Tiros, pedras, ovos, chicote e a culpa é de quem?
As caravanas de Lula são atos de cidadania e amor. Classificar de "provocação" uma viagem que debate propostas em praças públicas, onde estão famílias inteiras, idosos e crianças, é fascismo
Claudia Motta, RBA
Durante dez dias, passando por várias cidades de três estados do país, cerca de 90 pessoas, dentre elas dois ex-presidentes da República, correram risco de vida. E muito pouco ou quase nada foi feito pelas autoridades “competentes”, apesar dos vários comunicados e cobranças públicas feitas em nome da segurança dos integrantes da Caravana Lula pelo Sul do Brasil.
Na primeira fase desse jogo perverso, as armas eram ovos que atingiram ônibus e manifestantes. Mas e se fossem pedras? Passamos para a fase 2, onde, além das pedras também havia bombas, chicotes e agressores de mulheres. E se na fase 3 desse videogame da ignorância houvesse tiros? Será? Tiros?
Lamentavelmente, no penúltimo dia da Caravana Lula pelo Sul, chegando à cidade do interior paranaense de Laranjeiras do Sul, os ônibus foram alvejados pelo menos duas vezes.
Esse texto foi escrito quando nós, os jornalistas que cobrem a viagem que atravessou Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, estávamos na estrada, finalmente escoltados, para poder chegar ao destino final, Curitiba.
A alguém que porventura ache graça, vou logo adiantando: isso só piora. A omissão das autoridades em relação à violência que perseguiu de forma covarde a caravana por praticamente todas as cidades onde ela passou pode atingir você e sua família um dia, quem sabe numa linda viagem de férias com suas crianças.
Não há provocação. O “crime” cometido por esse grupo de pessoas capitaneadas pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é viajar pelo Brasil para debater – com quem viveu na pele o que foi plantado pelas políticas públicas dos governos Lula e Dilma, o avanço do estado de miséria para o de dignidade social –, o que ainda precisa ser feito para o Brasil ser uma nação que se orgulhe dessa decisão.
Claro, há quem não concorde e nisso não há problema. Se o seu deus é o tal mercado ou se tem saudade do tempo em que havia mão de obra barata, quase escrava, em suas roças ou suas casas, é seu direito vociferar contra a caravana, estender faixas, classificar de vagabundos todos que avançam pelas estradas desse Brasilzão trabalhando mais de 12 horas por dia.
Mas, se ao saber que os ônibus da Caravana Lula pelo Brasil foram alvejados por tiros na estrada, sua reação foi de que isso era “merecido”, fique atento: você se aproxima do último estágio de selvageria social.
Classificar de “provocação” uma viagem que debate propostas em praças públicas, com livre participação popular, onde estão famílias inteiras, idosos e crianças, é uma forma de deixar evidente a falta de apreço pelo democracia.
Claro que ditadura nos olhos dos outros é refresco e você pode imaginar que, cidadão de bem que é, está livre dos tormentos desse arbítrio.
No entanto, a história ensina – àqueles que se interessam por conhecê-la – que fascismo se descontrola e, em algum momento, atinge fatalmente inclusive aqueles que o tomaram por opção.
A Caravana Lula é um projeto de cidadania, doação, carinho. É um ato de amor. Ela está onde o povo está porque isso é urgente e necessário, mais que nunca.
A desgraça que não ocorreu cada um de nós atribuiu à sua crença: podem ter sido as boas energias que emanam das famílias que entopem praças seja embaixo de chuva ou de sol; talvez Deus, ou deuses; quem sabe as velas e orações dos entes queridos para iluminar nosso caminho… pode ser tudo isso e mais um pouco.
Já a responsabilidade de o jogo do terrorismo conseguir ter avançado, até chegar às vias de fato e poder tirar vidas que sonham com um Brasil melhor, esses têm nome e sobrenome e certamente serão responsabilizados pela sociedade sadia que ainda podemos ser.
A caravana passa e segue.
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