Irritada, mãe de debutante tenta justificar negros escravizados na festa da filha e diz que menina não pode ser acusada de racismo. Cerimonialista volta atrás e apaga pedido de desculpas
O tema de um ensaio de aniversário de 15 anos com referências a época de escravidão no Brasil gerou polêmica nas redes sociais nesta quinta-feira (15).
Para o ensaio fotográfico, a debutante se vestiu de sinhazinha e os amigos atuaram como mucamas e escravos. O caso ocorreu em Belém, no Pará, e as imagens geraram o debate entre os internautas.
As primeiras fotos foram publicadas pelo Cerimonial Lorena Machado no Instagram. No entanto, ganharam força quando uma jovem negra replicou o conteúdo no Facebook denunciando o caso como discriminação e racismo.
Na postagem, Tuca Oliveira critica a ideia. “Vocês brincam com nossa dor e depois vêm dizer que foi ‘sem querer’ ou uma ‘homenagem'”, diz. Até o fechamento deste texto, mais de 27 mil pessoas já curtiram a publicação de Tuca.
A princípio, a cerimonialista publicou uma nota oficial pedindo perdão pelas imagens publicadas e também tornou a conta do Instagram privada.
Agora, o site BuzzFeed informa que a cerimonialista apagou o pedido de desculpas. Segundo Lorena Machado, a nota foi apagada porque foi feita por um de seus funcionários e sem a sua autorização.
A cerimonialista também explicou que a festa está agendada para o dia 26 de maio e que está aguardando o posicionamento da família da garota para decidir o que vai fazer.
Mãe defende a filha
Em entrevista ao portal G1, a mãe da debutante disse que a filha não merece ser acusada de racismo e considera que a temática da festa foi mal interpretada.
“O racismo é uma acusação pesada. Em nenhum momento passou pela nossa cabeça menosprezar uma raça, tanto que em nossa família existem negros e índios”, disse a empresária Bianca Castilho.
“Precisam saber o que de fato se passa por trás da imagem, qual o real significado. A escravidão é algo que é fato, sabemos que ainda existe o racismo! E a foto foge do tema real da festa da debutante que é o imperialismo, ‘Jardim imperial’. É fácil criticar sem ter base acerca do assunto, pois é bem mais abrangente!”, disse a mãe.
A empresária disse que estuda processar a jovem que primeiro divulgou as imagens. “Podemos até processar a pessoa que começou todo esse movimento em desfavor do sonho em ter uma festa de 15 anos, que é o momento único para uma adolescente como a minha filha”.
O negro subalterno
A ativista negra Flávia Ribeiro não concorda com a mãe da debutante. Para ela, o episódio traz à tona a naturalização do preconceito racial e a negação da violência do momento histórico que escravizou milhares de africanos.
“É comum naturalizar o negro em posição de serviçal e reproduzir esse discurso, sim, é racismo. Está sendo retratada ali uma pessoa que foi sequestrada, obrigada a trabalhar e que passou anos nessa condição de não ser considerada uma pessoa. Essa é uma dor que durou por quatro séculos e esse povo carrega esse carga até hoje. Ela usaria alguém de um campo de concentração nazista na festa dela? Acho que não”, observa Flávia.
“Há esse mito da ‘boa escravidão’. É bonito ter uma mucama servindo a filha e os convidados. Mas não dá pra fazer uma festa com uma pessoa em condição de violência”, conclui a ativista.
Indignação
Nas redes sociais, muita gente repudiou a ideia da festa. “Escravidão não é tema de festa. Escravidão não é brincadeira. Escravidão é escravidão. Uma opressão aos negros. Morreram por querer liberdade. Escravidão não é brincadeira. Escravidão é escravidão”, escreveu um jovem.
Algumas pessoas ainda fizeram menção à morte da vereadora do Psol, Marielle Franco. “Mulheres pretas morrendo enquanto as brancas brincam de sinhá. #RacistasNãoPassarão”, publicou uma internauta.
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