"Quem nunca deu um tapa no bumbum do filho e, depois, se arrependeu?". Jair Bolsonaro ironiza divulgação de documento secreto da CIA que comprova a política de execuções de opositores autorizada pelo alto escalão da ditadura militar brasileira. Outros presidenciáveis comentaram o caso
Jair Bolsonaro comentou a descoberta de um memorando secreto da CIA que trata das atrocidades autorizadas pelo alto escalão da ditadura militar brasileira.
Pré-candidato ao Palácio do Planalto, o deputado ironizou o documento. “Quem nunca deu um tapa no bumbum do filho e, depois, se arrependeu?”, disse Bolsonaro, em entrevista à Rádio Super Notícia, de Belo Horizonte.
Capitão reformado do Exército, o deputado relacionou a divulgação da informação à sua campanha, dando a entender que a denúncia teria sido feita para atingir a sua pré-candidatura às eleições de outubro.
Outros presidenciáveis comentaram as informações contidas no documento da CIA. A pré-candidata do PcdoB ao Planalto, Manuela D’Ávila, afirmou que os documentos revelados perturbam todos que têm “uma história de luta pela memória e a verdade dos tenebrosos anos da ditadura militar”.
“As provas de que a cúpula do regime, Médici, Geisel, Figueiredo, estiveram diretamente envolvidos nos assassinatos dos ‘subversivos’ que ousaram desafiar o regime é uma verdade grande demais para seguir encoberta. Precisamos insistir na busca da verdade e do paradeiro daqueles que foram torturados, mortos e desaparecidos com a autorização e a cumplicidade do Palácio do Planalto”, escreveu.
Por meio de nota, o Centro de Comunicação Social do Exército informou que “os documentos sigilosos, relativos ao período em questão e que eventualmente pudessem comprovar a veracidade dos fatos narrados foram destruídos, de acordo com as normas existentes à época”. O governo Temer, por sua vez, disse que não vai comentar o caso.
Barbárie
Nesta sexta-feira (11), o último coordenador da Comissão Nacional da Verdade (CNV), o advogado Pedro Dallari, classificou como “estarrecedor” o memorando secreto da CIA que revela autorização do ex-presidente Ernesto Geisel para execuções de opositores ao regime militar no Brasil.
Pedro Dallari afirmou que as Forças Armadas no Brasil deveriam “reconhecer responsabilidade institucional pelo que houve no passado”.
O documento sobre Geisel, de 11 de abril de 1974, foi elaborado pelo então diretor da CIA, William Egan Colby, e endereçado ao secretário de Estado dos EUA Henry Kissinger.
Tornado público recentemente pelo governo americano, o documento foi revelado nesta quinta-feira (10) pelo pesquisador Matias Spektor, da Fundação Getulio Vargas (FGV).
O memorando relata um encontro entre Geisel, João Batista Figueiredo, então chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI), e os generais Milton Tavares de Souza e Confúcio Danton de Paula Avelino, ambos na ocasião no Centro de Inteligência do Exército (CIE).
O general Milton Tavares, segundo o documento, disse que o Brasil não poderia ignorar a “ameaça terrorista e subversiva”, que os métodos “extra-legais deveriam continuar a ser empregados contra subversivos perigosos” e que, no ano anterior, 1973, 104 pessoas “nesta categoria” tinham sido sumariamente executadas pelo Centro de Inteligência do Exército”.
De acordo com a documentação, Geisel “disse ao general Figueiredo que a política deve continuar, mas deve-se tomar muito cuidado para assegurar que apenas subversivos perigosos fossem executados”.
Para Dallari, o memorando confirma conclusões a que a Comissão Nacional da Verdade tinha chegado no relatório final, no qual os cinco presidentes da República no período militar são apontados como responsáveis por violações aos direitos humanos durante o regime.
“É um documento estarrecedor, sem dúvida nenhuma, porque descreve com minúcia uma conversa que evidencia práticas abjetas e que um presidente da República com sua equipe tratou do extermínio de seres humanos”, afirmou Dallari.
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