Eric Gil Dantas
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Economia 22/Mar/2018 às 14:14 COMENTÁRIOS
Economia

Brasil ainda tem uma das maiores taxas de juros do mundo

Eric Gil Dantas Eric Gil Dantas
Publicado em 22 Mar, 2018 às 14h14

Novo corte na SELIC, mas ainda temos uma das maiores taxas de juros do mundo

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Ilan Goldfajn (reprodução)

Eric Gil*, Pragmatismo Político

O Banco Central (BC) anunciou há alguns dias que a economia voltou a diminuir com base no Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), que mostrou uma queda de 0,56% do PIB em janeiro de 2018. Tendo isto em vista, o órgão responsável por definir a taxa de juros, o Comitê de Política Monetária (COPOM) – composto pelos diretores e presidente do BC – determinou mais um novo corte na SELIC, a taxa básica de juros da economia, chegando agora à 6,5%, o menor nível da série histórica do BC.

Apesar da diminuição dos juros ser muito propagada pelo governo Temer como ganho do seu governo, dois fatores mostram que a história não é bem assim.

O primeiro é pensarmos a nível mundial. O Brasil se mantém historicamente entre os que pagam mais juros no mundo, e mesmo com estes cortes isto não é diferente. Em um levantamento que fiz contando 35 das maiores economias do mundo, a partir de dados oficiais disponibilizados no site Trading Economics, o Brasil ainda está – como sempre – entre as três maiores taxas reais de juros do mundo (taxa real é quando descontamos da taxa de juros a inflação anual do país).

Enquanto a média da taxa de juros dessas principais economias está em 0,93%, o Brasil paga quase três vezes este valor, uma taxa real de juros de 2,61%. É importante lembrar que desde a grande crise financeira de 2008, vários bancos centrais mantêm taxas de juros negativas para incentivar a economia, tal como Austrália, Canadá, EUA, Zona do Euro, Japão e Reino Unido. O cálculo foi feito em sua maioria com dados de fevereiro de 2018.

Novo corte na SELIC maiores taxas de juros do mundo
Fonte: Trading Economics

O segundo fator contrário ao discurso oficial do governo é o efeito da SELIC nos juros cobrados pelos bancos comerciais. A taxa básica de juros, ou o Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (SELIC), “é o depositário central dos títulos que compõem a dívida pública federal interna (DPMFi) de emissão do Tesouro Nacional e, nessa condição, processa a emissão, o resgate, o pagamento dos juros e a custódia desses títulos” (como está no próprio site do BCB). Sua taxa serve como política de controle de preços, pois é entendido que a taxa de juros de uma economia afeta a sua taxa de inflação. Esta taxa deve influenciar o restante das taxas de juros do mercado, ou seja, se a SELIC sobe, os juros gerais da economia também deverão subir, sendo o contrário também verdadeiro – e em momentos de baixa demanda, o corte de juros serviria para aumentar o poder de compra da população e incentivar a economia.

No entanto isto não está ocorrendo neste contexto. De acordo com o BC, os juros médios tiveram um aumento em janeiro deste ano, passando para 41,1% ao ano , contra 40,3% verificado em dezembro do ano passado. Além disto subiu também a taxa média das operações com pessoas físicas: 55,8% ao ano em janeiro, contra 55,1% ao ano em dezembro. Ou seja, os bancos não estão repassando esta diminuição de juros para seus clientes.

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Bem, mas o que podemos pensar com isto é que apesar de todo o discurso de Michel Temer e do possível presidenciável Henrique Meirelles, os cortes de juros não se mostraram um ganho substancial para o trabalhador brasileiro, pois além de ainda pagar um dos juros mais caros do mundo – mesmo em meio à crise econômica –, sequer sente no bolso estes cortes. Mas há quem sinta isto no bolso sim, os banqueiros que enchem cada dia mais seus já volumosos cofres.

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*Eric Gil é economista formado pela Universidade Federal da Paraíba, mestre e doutorando em Ciência Política pela Universidade Federal do Paraná; escreve quinzenalmente para Pragmatismo Político

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