Folha de S.Paulo alimenta desonestidade de José Padilha
Na Folha, mais um capítulo da desonestidade de José Padilha. Jornal exalta diretor e tenta desqualificar críticos da série que apresenta episódios comprovados de 'fake news'
Luis Felipe Miguel, Jornal GGN
A Folha de S. Paulo (alinhada ao PSDB) hoje dá a capa de seu caderno de variedades a reportagem intitulada “Esquerda critica Netflix por causa de série sobre Operação Lava Jato“. A matéria reproduz falas de Dilma Rousseff e entrevista José Padilha. As declarações do diretor são de uma incrível desonestidade. Destaco duas:
(1) Ele diz que a esquerda está reclamando de algo insignificante (a “licença ficcional” enviesada), sem falar do importante (a corrupção). Diz que “é como se alguém entrasse na sua casa, estuprasse sua esposa, amarrasse seu filho, roubasse um isqueiro. A esquerda quer discutir o isqueiro“. Mas ele sabe que seu seriado visa exatamente prejudicar as condições de disputar a narrativa da Lava Jato dominante na mídia corporativa. Esse é o efeito de atribuir a Lula falas de Jucá, de reposicionar na linha do tempo o escândalo do Banestado, de fazer de Márcio Thomaz Bastos advogado do doleiro, de atribuir a Dilma uma amizade com o diretor da Petrobrás que ela na verdade confrontou e demitiu. O efeito de criar mais uma barreira ao enfrentamento discursivo na classe média, que é o público potencial da Netflix.
(2) Ele diz que a segunda temporada vai trazer políticos do PSDB para o centro das investigações. Claro. Seu seriado é completamente descolado do calendário político e eleitoral. Essas questões nem passaram por sua cabeça.
Ao lado da matéria, uma coluna de “opinião“, assinada por um tal Tony Goes, desanca Pablo Villaça por ter anunciado que estava cancelando sua assinatura da Netflix. Tenta desqualificá-lo ao dizer que ele escreve no “site da revista Carta Capital (alinhada ao PT)” – certamente ele, na Folha, se sente num espaço apartidário. Mas o mais bacana é o final do texto: o cancelamento da Netflix prova que “setores da esquerda preferem se desconectar da realidade“.
Achei lindo. Uma plataforma de streaming é a “realidade“? Não custa lembrar que, embora a Netflix não divulgue dados, a estimativa é que mal alcance 10% dos brasileiros. Os outros todos estão fora da realidade? Ou é Goes que está fora da realidade, ao ser incapaz de sair do seu mundinho de classe média?
Em tempo: respeito quem cancelou a assinatura da Netflix. Não vai mudar a realidade, mas muitas vezes precisamos destes gestos simbólicos, até para afirmar nossa agência num mundo que tenta negá-la incessantemente. E respeito também quem não cancelou. Em tempos tão duros, é necessário manter alguma válvula de escape.
(E depois disso não vou mais falar do seriado de Padilha, porque não merece.)
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