Novo corte na SELIC, mas ainda temos uma das maiores taxas de juros do mundo
Eric Gil*, Pragmatismo Político
O Banco Central (BC) anunciou há alguns dias que a economia voltou a diminuir com base no Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), que mostrou uma queda de 0,56% do PIB em janeiro de 2018. Tendo isto em vista, o órgão responsável por definir a taxa de juros, o Comitê de Política Monetária (COPOM) – composto pelos diretores e presidente do BC – determinou mais um novo corte na SELIC, a taxa básica de juros da economia, chegando agora à 6,5%, o menor nível da série histórica do BC.
Apesar da diminuição dos juros ser muito propagada pelo governo Temer como ganho do seu governo, dois fatores mostram que a história não é bem assim.
O primeiro é pensarmos a nível mundial. O Brasil se mantém historicamente entre os que pagam mais juros no mundo, e mesmo com estes cortes isto não é diferente. Em um levantamento que fiz contando 35 das maiores economias do mundo, a partir de dados oficiais disponibilizados no site Trading Economics, o Brasil ainda está – como sempre – entre as três maiores taxas reais de juros do mundo (taxa real é quando descontamos da taxa de juros a inflação anual do país).
Enquanto a média da taxa de juros dessas principais economias está em 0,93%, o Brasil paga quase três vezes este valor, uma taxa real de juros de 2,61%. É importante lembrar que desde a grande crise financeira de 2008, vários bancos centrais mantêm taxas de juros negativas para incentivar a economia, tal como Austrália, Canadá, EUA, Zona do Euro, Japão e Reino Unido. O cálculo foi feito em sua maioria com dados de fevereiro de 2018.
O segundo fator contrário ao discurso oficial do governo é o efeito da SELIC nos juros cobrados pelos bancos comerciais. A taxa básica de juros, ou o Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (SELIC), “é o depositário central dos títulos que compõem a dívida pública federal interna (DPMFi) de emissão do Tesouro Nacional e, nessa condição, processa a emissão, o resgate, o pagamento dos juros e a custódia desses títulos” (como está no próprio site do BCB). Sua taxa serve como política de controle de preços, pois é entendido que a taxa de juros de uma economia afeta a sua taxa de inflação. Esta taxa deve influenciar o restante das taxas de juros do mercado, ou seja, se a SELIC sobe, os juros gerais da economia também deverão subir, sendo o contrário também verdadeiro – e em momentos de baixa demanda, o corte de juros serviria para aumentar o poder de compra da população e incentivar a economia.
No entanto isto não está ocorrendo neste contexto. De acordo com o BC, os juros médios tiveram um aumento em janeiro deste ano, passando para 41,1% ao ano , contra 40,3% verificado em dezembro do ano passado. Além disto subiu também a taxa média das operações com pessoas físicas: 55,8% ao ano em janeiro, contra 55,1% ao ano em dezembro. Ou seja, os bancos não estão repassando esta diminuição de juros para seus clientes.
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Bem, mas o que podemos pensar com isto é que apesar de todo o discurso de Michel Temer e do possível presidenciável Henrique Meirelles, os cortes de juros não se mostraram um ganho substancial para o trabalhador brasileiro, pois além de ainda pagar um dos juros mais caros do mundo – mesmo em meio à crise econômica –, sequer sente no bolso estes cortes. Mas há quem sinta isto no bolso sim, os banqueiros que enchem cada dia mais seus já volumosos cofres.
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*Eric Gil é economista formado pela Universidade Federal da Paraíba, mestre e doutorando em Ciência Política pela Universidade Federal do Paraná; escreve quinzenalmente para Pragmatismo Político
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