O que já aprendi com meu filho de quase 10 anos
Uma criança tem mais a ensinar aos adultos do que muita gente pensa. E é nossa obrigação obedecer. Eis as muitas lições que meu filho de quase 10 anos me ensinou
Paulo Amaral, HuffPost
Quem é pai tem boas chances de se identificar com o que vou tentar passar a vocês nas próximas linhas com a maior fidelidade possível. E quem não é, mas tem esse desejo, certamente tirará algum proveito da minha experiência vivida nesses (quase) 10 anos.
A paternidade não chegou muito cedo pra mim, mas, com o perdão do lugar-comum, posso afirmar que foi a realização de um sonho. Em todos os sentidos. O Giovanni nasceu em 6 de setembro de 2008, época em que eu tinha 37 anos e, desde então, minhas prioridades mudaram completamente.
Tudo o que eu e minha esposa fazemos na vida tem como objetivo principal garantir o futuro e, principalmente, a segurança do nosso único filho. Da hora em que acordamos ao momento em que fechamos os olhos, ele é nosso foco.
Sempre quis ter um filho antes dos 40 anos para, como gosto de dizer, não ser “avô“, e sim pai da criança. E confesso que, em muitos momentos durante essa década que se completará no início de setembro, aprendi mais do que ensinei ao Giovanni.
Aprendi, primeiramente, a dar valor às coisas simples, mas que acabamos nos esquecendo com a correria do dia a dia e com a perda da inocência, natural nas crianças. E nada é mais simples do que desejar um “bom dia” aos outros com um sorriso no rosto.
Não há uma manhã sequer que o Giovanni não levante da cama, desligue o alarme e grite, sem saber se estou no quarto, na cozinha, no banheiro ou ainda dormindo: “Bom dia, pai. Bom dia, mãe“. O simples gesto é suficiente para imaginar que o dia será, sim, bom, independentemente das dificuldades que eu tenha que encarar.
A rotina noturna também é sagrada para ele, que não fecha os olhos para descansar antes de fazer sua oração para o anjo da guarda, comigo, com a mãe ou com os dois ao lado dele e, depois de assistir a um pouquinho de seus desenhos favoritos na TV, gritar, já coberto: “Boa noite, pai. Boa noite, mãe. Amo vocês dois“.
As lições de amor não ficam restritas a nós, pais dele. Convivendo com o Gi não tenho como esquecer, em momento algum, da importância de respeitar e aprender com os mais velhos. O Gi teve pouco tempo de convivência com o avô paterno, mas o materno, embora não apareça sempre por São Paulo, é carinhoso, interessado e, claro, sempre recebido com enorme carinho quando vai em casa ou o leva para um passeio.
Se há algo que ensinei pra ele foi em relação aos animais. Como respeitar e tratar bem os bichinhos, não apenas os nossos 9 (5 cachorros e 4 gatos), mas também os dos amiguinhos e os que, infelizmente, vivem na rua. Eu ensinei, mas ele aperfeiçoou e me superou, conseguindo me passar calma nos (muitos) momentos de estresse que ‘herdei‘ ao ser dono de tantos cachorros barulhentos.
Espírito esportivo…no campo e no trânsito
Batizado com o nome do meu grande ídolo do futebol (e também por conta do sobrenome da minha mulher – Bongiovani), meu filho herdou meu amor pelo Santos, mas sem o mau humor que me acompanha cada vez que o time perde (e não são poucas).
Nas duas vezes em que me acompanhou ao estádio – uma vitória no Pacaembu e uma derrota na Vila Belmiro – ele não apenas se comportou como se estivesse em um ambiente familiar como me fez sair de perto da torcida organizada, pois achou que os palavrões estavam exagerados (inclusive os meus). Desde então, tenho conseguido assistir aos jogos em casa sem acordar nem os cachorros.
Para finalizar as lições que essa criança, quase pré-adolescente, me ensinou, está a mais importante: a de manter a calma naquilo que, em 47 anos, poucas vezes consegui – no trânsito de São Paulo.
Com apenas 3 anos, quando mal conseguia falar direito, o Giovanni me viu ter um verdadeiro surto ao ser cortado por alguém no trânsito. Depois de ouvir eu xingar a pessoa de tudo quanto é nome e ficar mais vermelho que um tomate, ele, com a voz chorosa e visivelmente assustado, falou suavemente: “Calma, papai. Por favor“.
Confesso que não virei um mar de calmaria dirigindo, principalmente quando ele não está no carro, mas consegui controlar esse instinto feroz que toma conta de mim quando estou no volante – e que minha mulher costuma comparar ao desenho do Pateta dos anos 60 – para evitar o que pode se transformar em uma tragédia nesse mundo cada vez mais maluco.
Por tudo isso, só posso dizer ao meu filho: obrigado por me fazer um ser humano melhor. Te amo pra sempre.
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