Direita

A origem da principal peça de campanha difamatória contra Marielle

Share

Origem da calúnia mais famosa sobre Marielle suscita questão inescapável: como um rapaz, vinculado a uma rede de representantes políticos conservadores e/ou integrantes da bancada da bala, foi parar numa peça de campanha difamatória contra a vereadora assassinada?

por Rafael Batista, via Facebook

Algumas descobertas sobre as calúnias mais recentes contra Marielle:

Circula há alguns dias a mais do que canalha difamação sobre Marielle e seu falso matrimônio com Marcinho VP. A calúnia vem acompanhada de uma foto de duas pessoas sentadas em uma cadeira de bar azul. O homem seria Marcinho VP e a mulher, em seu colo, Marielle Franco. Não é preciso muito para se dar conta de que talvez a única semelhança entre Marielle e a respectiva mulher seja o branco dos olhos, o mesmo valendo para Marcinho VP e o festivo homem ao lado de uma garrafa de cerveja.

Acontece que não há novidade alguma no formato da calúnia. Há algum tempo, logo que um suspeito caso de violência policial passa a ganhar espaço midiático, uma máquina difamatória aparentemente anônima se levanta fabricando textos sem sentido junto a fotografias grosseiras com o objetivo de comprometer a imagem das vítimas.

Eduardo, do Alemão e Maria Eduarda, de Acari, com grande velocidade foram interpretados por dublês sem qualquer semelhança, estes portando armas e identificados como menores traficantes. Já Amarildo foi dublado: os mesmos policiais responsáveis por seu assassinato forjaram áudios vinculando-o ao tráfico na Rocinha. Seja no sentido de tentar resguardar a imagem da instituição policial através de mentiras, ou satisfazer interesses mais obscuros, a confecção sistemática de peças caluniosas desse tipo não parece estar associada a algum grupo de tiozões conservadores e raivosos, daqueles de mesa de Natal. Tanto as semelhanças entre o formato das calúnias desse tipo, quanto o modo de disseminação — são sempre as mesmas páginas e grupos de WhatsApp — dão a entender que se trata de algo mais organizado. Por quem? É fundamental não apenas se opor à disseminação dessas farsas, mas principalmente encontrar a fonte delas e entender quais interesses mobilizam essa atividade.

Voltando ao assunto inicial, ao ver a foto pela primeira vez, conjuntamente à repulsa, me surgiu a pergunta: quem são esses dois que, aparentemente flagrados em um churrasco, acabaram por ser elencados anos depois para retratar Marielle e Marcinho VP?

Pois bem, de acordo com o UOL, a imagem foi publicada originalmente em 2005, numa conta de Fotolog chamada KTAPUTAS_. Pela legenda e comentários é possível identificar que o nome do sujeito fotografado é Patrício e a imagem foi capturada alguns anos antes no cabaré da Jaqueline, localizado em Pau dos Ferros (RN). Notável a especificidade da foto, uma procurada rápida no Google não leva a uma postagem de 13 anos de idade num pequeno perfil do Fotolog.

KTAPUTAS_ era uma conta compartilhada entre amigos adolescentes festeiros da região de Alexandria (RN). Vasculhando um pouco mais, é possível descobrir que o Patrício da foto tem um irmão também chamado Patrício. O da foto é Neto e o outro é José. Aliás, assim como em Roma, os Patrícios do Rio Grande do Norte parecem constituir uma espécie de aristocracia: Patrício Júnior, pai de Neto e José, foi deputado estadual e deputado Constituinte de 1989, vindo a falecer em 2016. Alberto Maia Patrício, irmão de Júnior, tio de Neto e José, foi duas vezes prefeito de Alexandria pelo PP, até trocar de partido e se tornar presidente municipal do PMDB. Olga Fernandes, viúva de Patrício Júnior e mãe de Neto e José, é prefeita de Martins (RN) desde 2012 pelo DEM.

Enquanto Patrício Neto, o da foto, parece ter como única aparição política uma presença embriagada na festa de posse do tio Alberto na prefeitura de Alexandria, seu irmão Patrício José aparece em diversas fotos com correligionários da mãe Olga e do falecido pai Patrício Júnior. Dentre os marcados no Facebook, os mais badalados são o cacique José Agripino Maia, senador, presidente nacional do DEM e aparente padrinho político de Olga; Felipe Maia, deputado federal pelo DEM, filho de Agripino e conhecido integrante da bancada da bala; e Henrique Alves, atualmente preso, mas ex-ministro do Turismo nos governos Dilma e Temer. Orbitando em torno das notícias mais comuns sobre Olga também está Beto Rosado, deputado federal do PP e também da bancada da bala.

Confesso que por falta de recursos e tempo não fui capaz de aprofundar a pesquisa. Não é possível chegar a qualquer conclusão com que fui capaz de encontrar até agora. No entanto, por que justamente essa foto? Dada a dificuldade de se chegar até uma publicação de Fotolog tão específica, somada ao caráter igualmente específico do protagonista Patrício Neto, não parece uma escolha aleatória tal qual uma jogada de palavras-chave no Google Imagens, de modo que uma pergunta é inescapável: como esse sujeito, vinculado a uma rede de representantes políticos conservadores e/ou integrantes da bancada da bala, foi parar numa peça de campanha difamatória contra Marielle?

Seguem as imagens das pessoas mencionadas e, nos comentários, os links que me possibilitaram traçar as relações entre elas.

Leia também:
Por que Marielle Franco está sendo difamada depois de morta?
Vereadora assassinada é atacada por fascistas mesmo depois de morta
Ao vivo, Faustão comenta caso Marielle e alimenta ‘fake news’
Desembargadora espalha Fake News e chama Marielle de “cadáver comum”
Youtube é obrigado a remover 16 vídeos que caluniam Marielle Franco
A segunda execução de Marielle Franco

Acompanhe Pragmatismo Político no Twitter e no Facebook