Os guias espirituais mais preparados não cansam de dizer: o sistema de crenças humano atual é repleto de ilusões e crenças limitantes. Em outras palavras, a base de racionalidade terrena deverá cair nas próximas décadas
Marcos de Aguiar Villas-Bôas*, Jornal GGN
Seria muita arrogância de nossa parte supor ser possível saber como pensam os espíritos desencarnados que trabalham como guias, até porque cada consciência é um mundo à parte e os próprios guias podem divergir no seu modo de ver as coisas, porém, a partir de repetidos estudos dos Diálogos com os Espíritos, da leitura de muitas obras transmitidas por guias espirituais e da experiência prática quase diária de contato com eles em diferentes casas e trabalhos, é possível ter algumas diretrizes que podemos compartilhar com os leitores.
Os guias espirituais mais preparados, como aqueles que atuam na Umbanda, os quais passaram, em regra, por universidades de preparação e que continuam estudando rotineiramente, utilizam uma racionalidade muito distinta daquela dos encarnados, motivo pelo qual estes cometem inúmeros equívocos no momento de interpretar o que os seus guias buscam a partir de certas posturas, orientações, intuições etc.
Os próprios guias não cansam de dizer que o sistema de crenças humano atual é repleto de ilusões e crenças limitantes. Em outras palavras, a base de racionalidade terrena deverá cair nas próximas décadas e, quem sabe, muito já será abalado nos próximos anos pelo fato de estarmos em um momento muito especial da evolução deste planeta.
Um guia espiritual sábio, por estar fora do corpo físico e por ter se preparado para exercer esse trabalho, tem, em regra, a consciência bem mais expandida do que a dos encarnados. O fato de ele ter informações das quais não dispomos sobre os processos evolutivos dos subsistemas sociais onde vivemos torna sua capacidade de ver as coisas muito mais ampla.
Os guias também conseguem ver nos corpos dos encarnados o que eles vibram, o que eles precisam, para muito além daquilo que o encarnado quer esconder dos outros e até dele mesmo. Aqueles que querem ser o que não são enganam apenas a si mesmos e atrasam seu processo evolutivo, pois não é tanto o que ele externa o que estará contando em termos espirituais, mas o que ele vibra, e conectar-se com o que se é, seja luz, seja sombra, é parte importante do processo de trabalho das próprias sombras, que devem estar integradas à luz e sendo usadas para os fins desta.
Por todos esses fatores e por outros, os guias raciocinam de modo muito diferentes dos seus guiados. Ambos traçaram um programa encarnatório para aquele guiado com diversos compromissos de aprendizagem. Não se sabe previamente e detalhadamente de todas as circunstâncias concretas da encarnação, pois há certo livre-arbítrio para os encarnados, mas os guias já sabem com certa exatidão pelo que cada guiado deverá passar ao longo da vida e quais os objetivos de aprendizagem em cada ciclo.
O guia preocupa-se com a felicidade do seu guiado, até porque isso mantém o seu padrão vibratório melhor e lhe permite enfrentar as suas provas com altivez, porém o compromisso maior dele não é com a alegria diária do guiado, ao passo em que este, o encarnado, quer, mais do que tudo, estar alegre, o que ele quase sempre associa ao gozo material, à satisfação dos seus desejos, ao deleite das sensações.
Se os encarnados observarem, todos passam por ciclos de altos e baixos de curto, médio e longo prazo. As provas vão vindo e indo. As dificuldades aumentam e diminuem para que possamos aprender em cada fase. O segredo é não deixar a vibração cair demais quando as coisas apertam, nem se exaltar demais quando as coisas parecem melhores.
Alguns vivem achando que a vida está sempre ruim pelo fato de entrarem em padrões vibratórios baixos e insistirem neles, acomodando-se em vitimismos, carências, reclamações, invejas, sentimentos de raiva, mágoa etc. No entanto, se prestarem bastante atenção, volta e meia a espiritualidade nos dá algo para que possamos nos sentir um pouco melhores do ponto de vista mais egóico, que ainda é o que mais nos toca no sentido de nos fazer alegres.
O objetivo, contudo, é que não precise ser assim. O encarnado deve aprender a manter a paz, a felicidade, não importa qual seja a situação em que se encontre, conseguindo um estado de consciência desperta atento para o fato de esta terceira dimensão ser, acima de tudo, um ambiente de aprendizagem. Isso não significa comodismo, mas resiliência.
Por esse fato, os guias espirituais atuam em relação aos encarnados de forma a conduzi-los para esse estado de consciência. O objetivo deles, em primeiro, segundo e terceiro lugar, é fazer com o que o encarnado aprenda aquilo com que ele se comprometeu, e, segundo eles contam, os próprios encarnados cobram isso dos seus guias quando estão desdobrados durante o sono ou quando desencarnam.
Quando muitos encarnados passam por uma dificuldade, eles reclamam, querem que seja diferente. Ao se desdobrar, entretanto, muitos certamente dizem para os guias: “pode botar para quebrar”, “pode exigir“, “faça-me aprender ao máximo“. A consciência encarnada e a consciência liberta da matéria física pensam de modo muito diferente.
Se já acontece essa diferença de pensar, de raciocinar, de compreender com a mesma individualidade, em se tratando da própria pessoa encarnada, imaginem a diferença de raciocínio quando se compara os guias, que estão em estado contínuo de vivência no plano espiritual, e os encarnados no momento em que estão acordados e tão limitados pela densidade de energias da terceira dimensão, pelo seu corpo físico e pelas próprias ilusões e limitações que criaram ao longo de encarnações passadas e da presente.
