é corriqueira é a situação atual do Brasil, sobre a qual a disciplina se debruçará“.
Para cientista político, ocorre na academia um processo semelhante ao que se dá no espaço do jornalismo: “O discurso da ‘imparcialidade’ é muitas vezes brandido para inibir qualquer interpelação crítica do mundo e para transmitir uma aceitação conservadora da realidade existente. A disciplina que estou oferecendo se alinha com valores claros, em favor da liberdade, da democracia e da justiça social, sem por isso abrir mão do rigor científico ou aderir a qualquer tipo de dogmatismo. É assim que se faz a melhor ciência e que a universidade pode realizar seu compromisso de contribuir para a construção de uma sociedade melhor.”
A ementa e a bibliografia do programa podem ser lidas aqui.
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