"Sua otária. Se você falar mais eu acabo com sua vida. Tinha que ter apanhado mais para aprender a ficar calada". Jornalista divulgou vídeo que rebate tentativa do deputado de se 'vitimizar'. Veja a denúncia da Procuradoria Geral da República contra Eduardo Bolsonaro
A Procuradoria Geral da República abriu denúncia contra o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL) por ter ameaçado a jornalista Patrícia de Oliveira Souza Lélis, sua ex-assessora, em julho de 2017.
A peça enviada pela procuradora-geral Raquel Dodge ao Supremo reúne reprodução de conversas entre os dois no Telegram, aplicativo concorrente do Whatsapp que tem entre suas principais ferramentas uma que permite a destruição automática das mensagens conforme período pré-estabelecido.
A operadora do telefone registrado nas conversas confirmou que ele está vinculado a Bolsonaro desde 12/12/2013. Raquel Dodge considerou ser ‘clara a intenção do acusado de impedir a livre manifestação da vítima, valendo-se de ameaça para tanto’.
A desavença pública entre os dois começou após Eduardo publicar em seu perfil no Facebook um desabafo a respeito de uma ex-namorada que, nas palavras dele, “trocou roupas recatadas por danças sensuais”, depois de ter rompido com ele para sair com um médico cubano. “Feminismo é uma doença”, escreveu o deputado.
Patrícia respondeu nas redes sociais que viveu uma relação afetiva abusiva com o deputado por três anos. Segundo ela, foi depois disso que eles trocaram as seguintes mensagens que embasaram a denúncia criminal:
(Eduardo) — Sua otária! Quem você pensa que é? Tá se achando demais. Se você falar mais alguma coisa eu acabo com a sua vida.
(Patrícia) — Isso é uma ameaça?
(Eduardo) — Entenda como quiser. Depois reclama que apanhou (sic). Você merece mesmo. Abusada. Tinha que ter apanhado mais pra aprender a ficar calada. Mais uma palavra e eu acabo com você! Acabo mais ainda com sua vida.
(Patrícia) — Eu estou gravando.
(Eduardo) — Foda-se. Ninguém vai acreditar em você. Nunca acreditaram. Somos fortes. Vai para o inferno, puta. Você vai se arrepender de ter nascido. O aviso está dado… mais uma palavra e eu pessoalmente vou atrás de você.
(Patrícia) — Tchau.
(Eduardo) — Vagabunda
(Patrícia) — Resolvemos na justiça. É a melhor forma
(Eduardo) — Enfia a justiça no cú
BOLSONARO TENTOU DELETAR MENSAGENS
No pedido para que a denúncia seja aceita, Raquel Dodge diz aos ministros que Eduardo Bolsonaro “era plenamente capaz à época dos fatos, tinha consciência da ilicitude e dele exigia-se conduta diversa”.
“Relevante destacar que o denunciado teve a preocupação em não deixar rastro das ameaças dirigidas à vítima alterando a configuração padrão do aplicativo Telegram para que as mensagens fossem automaticamente destruídas após 5 (cinco) segundos depois de enviadas. Não fossem os prints extraídos pela vítima, não haveria rastros da materialidade do crime de ameaça por ele praticado”, observou.
Para a procuradora, Eduardo Bolsonaro tentou desmoralizar Patrícia com agressões verbais: “A conduta ainda é especialmente valorada em razão de o acusado atribuir ofensas pessoais à vítima no intuito de desmoralizá-la, desqualificá-la e intimida-la (‘otária’, ‘abusada’, ‘vai para o inferno’, ‘puta’ e ‘vagabunda’).”
SAIBA MAIS
Em julho do ano passado, assim que o caso veio à tona, Eduardo disse ser vítima de uma montagem. “Nunca namorei, saí, beijei ou segurei na mão dessa pessoa. Por favor, alguém realmente acreditou nesse print montado?”. Relembre aqui.
A jornalista Patrícia Lélis divulgou em sua página no Facebook vídeos que mostram as mensagens trocadas com Eduardo Bolsonaro e rebatem a tentativa do deputado de se ‘vitimizar’:
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