Cinema

“O Mecanismo” pode ser visto como uma comédia involuntária, diz constitucionalista

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“Um detalhe interessante é como a casa de políticos é sempre finamente decorada enquanto a dos juízes, procuradores e delegados são empobrecidas [...]”. As impressões de um professor de Direito Constitucional sobre "O Mecanismo", a nova série da Netflix baseada na Lava Jato

Pedro Estevam Serrano*, via Facebook

Acabei de assistir a serie “Mecanismo” .

Ainda deglutindo, mas deveriam retirar a referencia de ser o filme fundamentado em fatos reais.Em verdade é mais um mix de apologia a PF com fofocas de mídia , sendo alguns eventos acintosamente falsos,que passam longe dos fatos

Ao “ preferir um lado” o filme perde em complexidade, o cinema brasileiro ainda fica devendo um filme que realmente retrate o ocorrido em toda sua complexidade, talvez porque ainda estamos muito perto de tudo, tudo muito presente, sem o distanciamento que grandes obras ,sobre momentos históricos .exigem

Particularmente achei difamatória a forma como tratam a advocacia . Falar que o personagem que representa um grande criminalista , falecido e que não esta mais ai para se defender , é um “vendedor de falcatruas” me pareceu , além de muito injusto, uma agressão desnecessária e desmerecedora de todos que tem por oficio a defesa de cidadãos ante o Estado, tema , alias, não abordado nesta temporada , o que é um pecado imenso, parte significativa do meio jurídico e ativista critica os abusos ocorridos , a ótica do filme é profundamente autoritária, nesse aspecto

Os atores e os aspectos técnicos são melhores que o filme anterior .

Um filme na ótica da “nova direita”,que inicialmente ataca a esquerda e nos ultimos episódios ataca o Estado e a política .

Um detalhe interessante como a casa de politicos é sempre finamente decorada enquanto a dos juizes, procuradores e delegados são empobrecidas, estilo classe média baixa, o que nem de longe corresponde a realidade

Mesmo sob a ótica autoritária de direita, simplificadora do real, a série poderia ser melhor realizada como entretenimento . Para quem acompanhou os meandros do caso , salvo as grosserias, podera ser vista como uma comédia involuntária.

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*Pedro Estevam Serrano é Advogado, professor de Direito Constitucional da PUC-SP, mestre e doutor em Direito do Estado pela PUC/SP com pós-doutorado pela Universidade de Lisboa.

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