"Não é só pelo preço dos combustíveis, é por intervenção militar e contra os comunistas". Em diversos grupos fechados dedicados a greve dos caminhoneiros, extremistas de direita tentam influenciar os rumos do movimento e a reação de apoio impressiona
A BBC Brasil revelou que teve acesso a grupos fechados destinados a compartilhar informações sobre a greve dos caminhoneiros no WhatsApp. Nesses canais, foi observado um crescente aumento do discurso de extrema-direita com o intuito de ditar os rumos do movimento grevista.
Em um vídeo divulgado nos grupos, um homem manda o seguinte recado em frente a uma impressora industrial que mostra centenas de adesivos prontos para serem colados nos vidros dos caminhões:
“Oi, galera. Sou caminhoneiro, estamos juntos aí na greve e estamos fazendo adesivos para colar nos nossos carros, nos dos colegas e nos de todo mundo que apoiar essa greve. Intervenção militar já. Se a gente não tirar eses corruptos do poder, a gente não vai para frente, não.”
Em outro vídeo, um motorista grita: “Representando o caminhoneiro brasileiro, o transportador de carga. Aqui tem brio, aqui tem sangue. Estamos parando São Paulo, parando o Brasil e indo para Brasilia destituir os três poderes corruptos. Intervenção militar já. O povo está cansado de sustentar estes corruptos. Aqui é patriota.“.
A greve organizada por caminhoneiros extrapolou sua pauta inicial, concentrada na exigência da redução nos preços dos combustíveis, e vem ganhando vozes em apoio à intervenção militar, vindo tanto de dentro quanto de fora do grupo.
“As reações à greve dos caminhoneiros, amplamente apoiada pela população, demonstram que o brasileiro está sem paciência alguma com as ‘autoridades’. As condições são ideais para uma verdadeira revolução que refunde o Brasil. Mas onde está a liderança desse processo? Escrevam no para-brisa dos caminhões e carros. Intervenção militar!“, diz uma das mensagens mais aplaudidas.
Em um grupo influente no Facebook — o “Caminhões Top (Só Elite)” –, um motorista publicou um brasão do Exército e convocou os colegas.
“Temos uma grande chance em nossas mãos de aproveitar esta greve para pedir intervenção militar, nova constituinte, e novas eleições sem os comunistas, e junto com esta intervenção a caçada a todos estes ladrões que estão no governo (…) O exército entraria em ação em uma semana, vejam, podemos estar a uma semana do fim desta roubalheira toda, está em nossas mãos, quem apoia compartilha e curte.”
A reação de apoio impressiona: “A situação que o Brasil está hoje era para o exército já ter tomado de conta dos poderes”, dizia um. “A nossa bandeira jamais será vermelha.”
Através da porta-voz Carolina Rangel, a Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam) se manifestou sobre os discursos pró-intervenção militar:
— Acredito que a intervenção militar seja uma bandeira levantada por alguns caminhoneiros porque essa pode ser a alternativa que eles veem para sanar esses constantes casos de corrupção no país. Mas não posso dizer que a Abcam apoia a intervenção. Se o caminhoneiro X, Y ou Z acredita que a intervenção é o melhor caminho, a gente aceita. A gente não tolhe o direito de manifestação política de ninguém, é liberdade de expressão. Não temos ligação com nenhum partido político, nem com o MST, nem os pró-Lula, nem os Fora Temer. Não temos nenhuma ligação ou envolvimento político dessa natureza. A nossa insatisfação reflete a da população como um todo. Apesar de grande parte dos brasileiros não abastecerem seus carros com diesel, que é o nosso pleito específico, todo mundo está sendo onerado com o aumento dos combustiveis e com a inflação em geral. É até bom saber que os caminhoneiros que estão na ponta estão levando a politica da Abcam de não ter vínculo com partido politico, ou com a CUT, ou o movimento dos sem-terra. Não levantamos nenhuma bandeira, a não ser a do transportador autônomo, que é reduzir impostos e preço do combustível.
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