Todo dia 8 do terceiro mês do ano recebo flores e cartões de parabenização pelo Dia da Mulher. Às vezes, penso em devolver os cartões, mas na maioria das vezes, apenas agradeço. Queria dizer que não quero flores. Eis o que quero:
Cristiane Alves, Jornal GGN
Todo dia 8 do terceiro mês do ano recebo flores e cartões de parabenização pelo Dia da Mulher. Quase nunca é pela história relacionada ao dia, pela luta e pelo sofrimento recrudescente.
Dia da mulher é dia de flores por sermos femininas, delicadas, lindas, por sermos mães, por procriarmos, por adotarmos, por sermos as que educam e por sermos merecedoras. Resta saber o motivo de um órgão reprodutor feminino nos tornar merecedoras de um dia memorial.
Às vezes, penso em devolver os cartões, mas na maioria das vezes, apenas agradeço e elogio (quando é verdade). Queria dizer que não quero flores, não pelos motivos que elenquei acima.
Me mandem punhos cerrados ao ar, me mandem relatos de coragem e superação, me mandem cards representativos de um grupo que merece mais e conquista esse mais a cada dia.
Tanto ainda para lutar. Tantas guerras ainda com o machismo que nos pertence e que precisamos exorcizar em nós, mulheres, que precisamos deixar de cultivar em nossos filhos, meninos e meninas.
Precisamos compreender que esse dia não é um presente masculino pela dádiva de terem lindas representantes do gênero feminino, tampouco é uma invenção feminina para mostrar aos homens que eles “não têm um dia mundial” ou que precisam de um “dia do homem”.
É um dia de choro, de morte e de luta. Um dia para mostrar que mulheres foram coisas e coisas descartáveis.
Dia para mostrar que não temos paridade de direitos, ao contrário, temos sobrecargas de cobrança.
Dia da Mulher não é dia para receber bombom ou jantar especial, não é um dia para o vazio ou o fútil. Nesse dia, mulheres morreram queimadas por ousarem exigir, reivindicar, gritar, andar, se mobilizar, lutar.
“Lugar de mulher é em casa”, “mulher tem que usar vestido”, “mulher não pode usar vermelho”, “mulher é tudo vaca!”.
O bombom, o jantar, o presente? Coma, usufrua, pegue e agradeça. Mas, exija tratamento com deferência todos os dias porque você é você.
Hoje, só hoje, pense no todo, pense em nós. Lute por nós
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