Professor de direito e amigo pessoal de Edson Fachin publica desabafo nas redes sociais endereçado ao ministro do STF. O texto descreve uma trajetória de 42 anos de amizade e tem título forte: "Meu amigo morreu".
Wilson Ramos Filho, professor de direito da UFPR e amigo de Edson Fachin, publicou um desabafo nas rede sociais que, segundo pessoas próximas, foi dirigido ao magistrado.
Intitulado “Meu amigo morreu”, o texto não cita o nome de Fachin, mas descreve a trajetória de mais de 42 anos de amizade, desde o ingresso de ambos na universidade, em 1976. A publicação é do dia 5, quando o habeas corpus do ex-presidente Lula foi rejeitado no Supremo Tribunal Federal (STF) por 6 votos a 5.
“Apoiei-o quando quis ser nomeado, não sem antes enfaticamente desaconselhar”, escreveu Ramos Filho. “Dizia-lhe que aquilo iria acabar com a vida dele, que perderia a privacidade, a liberdade e teria que conviver com um monte de gente que nada tem a ver conosco. (…) Ele tanto fez que conseguiu. (…) E desse jeito ele morreu”.
Abaixo, leia a íntegra do depoimento:
Meu amigo morreu.
Entramos juntos na faculdade, em 1976. Fizemos política estudantil, perdendo todas as eleições. Rimos e choramos variadas vezes. Na vida é assim. Celebramos o nascimento de sua filha bem antes da nossa formatura.
Meu amigo, inteligência vivaz, sempre tinha uma tirada, um sujeito de espírito. Nunca nos afastamos. Ele foi ser advogado público, lecionava Civil. Eu, advogado trabalhista.
Tivemos muitas causas em comum, defendendo coletivos vulneráveis.
Por culpa dele, grande incentivador, voltei para a vida acadêmica sem abandonar as lutas sociais. Devo-lhe isso. Um grande sujeito.
Sempre houve reciprocidade, entretanto. Quando sua companheira precisou, eu era dirigente estadual da OAB. Na segunda vez deu certo. Fui de conselheiro em conselheiro por ela, não como favor. Ela tinha todas as credenciais e era a melhor opção.
Meu amigo queria ser magnífico, com maiúscula. Novamente me envolvi por inteiro na pré-campanha. Na última hora, achou melhor não disputar. Meu amigo não gostava de perder.
Fizemos viagens juntos, pelo Brasil, ao México, à Europa. Algumas vezes em casais, outras só os meninos, oportunidades em que esticávamos a prosa no bar dos hotéis. Eu adorava a sagacidade dele. Era um sujeito adorável sob vários aspectos.
Apoiei-o quando quis ser nomeado, não sem antes enfaticamente desaconselhar. Dizia-lhe que aquilo lá iria acabar com a vida dele, perderia a privacidade, a liberdade e teria que conviver com um monte de gente que nada tem a ver conosco. Sentia-se convocado. Quase como se fosse predestinado.
Ele tanto fez que conseguiu. Cumprimentei-o, explicitando que desta última vez, a em que ele foi escolhido, meu candidato era outro. Elegante, compreendeu. Era muito gentil esse meu falecido amigo.
E deste jeito morreu. Não posso dizer que foi surpreendente seu passamento. Já vinha dando sinais. Não foi uma morte súbita. Mas muito me entristeceu. A morte tem dessas coisas, ainda que esperada ao cabo de longa enfermidade ou ultrapassado o limite razoável de anos, deixa um vazio, um aperto no peito, uma angústia, sei lá. No fundo, até o último momento, ficamos com a irracional esperança de que a morte não ocorra. Morrendo, só restam as virtudes. Na morte é assim.
Morreu. Foi um grande amigo. Nunca mais riremos, choraremos, tomaremos vinho ou chimarrão. E já sinto saudades do meu finado amigo.
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