Desembargadora dissemina Fake News, chama Marielle Franco de "cadáver comum" e diz que a vereadora é culpada pela própria morte. Irresponsabilidade da jurista provocou indignação e ela deve responder criminalmente pelas falsas acusações. Questionada, ela alega que deu sua opinião com base em texto “que leu de uma amiga”
Marília Castro Neves, desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, provocou indignação nas redes sociais ao disseminar um boato sobre Marielle Franco, executada na última quarta-feira (14) com quatro tiros na cabeça.
Na noite desta sexta-feira (16), a desembargadora decidiu responder uma postagem do advogado Paulo Nader, que chamou Marielle de “lutadora dos direitos humanos”.
“A questão é que a tal Marielle não era apenas uma ‘lutadora’; ela estava engajada com bandidos! Foi eleita pelo Comando Vermelho e descumpriu ‘compromissos’ assumidos com seus apoiadores”, escreveu a magistrada, que insinuou que a morte da vereadora foi consequência de cobrança de “dívidas”.
“Temos certeza que seu comportamento, ditado pelo seu engajamento político, foi determinante para seu fim trágico. Qualquer outra coisa diversa é mimimi da esquerda tentando agregar valor a um cadáver tão comum quanto qualquer outro”, finalizou.
Criticada pelas falsas acusações, Marília Castro Neves concedeu uma entrevista à Folha de S.Paulo e alega que deu deu sua opinião “como cidadã”. A desembargadora disse ainda que não conhecia Marielle até saber de sua morte e que postou informações “que leu no texto de uma amiga”.
Marília criticou o que chamou de “politização” do assassinato. “Outro dia uma médica morreu na Linha Amarela e não houve essa comoção. E ela também lutava, trabalhava, salvava vidas.”
Ex-procuradora do Rio de Janeiro, Marília entrou no Tribunal de Justiça pelo quinto constitucional. A desembargadora, fechou o conteúdo do seu perfil no Facebook após a repercussão da postagem.
Acusação grave
Segundo o jornalista Fernando Brito, editor do Tijolaço, a desembargadora Marília Castro Neves deve responder criminalmente pelas acusações falsas contra Marielle.
“Não é apenas um sinal dos tempos de ódio [o posicionamento da desembargadora], que merece ser repudiado por qualquer pessoa que tenha um mínimo de respeito à vida e aos mortos. Ela deve ser chamada a explicar com base em que faz essas afirmações e, se não tem informações para fazê-as senão o que leu “no texto de uma amiga”, responder cível e criminalmente por isso. Além, é claro, do processo administrativo que deve sofrer no Conselho Nacional de Justiça”, afirmou Brito.
“Sequer cabe discutir o que ela diz: ou explica porque o disse ou terá de se admitir ter sido uma leviana. E mesmo a segunda hipótese basta para sofrer sanções, porque não é possível que alguém que emite opinião pública sobre assunto tão delicado com tamanha irresponsabilidade seja capaz de julgar pessoas”, observou o jornalista.
Marielle Franco
Nascida em favela, defensora de negros, pobres e mulheres, Marielle Franco foi executada em um crime que causou comoção nacional. O ataque contra a vereadora também vitimou o motorista Anderson Gomes, que dirigia o carro em que ela estava.
As investigações já determinaram que a munição usada no crime pertence a um lote destinado à Polícia Federal de Brasília em 2006 e que foi roubado. Balas do mesmo lote também foram usadas na chacina que deixou 23 mortos na Grande São Paulo, em 2015.
Confira aqui tudo o que se sabe sobre o crime até agora.
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