Muitos encarnados têm dificuldades de entender os seus guias e ter maior consciência dos processos pelos quais passam pelo fato de racionalizarem o que vem dos guias como se viesse de um amigo encarnado. Vamos a alguns exemplos singelos, dentre muitos outros que poderiam ser citados.
Se o guia faz um elogio a um encarnado, ele pode estar querendo fazê-lo perceber que aquilo alcançado foi importante, que deve ser mantido e até desenvolvido. Dificilmente, um guia vai falar algo para agradar. Consciências despertas emanam sua verdade, apenas vibram amor. Elas não procuram ser boazinhas, não agem fora do que acreditam para agradar o encarnado, nem querem falar coisas apenas para tocar o ego do outro.
Ser bom e íntegro é diferente de ser bonzinho, agradável. Ser bom é emanar o amor de dentro, ser íntegro é ser quem se é, com luz e sombra integradas. Ser bonzinho e agradável é buscar satisfazer aos outros, desconectando-se de si para atingir expectativas alheias e ser aceito. Ser bom e íntegro é estar lúcido, consciente. Ser bonzinho e agradável é estar no ego e com a autoconfiança fragilizada.
Se o guia faz um elogio a um encarnado, contudo, ele também pode estar querendo levantar sua moral, pois aquela pessoa tem pouca autoconfiança e precisa disso. Quando um guia faz um elogio a um encarnado em público, ele pode estar querendo ver como a vaidade dele e a inveja dos demais irão reagir.
Não se enganem, amigos leitores, tudo o que vem dos guias tem uma ciência por trás, tem preparações feitas com nós mesmos, mas das quais não lembramos agora. É tudo muito mais profundo e complexo do que parece.
Se o guia faz uma crítica ao encarnado, muitas vezes pode estar querendo mostrar que algo não anda bem e que, seguindo um determinado caminho, poderá melhorar. No entanto, pode também ter por trás um fim de ver quão ofendido o encarnado irá ficar ou pode ter o intuito de irritar o encarnado para que ele tome uma atitude necessária ao seu curso de aprendizado naquele momento, como colocar algo reprimido para fora, como sair de uma casa espiritual que não está mais no caminho dele, dentre diversas outras intenções.
Os guias estão trabalhando o ego dos encarnados a todo momento. É uma grande ilusão achar que eles atuam da forma egóica humana ou que fariam, falariam coisas que normalmente os próprios encarnados utilizam para agradar os egos dos outros. É até esperado que o indivíduo menos empático e consciente projete no outro aquilo que ele faria, então é bastante compreensível que os encarnados interpretem o que vem dos guias por meio do sistema de crenças próprio, que induz a compreender aquilo por meio da pergunta: “Qual a intenção eu teria ou um professor meu teria ou alguém que gosta de mim teria ao fazer ou dizer isso?”
A própria semântica do termo guia já nos conduz a perceber que alguém nos conduz. Ainda que sejam amigos espirituais, eles não agem como os amigos da Terra. O aprendizado e o programa estão muito acima da satisfação do ego que os encarnados em geral buscam.
Esse tema é palpitante e voltaremos a falar sobre ele em muitos textos. Por enquanto, é importante perceber a enorme relevância que tem o programa Diálogo com os Espíritos e muitos outros que vêm veiculando a palavra dos guias para estudo dos encarnados. Ali podemos entender melhor como eles raciocinam, quais tipos de críticas eles têm às nossas ilusões e limitações.
Há estudos muitos mais profundos no Diálogo com os Espíritos do que apenas tirar curiosidades a partir das perguntas e respostas. Ali é possível ir acessando a racionalidade dos guias, com suas diferenças e semelhanças, levando-nos a perceber o que eles, como consciências muito mais despertas, mas não super-heróis, querem para nós e, assim, podemos chegar mais perto do que nós mesmos, enquanto consciências mais libertas no desdobramento ou após o desencarne, temos como objetivos para nossa encarnação. Estar muito no ego é ruim porque significa ir contra o que nós mesmos, enquanto espíritos, queremos para nós.
Creio que é impossível termos uma consciência tão desperta ao longo da encarnação como um guia espiritual nosso tem, mas há duas formas de se aproximar mais desse grau de lucidez e de “acertar” na encarnação: a primeira é sentindo cada vez mais com o coração as orientações verbais e intuitivas que eles nos dão e agir como eles sugerem, deixando o ego mais quietinho, sob direção do chamado Eu superior; a segunda é estudando cada vez mais o que os guias dizem nos inúmeros veículos de informação hoje existentes, passando o conhecimento pelo coração e vivendo-o na prática.
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*Marcos de Aguiar Villas-Bôas é terapeuta holístico, consultor jurídico e político, espiritualista universalista, reikiano usui, reikiano xamânico, estudante de psicanálise e de Programação Neurolinguística (PNL), praticante de meditação e amante do todo e de todos. Deixou a sociedade de um dos cinco maiores escritórios de advocacia do país, sediado em São Paulo/SP, para seguir seu sonho de realizar pesquisas em Harvard e em outras universidades estrangeiras, mas, após atingir muitos dos seus objetivos materiais, percebeu, por meio da Yoga, de estudos e práticas espiritualistas sem restrições religiosas, que seus sonhos e suas missões iam muito além das vaidades acadêmica e profissional. Hoje busca despertar a consciência, o mestre dentro de si, e ajudar os outros a fazerem o mesmo, unindo o material e o espiritual e superando todas as demais dualidades.
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