Assassinados em chacina de Maricá davam aulas para crianças de 8 anos
Cinco jovens executados faziam trabalho social e cidadão e davam aulas para crianças de 8 a 10 anos em área de lazer onde perderam a vida. Dois deles eram ligados ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB)
Os cinco jovens que foram brutalmente executados no último domingo (25) em Maricá, no Rio de Janeiro, realizavam trabalhos sociais e davam aulas de hip-hop para crianças de 8 a 10 anos no local onde sofreram o atentado.
A prefeitura da cidade informou que três dos jovens assassinados faziam parte da ‘Roda de Rima’, projeto das secretarias de Participação Popular, Direitos Humanos e Mulher e da Cultura.
Nas redes sociais, o professor de Relações Internacionais da UFABC, Igor Fuser, lamentou a morte dos jovens e lembrou que dois deles tinham ligação com o Partido Comunista do Brasil (PCdoB).
“Cinco jovens assassinados há poucos dias em Maricá (RJ), dois deles vinculados ao PC do B, e todos faziam trabalho social e cidadão. Os prováveis assassinos são integrantes de milícias (grupos ilegais e fortemente armados, formados por policiais, policiais-militares, ex-policiais, ex-PMs, comerciantes, bombeiros etc) que assumem o controle de favelas e outras comunidades pobres, onde cobram “proteção” aos moradores, comerciantes e microempresários, no mais puro estilo mafioso, e em muitos casos se envolvem também com o tráfico de drogas, de armas e outras atividades criminosas, com a conivência e cumplicidade das forças policiais. Quem cai em desgraça com as milícias é eliminado, como parece ter sido o caso desses jovens“, publicou o professor.
Entenda o caso
Testemunhas do crime afirmam que os cinco jovens haviam acabado de chegar em casa (Condomínio Carlos Marighella) de um evento musical que aconteceu no centro de Maricá quando um homem desceu de um veículo.
O indivíduo, armado, rendeu todos os jovens e os obrigou a deitarem no chão. Nesse momento, o criminoso falava ao telefone com uma outra pessoa. Assim que desligou o telefone, executou os garotos e foi embora imediatamente.
A polícia já tem o perfil de um suspeito de participação do crime e a principal linha de investigação aponta que as vítimas foram executadas a mando de uma milícia.
“Mandaram deitar e atiraram nas cabeças. Foi execução. Não houve nem resistência nem tentativa de fuga. Todos os tiros partiram de uma arma só, pois havia projéteis de uma mesma arma deflagrados no local. Há reclamações da atuação de milícias no local. Comprovadamente, eles não estavam fazendo nada de ilícito na área de convivência do conjunto habitacional”, disse a delegada Bárbara Lomba.
Projota desabafa
Ao descobrir que os jovens foram executados depois de voltarem de um show seu, o rapper Projota publicou um texto nas redes sociais:
“Não sei da história por completo, realmente não sei, apenas recebi mensagens de vocês e ‘to’ me sentindo assim, fraco e impotente. Ouvi dizer que alguns deles cantavam rap, promoviam eventos e rodas de rima e tinham o mesmo sonho que eu… Mano… Por que aquela oração não foi suficiente? O que aconteceu nesse caminho que eles trilharam? Espero realmente que respostas cheguem! Pois é assim hoje em Maricá, como foi em Osasco, como acontece em todas as favelas no RJ, nas periferias do Nordeste e em cada canto do nosso país. Gente sem voz, povo acuado e fragilizado, até quando??? Até quando??? Hoje a quebrada chora“.
Perfis
O portal G1 publicou nesta quarta-feira (28) um breve perfil dos jovens executados. Confira:
Matheus Bittencourt, 18 anos. Era DJ e participou de um ato por eleições diretas para presidente, em Maricá. Ele participava da roda cultural Darcy Ribeiro, realizada de quinze e quinze dias em Itaipuaçu.
Marco Jonathan, 17 anos. Era dançarino e participou de projetos da Prefeitura. Ganhou o duelo do passinhos e se preparava para ser MC, com algumas músicas de rap prontas.
Sávio Oliveira, 20 anos. Era compositor, produtor e mestre de cerimônia das batalhas de rimas, estava gravando um CD de hip hop com os amigos ligados ao movimento. O Sávio foi mestre de cerimonia da Roda Cultural no ato contra a condenação do Lula no Circo Voador.
Matheus Baraúna, 16 anos. Era membro da Nação Hip Hop e, junto com Marco Jonathan e Patrick da Silva, faziam parte da Roda do Bronx, que era no Condomínio Carlos Marighella. A roda era direcionada às crianças com idades de entre 8 e 10 anos.
Patrick da Silva. Membro da Roda Cultural do Bronx, no Conjunto Habitacional Carlos Marighella. Envolvido em projetos de hip hop na cidade.